A CPI das universidades públicas instalada na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) sem objetivo específico está se tornado uma CPI das Ciências Humanas. Nesta segunda-feira, 09, as deputadas Carla Morando (PSDB), sub-relatora da CPI, e Valéria Bolsonaro (PSL) questionaram o investimento em pesquisas “sem aplicabilidade e retorno econômico imediato” e apontaram em especial as pesquisas nas áreas de humanas. Não é a primeira vez que o questionamento às humanidades acontece na CPI das universidades.
As deputadas também pediram detalhamento de dois projetos de pesquisas. Um deles, na área de Educação, que segundo a deputada Valéria Bolsonaro é realizado nas escolas municipais de Campinas há mais de 20 anos. “Nunca vi resultados práticos sobre ele”, disse a deputada que é professora na rede municipal da cidade. E o outro uma tese sobre o papel do Comitê de Ética nas atividades de pesquisa na Unicamp.
Em reposta, o pró-reitor de Pesquisa da Unicamp, professor Munir Salomão Skaf, explicou a importância da pesquisa científica em todas as áreas e níveis de atuação da universidade. Skaf apontou que a pesquisa científica e acadêmica provoca impactos na sociedade que são sentidos em pelo menos três níveis: o intelectual, pela geração de novos conhecimentos que tornam a sociedade mais sábia; o social, que provoca transformações que tornam a sociedade melhor e, por fim, o econômico, com a geração de riquezas, produtos, processos e empregos.
Com relação às pesquisas nas áreas de humanas, Skaf lembrou que elas estão na base de formação do conhecimento da sociedade. “Se eu deixar de aplicar em humanidades, para onde vai a educação, a educação básica, a formação de ensino, a licenciatura? (…) História e literatura não é essencial para o ser humano? Sou um profundo defensor da evolução do conhecimento e a área de humanas é extremamente importante”, respondeu ele.
Skaf explicou para as deputadas que as pesquisas realizadas pela própria universidade que, aparentemente sem aplicabilidade imediata, geraram ao longo do tempo novas pesquisas que deram origem a patentes importantes e até a abertura de empresas incubadas na Unicamp e que hoje exportam serviços para vários países.
Skaf lembrou que a pesquisa é um dos focos da Unicamp, desde sua criação em 1966. Apesar de ser uma universidade jovem, foi apontada como a número três da América Latina, no último ranking internacional, e está entre as 300 mais importantes do mundo. “Existem cerca de 35 mil universidades no mundo e estar entre as 300 ou 400 mais importantes, significa que você está no topo, está entre as 1,5% mais importantes”, indicou.
A Unicamp é também a universidade que tem a média mais alta do país em artigos publicados. Nas últimas três décadas, a universidade saltou de cerca de 300 a 400 artigos de docentes publicados por ano para os mais de 4500 atuais.
Na área de pesquisa, relatou Skaf, são analisados mais de 1300 projetos por ano, com recursos vindos dos órgãos de incentivo à pesquisa – como CNPq e Fapesp – e também de empresas publicas e privadas. Entre essas últimas, ele citou a Petrobras, IBM, Vale, Eletrobras, Braskem e várias gigantes do ramo farmacêutico como Roche, Bayer e Roche, entre outras.
A universidade entra com os pesquisadores, a estrutura e os equipamentos e os órgãos de apoio à pesquisa e as empresas com os recursos financeiros. A Unicamp entra com recursos financeiros mínimos, por intermédio da Faepex, um fundo de apoio com recursos do Orçamento da universidade.
Atualmente, de acordo com gráfico (imagem acima) apresentado pelo professor, os recursos de pesquisa da universidade estão assim distribuídos: 33% para a área de Biomédicas, 27% para as áreas tecnológicas, 20% para Exatas e outros 20% para Humanas.
O pró-reitor também disse que o detalhamento das pesquisas questionadas pelas deputadas será encaminhado aos deputados. (Com informações da ADunicamp)