O governo brasileiro está apostando em uma receita neoliberal, de linha autoritária, que não deu certo em lugar nenhum do mundo e tem poucas chances de dar certo no Brasil. A receita é semelhante a praticada pela argentina nos últimos 4 anos e que colocou o país vinho de joelhos novamente diante do Fundo Monetário Internacional.
O ministro da Fazenda, Herman Lacunza – do governo Maurício Macri, da Argentina -, está ainda a renegociação do pagamento da dívida da Argentina com o FMI. No ano passado, a Argentina recebeu um empréstimo de US$ 57 bilhões. A primeira parcela deveria ser paga, a princípio, em 2021, mas o governo Macri já avisou que está difícil de pagar. “A Argentina não tem um problema de solvência, mas de liquidez a médio prazo”, afirmou Lacunza. A declaração ocorre um momento em que os mercados temem que o país se torne inadimplente.
Em 2006, durante o governo do ex-presidente Lula, o Brasil conseguiu pagar o FMI, fez reservas cambiais nos governos Lula e Dilma e não se sujeitou mais às regras do banco. Mas a receita do ministro de Bolsonaro tem tudo para levar o Brasil ao mesmo caminho da Argentina. A avaliação é de economistas em reportagem de André Barrocal, sobre o caminho Guedes-Bolsonaro. Veja trecho abaixo
O Conselho Federal de Economia apela por uma agenda mínima pró-crescimento e desenvolvimento, com o investimento público no centro. Apoio à construção civil, através de obras de infraestrutura, e ao comércio. São áreas com potencial para dar trabalho e salário a quem mais precisa, os sem qualificação. Na classe E, o desemprego vai pelos 30% e, na D, por 17% (o geral é de 12%), estima o Bradesco. “Nenhum empresário vai investir sabendo que não há quem compre. A política econômica está tão destrambelhada que a única salvação possível, se é que há, tem de pensar no cenário externo, é repor alguns conceitos básicos. O que faz qualquer nação do mundo quando está em recessão? Aumenta o investimento público, o investimento em infraestrutura”, diz Wellington Leonardo da Silva, presidente do Conselho. “Você não vai sair dessa armadilha do neoliberalismo extremo do Paulo Guedes sem retomar alguns conceitos básicos da economia.”
Esse neoliberalismo acaba de levar a Argentina a se ajoelhar diante do Fundo Monetário Internacional. Depois de arrancar 57 bilhões de dólares para não quebrar, Mauricio Macri declarou moratória e pediu ao FMI novos prazos para pagar dívidas de curto prazo. “O governo (brasileiro) aposta num liberalismo econômico que ninguém mais no mundo defende, com privatizações, abertura comercial”, afirma o deputado Marcelo Ramos, do PL do Amazonas, que comandou a comissão da reforma das aposentadorias. “O Paulo Guedes faz tudo pelo sistema financeiro, que está matando a indústria. É um fanfarrão.” Uma palavra capaz de definir o sentimento, em relação ao ministro, da economista-chefe de uma dessas empresas do sistema financeiro por quem Guedes se guia, Zeina Latif, da XP. Em uma reunião em 16 de agosto, em São Paulo, ela estava preocupada. A economia patina, o governo ficará sem dinheiro e Guedes fala, fala, fala feito Bolsonaro, e só.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o secretário de Política Econômica de Guedes, Adolfo Sachsida, dois liberais radicais, já admitiram, de forma meio tortuosa, que o gasto público pesa mais na economia do que supunham. E Guedes? Dobra a aposta neoliberal. Acaba de dizer em um evento que sua fórmula para crescer é “vender, vender e vender” estatais. E seguir com as reformas. Para um economista brasileiro professor na Universidade de Londres, Guedes é dono de um “autoritarismo econômico e de ‘mercado’”. Para a delegação ao “mercado” dar certo, diz Alfredo Saad Filho, “é preciso autoritarismo político: sem repressão, o ‘mercado’ não funciona”. É assim surge a simbiose Guedes-Bolsonaro na atual fase mundial do neoliberalismo, a autoritária.
Texto completo na Carta Capital.