Como parte da programação do 9º Encontro e Feira dos Povos do Cerrado, realizado em Brasília, pesquisadores e ativistas participaram de um debate sobre a atual situação do bioma, principalmente da perspectiva da preservação socioambiental – ou da falta dela.
Por parte dos pesquisadores, as falas se concentraram na fragilidade do cerrado e sua ausência no debate público. Donald Sawyer, pesquisador que acompanha o cerrado há 50 anos e integrante do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), qualificou a região como “bioma invisível”.
“Preocupa muito a intensificação dos problemas. Bem como a ausência ou descontinuidade de soluções para o bioma mais atacado e menos amparado. A preocupação global com o fogo na Amazônia apagou o cerrado. A Amazônia é importante, mas o cerrado também”, comparou.
Sawyer explicou que o desmatamento no cerrado, quando comparado com o amazônico, é “menor em termos absolutos, mas é maior em termos acumulados”.
Ou seja, o tamanho das áreas desmatadas no cerrado é menor, mas – dado que o bioma é duas vezes menor que a Amazônia e que quase metade dele já foi devastado – seu peso e impacto proporcional são maiores. Para ele, dada a conjunta política, caberá aos ativistas pressionar prioritariamente governos estaduais e municipais, buscando também cooperação internacional.
Anne Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), entidade que faz parte da iniciativa MapBiomas, corroborou essa visão, apontando que nos últimos 34 anos a taxa de desmatamento do cerrado foi a maior do Brasil.
“Nos últimos anos, o cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil, 56% do cerrado é coberto por vegetação nativa. Isso representa quase 20% da vegetação no Brasil. O cerrado perdeu mais vegetação nativa em termos de taxa. O aumento da agricultura de larga escala foi maior”, afirmou com base em dados de geo-referenciamento coletados pelo MapBiomas.
O último ponto trazido por Alencar, a agricultura de larga escala, se desdobra em uma forte correlação nos dados: no período mencionado, o cerrado perdeu 29 milhões de hectares de terras nativas, enquanto ganhou 28 milhões de hectares destinados a atividades agropecuárias. (Rafael Tatemoto – Brasil de Fato)
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