Poderá ser vista até o dia 27 de setembro, na Galeria de Artes do Goma – Arte e Cultura, em Barão Geraldo, a exposição ‘Totaltorta’, de Luiza Zelada.
Luiza Zelada (São Paulo, 1995 ) é artista visual e educadora, formada em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, em São Paulo. Desde 2014 realiza projetos e exposições coletivas na cidade de São Paulo. Com sua primeira individual, Totaltorta, inaugurada em Abril de 2019, trabalhando a imagem, seus desdobramentos e potências, a artista chega à Galeria de Artes do Goma Arte e Cultura, com curadoria de Mathias Reis.
As várias peles de Luiza Zelada por Mathias Reis
“Por muito tempo olhamos para o corpo como limite e para a pele como seu invólucro, uma casca na qual vivemos dentro. As paisagens são cenários pelos quais ela é arrastada, objetos são utensílios de sua manutenção, pessoas e animais são outras cascas, uma lida inacessível de experiências com o exótico. Há um velho ditado repetido como mantra no qual “a minha liberdade termina quando começa a do outro”, mas posto em outros termos: não ouse colidir sua casca com a minha, cultivemos sentimentos como numa panela de pressão, a uma distância segura de se confundirem. O eu é como um sótão empoeirado, uma fortaleza que guarda coisas de ‘valor’, como aqueles objetos esquecidos que supostamente um dia serão úteis. É também uma transcendência pela imortalidade, pois a metafísica do eu tem um nome a ser lembrado para sempre e quem sabe, batizar uma rua.
Em todo seu sarcasmo, dizia Burroughs que ‘você tem sua múmia e faz dela sua cova passaporte, entretanto, você continua sua existência nas terras ocidentais’. Não deixa de ser curioso como a morte do ego é sempre anunciada junto à busca pelo eu interior. Por sorte, temos artistas como Luiza Zelada que nos propõe ligar o ventilador, abrir todas as janelas, olhar pra fora e deixar o sol entrar.
A questão colocada pela artista passa por uma afirmação do corpo, mas enquanto uma caótica de peles, total torta, transformações sucessivas com a paisagem e com os ambientes que encontra. O corpo é algo que se enuncia entre as relações de movimento geradoras de resíduos, estes, compõe uma paisagem com a qual a artista lida na criação de sua expressão poética.
Em deslocamento, as plantas, roupas e pertences perdem sua referência formal para tornarem-se peles da artista, desafiando qualquer limite de sua extensão. Suas imagens nos convidam a perceber esses fragmentos de cotidiano como um quebra-cabeça efêmero de múltiplos corpos e materialidades: uma liberdade que se potencializa pelas relações vivas e infindáveis com o mundo.
Quando olhamos para seus trabalhos de monotipia (gravuras de tiragem única), não vislumbramos indícios de um passado ou de uma memória como se fossem a casca de uma cigarra deixada para trás. Essas peles já se apresentam como combustíveis de outras velocidades compondo com nossas experiências, as deformando e criando peles cada vez mais abrangentes”.
Texto e Curadoria: Mathias Reis
Arte gráfica: Luiza Zelada
Abertura sábado dia 14/09 a partir das 19h. Visitação até dia 27/09, de terça a domingo das 14h às 22h. Galeria de Artes, Goma – Arte e Cultura: Av. Santa Isabel, 518 – Barão Geraldo, Campinas. Evento gratuito.
(Carta Campinas com informações de divulgação)