Consciência negra: o racismo e os imbecis

.Por Ricardo Alexandre Corrêa.

Nada mais oportuno do que um texto direcionado àqueles que insistem em desconstruir a importância do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Para tanto me vem à lembrança de uma das passagens da obra “Pele Negra, Máscaras Brancas” do intelectual antilhano Frantz Fanon “Há imbecis demais nesse mundo”, escreveu o autor. Concordo.

(foto janine moraes – minc – div)

Exemplo disso são os críticos que sempre se opõe a qualquer movimento que busque a valorização da população negra, e os argumentos utilizados denunciam a imbecilidade presente que lhes caracterizam. Nesse grupo encontramos pessoas negras tentando forjar uma identidade que os afastem da descendência africana, e pessoas brancas elaborando discursos que ignoram a existência do racismo. Em ambos os casos existe o consenso de que a comemoração da Consciência Negra é uma forma de discriminação com a população branca, confirmando a ridícula tese do “racismo reverso”.

Essa tese até poderia encontrar sentido se tivesse sido os brancos europeus arrancados da própria pátria e vítimas da escravidão sob o comando dos negros africanos. Quem sabe nessa situação surgisse um líder em algum quilombo, em São Paulo seria simbólico, organizando a luta contra o regime escravagista. No entanto, esse enredo inexiste, pois foram os negros as vítimas da atrocidade colonial comandada pelos portugueses por quase quatro séculos, e sofrendo violências em inúmeros aspectos. Como disse o escritor cubano Carlos Moore “O negro não tem poder de ser racista em nenhum lugar, mesmo se fosse possível. Racismo negro não é nem possível porque os negros não podem reinventar a história.”1

Zumbi dos Palmares, ícone da resistência negra, surgiu nesse contexto oferecendo esperança concreta de liberdade e vida digna à população escravizada. Muitas rebeliões aconteceram e os escravizados fugitivos buscavam refúgio no Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga; naquela época, Capitania de Pernambuco. Liderados por Zumbi, o quilombo foi uma comunidade livre que resistiu por quase um século.

Por muito tempo a comunidade sofreu diversos ataques que foram sufocados pelos quilombolas, mas no dia 20 de novembro de 1695, a mando da coroa portuguesa, Zumbi dos Palmares foi capturado. O herói teve a cabeça decapitada e exposta em praça pública.

A comemoração da Consciência Negra busca rememorar o legado heroico de Zumbi, e estimular reflexões acerca das condições que estão colocadas no cotidiano dos negros. Não há dúvidas de que a discriminação e o preconceito racial continuam presentes, e as formas de violência contra a população negra assumiram novas características. Essa situação faz da vigilância uma premissa, e a luta pela cidadania, demanda inadiável. Assim, a celebração da Consciência Negra é um movimento consciente que supera a qualquer discussão imbecil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei 12.519 de 10 de novembro de 2011. Institui o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Disponível em: < ttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato201
1-2014/2011/Lei/L12519.htm. Acesso em: 10 nov. 2019.

FANON, Frantz.Pele negra, máscaras brancasBahia: Editora Edufba, 2008.

SANTOS, Joel Rufino dos. Zumbi. São Paulo: Ed. Moderna, 1985

1 PORTAL GELEDÉS. Carlos Moore sobre a teoria do racismo ao contrário. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/carlos-moore-sobre-a-teoria-do-racismo-ao-contrario/>. Acesso em: 13 nov. 2019