Greve pelo clima: um planeta pedindo socorro
.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.
Neste 20 de setembro de 2019, milhões de pessoas em todo o mundo estão mobilizadas em defesa do planeta na “Greve Mundial Pelo Clima”. Ao contrário do que muitos alegam, este não é um movimento apenas da esquerda, jovens, verdes ou de ambientalistas.
Na verdade, organizações de todos os setores, inclusive grupos empresariais e financeiros, aderiram ao movimento que busca chamar atenção para um fato objetivo: se nada for feito nos próximos anos, talvez não reste mais tempo para a sobrevivência da sociedade.
Falar hoje em salvar o planeta é cada vez mais uma utopia. Tamanha é a degradação causada pela ação antrópica, que os ecossistemas naturais já estão no limite da sua capacidade de suporte. É exatamente por isto que o Painel Internacional Sobre Mudanças Climáticas fala em “políticas públicas de adaptação”. Pelo menos nas próximas gerações, não existe uma perspetiva de retorno às condições ambientais de um século atrás.
O que é possível fazer, e isto já demonstra a gravidade do problema, é mitigar os impactos, reduzir a velocidade e a intensidade das alterações do clima, impedir a continuidade do aquecimento global e, principalmente, adotar medidas que evitem situações trágicas como as observadas em Moçambique ou nas Bahamas, entre 2018 e 2019.
Neste primeiro momento, as grandes vítimas da poluição ambiental e das mudanças climáticas são, como sempre, os mais pobres, localizados em regiões com baixa infraestrutura, menor acesso aos serviços públicos e altamente dependentes da agricultura.
Furacões, tufões, enchentes, secas intensas, são apenas parte dos problemas enfrentados pelo setor primário, especialmente de subsistência. A perda da qualidade nutricional dos alimentos, pelo empobrecimento do solo, e as dificuldades para frutificação de algumas plantas, em razão ausência de polinização, são outros tão graves e crescentes. O uso intensivo de agrotóxico e de adubo, além de incêndios e queimadas, são parte da narrativa de condutas criminosas que contribuem para a emissão de gases-estufa.
Entretanto, a crise ambiental mostra um folego ainda maior e já causa incidentes graves nos grandes centros econômicos. O aumento de internações e mortes em virtude do calor são contínuos na Europa e nos Estados Unidos. Centenas de bebês recém-nascidos morreram na Grã-bretanha em face do calor excessivo no verão de 2018. Secas e incêndios florestais não escolhem a estética do patrimônio.
Pesquisa realizada pela Lancet entre 2017 e 2018, em mais de 500 cidades, inclusive nos países centrais, foi identificado que nenhuma cidade pesquisada possui condições para enfrentar os impactos crescentes das mudanças climáticas, especialmente nos seus sistemas de saúde. Os conflitos por água, comida e por território seguro se espalham por todos os cantos.
A verdade é que o tema das mudanças climáticas já faz algum tempo entrou na agenda pública, embora as ações em muitos países ainda sejam pífias. Faltam políticas efetivas de distribuição, para evitar um aumento ainda maior dos danos nos países em desenvolvimento e o desenho nacional já não responde aos anseios de uma crise que é global.
As medidas lunáticas impostas pela nova direita no Brasil e nos EUA contribuem para aumentar o sinal de alerta. Se no mundo da ciência até os céticos reconhecem que os países não podem ficam parados diante da ameça das mudanças climáticas, pois há necessidade de políticas de adaptação, alguns se apegam a paranoias nacionalistas e messiânicas para bloquear o enfrentamento da crise, num misto de oportunismo, ignorância e incompetência.
No entanto, aderir à Greve Global pelo Clima é um imperativo. Além disto, a mobilização social não pode mais ficar presa apenas a datas. Ações concretas são necessárias. O tempo corre acelerado num jogo totalitário e a omissão política pode significar o fim de qualquer alternativa.
Sandro Ari Andrade de Miranda é advogado e doutor em Ciências Sociais