Um gráfico elaborado por Fernanda de Negri, do Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) deixa claro como o processo brasileiro do Golpe de 2016, governo Temer (MDB) e governo Bolsonaro (PSL) estão estrangulando o financiamento da Ciência brasileira.
A ampliação do financiamento foi uma conquista que ocorreu gradativamente durante uma década dos governos petistas de Lula e Dilma. Após o golpe de 2016, começa o processo de estrangulamento que deve terminar agora com o fim do Ministério da Ciência e Tecnologia. Na queda vertiginosa da Ciência, o governo Bolsonaro deve destinar em 2020 para a Ciência brasileira o mesmo valor de 20 anos atrás, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), representando talvez o maior retrocesso da história da ciência brasileira. Veja gráfico:

Reportagem de Herton Escobar, do Jornal da USP, relata a articulação do Ministério da Educação (MEC) para tomar conta do CNPq e tirá-lo do Ministério da Ciência e Tecnologia.
O CNPq será submetido à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o que conferiria ao MEC controle financeiro sobre grande parte da ciência produzida no Brasil, dentro e fora das universidades. E continua:
A fusão “seria um desastre para o sistema de financiamento à pesquisa no Brasil”, segundo Marcio de Castro Silva Filho, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), presidente da Sociedade Brasileira de Genética (SBG) e presidente do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação (Foprop). “Na verdade, a Capes engoliria o CNPq”, avalia ele. “São agências diferentes, com missões diferentes, que operam de forma diferente. Não tem como juntar as duas coisas.”
“Não há dúvida de que a fusão será um caos para ambas as agências, com prejuízos tanto para a pesquisa quanto para a pós-graduação”, reforça o pesquisador Glaucius Oliva, professor do Instituto de Física de São Carlos da USP e ex-presidente do CNPq. O argumento de que a junção proporcionaria uma otimização de recursos, segundo ele, “é absolutamente falacioso”. “Trata-se, estritamente, de uma disputa de poder; uma ação predatória do MEC para canibalizar o CNPq e impor uma agenda ideológica dentro da ciência brasileira.”
Sem CNPq e Finep, a existência do próprio ministério seria colocada em xeque, segundo especialistas. “Vejo que um desdobramento natural desses processos seria o fim do MCTIC”, diz o cientista político Luis Manuel Rebelo Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, que já foi secretário-executivo do ministério, presidente da Finep e hoje integra o Conselho Superior da Capes. “Tudo isso me preocupa enormemente.”
As ações propostas, segundo ele, representam “efetivamente um desmonte” do sistema nacional de ciência e tecnologia — que tem na tríade CNPq-Capes-Finep a sua espinha dorsal há mais de meio século. “É um sistema exitoso e muito bem consolidado, que perpassou diversas mudanças de governo”, destaca Fernandes. “Claro que sempre há espaço para melhorias, e cada governo pode dar a sua respectiva ênfase, mas nunca houve antes uma proposta de desestruturação do sistema.”
“É o fim das agências, o fim do ministério e o fim da ciência no Brasil”, decreta a pesquisadora Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e também membro do Conselho Superior da Capes.
Veja reportagem completa de Herton Escobar no Jornal da USP
Discover more from Carta Campinas
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




