.Por Susiana Drapeau.
Nas últimas semanas, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), além de falar muito em cocô, voltou a atacar o PT. Bolsonaro pode até ser o que você quiser, mas na política não é tão burro quanto parece.
O ataque ao PT voltou mais acentuadamente nas últimas semanas, com a continuação das denúncias do The Intercept Brasil. Bolsonaro sabe que setores de centro gostam do ataque ao PT e nos momentos que sentir qualquer mínimo isolamento, ele vai para cima do PT. A possível vitória do peronismo na Argentina já o ameaça e ele radicaliza contra o PT.
Ele pode morrer afocado, mas evitará que o PT suba no barco. Ele sabe que o antipetismo está encrustado no MPF, no Judiciário, na grande mídia e em boa parte da população. Essa ladainha vai durar anos.
Se essa toada continuar até as próximas eleições, o PT e Lula tendem a cair na mesma armadilha que caíram em 2018. Amparados por analistas de estatísticas, o PT e Lula olharam para o meio copo cheio e acharam que poderiam ganhar as eleições. Mas o problema estava na metade vazia.
O copo meio cheio eram os 30% de votos que qualquer candidato do partido tem chance de obter com o apoio de Lula, por mais desconhecido que seja. Nenhum partido hoje no Brasil consegue tal poder de voto no início de uma campanha eleitoral. E isso acontece mesmo nos momentos mais intensos do fascismo antipetista.
Mas o que era esse copo meio vazio? Era todo um momento histórico do MPF, do Judiciário, dos militares, da grande mídia, do legislativo e da própria população, que impedia, mesmo com o copo meio cheio, ter grandes chances de vencer as eleições.
O problema é que o próprio Lula e o PT não enxergaram isso e foram incapazes de estabelecer uma aliança de evitar que o Brasil estivesse na situação “dramática” que está atualmente, como bem disse Angela Merkel.
Para muitos eleitores históricos do PT, isso se tornou evidente na campanha eleitoral de 2018 e procuraram outro candidato como alternativa. Mas o copo de uma alternativa de esquerda sem o PT é praticamente vazio. Daí o esgoto vem à tona.
Como disse recentemente Flávio Dino, em entrevista à Agência Pública, não se constrói nenhuma alternativa progressista democrática e popular no Brasil sem o PT, e não se constrói contra o PT, porque é o maior partido da esquerda brasileira nas últimas décadas. Perfeito!
Essa é a primeira premissa importante para entender o meio copo vazio, é a premissa de quem está do lado de fora do PT. A segunda só pode sair do PT, que seria algo assim: apesar de ser o maior partido político da esquerda brasileira, o momento histórico dificulta uma vitória nacional. É preciso construir uma alternativa. Se quisermos realmente combater o fascismo e ajudar o povo brasileiro, é preciso ceder.
Se o PT não ceder não há qualquer problema para o partido. Ele poderá ser derrotado e demorar 12, 16 ou até 20 anos para voltar ao poder. Mas é provável que volte se o fascismo não triunfar no mundo. O problema maior vai ser nosso, do povo brasileiro que conviverá com o fascismo.
O PT não precisa fazer autocrítica dos governos Dilma e Lula que, apesar de erros (como todos nós cometemos), foi infinitamente melhor do que todos os outros passados. Essa autocrítica não tem muita importância. O PT precisa fazer autocrítica do processo eleitoral e do entendimento do momento histórico. Essa vale a pena.
Bolsonaro e os grupos fascistas vão até o fim dos tempos atacando o PT, vão tentar manter o antipetismo vivo até o osso e a qualquer custo. A grande questão é se o PT será capaz de dar um drible ou se ficaremos 20 anos aguardando um novo governo que melhore as condições de vida da população.
O processo eleitoral, para todos os partidos progressistas, precisa começar pela reaproximação com suas bases e os movimentos populares e a partir daí, o consenso de um programa mínimo. Como pretendia Frei Beto, fazer a inclusão da maioria mais pobre como beneficiária de bens públicos. Promoção do Desenvolvimento e da Justiça. Sem Justiça também não haverá Saúde e Paz.
Mas precisamos de uma justiça apartidária, imparcial e menos fascista, ou melhor, sem nada de fascismo!