Fascistas fazem chacota do assassinato do senhor Luiz Ferreira da Costa!
.Por Marcela Moreira.
Não. Não está fácil. Você posta indignada que um senhor foi atropelado e assassinado por lutar. E 36 pessoas curtem sua postagem com “carinha” (emotion) de “graça”. Acharam engraçado que uma pessoa perdeu a vida lutando.
Não escrevo esse desabafo a elas. Elas já perderam sua humanidade. Elas reconhecem dignidade e humanidade somente nos seus. O ódio impera no lado de lá. Escrevo aos “nossos”. Todos que ainda se indignam. Todos que choraram na quinta-feira (18), que se sentem fracos e impotentes vendo o fascismo assolar, dia a dia, as políticas públicas conquistadas com luta, suor, lágrimas e sangue. Não desanimem!
A História mostra que os vencedores são os que mantêm sua humanidade, o carinho, o afeto e o amor. Mesmo que derrotados momentaneamente, nossa vitória está no processo, nas construções afetuosas.Estamos tristes e cansados. E não é vergonha reconhecer o momento difícil em que vivemos em nosso país.
O discurso de ódio legitimou a violência cotidiana. Embruteceu pessoas próximas, que, por imaturidade política ou desonestidade intelectual, defendem o indefensável. Nesse momento sentir nojo e asco é mecanismo de defesa para que não caiamos na insensibilidade. Para que não desistamos de lutar.
Todo dia é um ataque novo. Um absurdo novo. E temos que defender o óbvio. Ou o que acreditávamos ser óbvio: que somos irmãos e devemos respeitar as diferenças. Que Deus ou fé alguma defendem “matai o próximo”, mas apenas “amai o próximo como a ti mesmo”, porque defender um país justo e humano tornou-se motivo para sermos atacados.
O ódio perpetra porque “cidadãos de bem” sempre foram privilegiados e nunca aceitaram que pretos, mulheres, LGBTQIA+ ousassem não mais voltarem silentes para a senzala, para casa ou para o armário. O nome disso é luta de classes. De forma escancarada e transparente, ela bate em nossa cara. E nesse momento é importante não termos dúvidas de que lado estamos. Manter a espinha ereta, por mais difícil que seja e manter nossos sonhos .E se tiver difícil, peça ajuda.
Nesses 20 anos de militância, nunca senti tanta necessidade de abraçar, tomar café e comer bolo com os nossos. Para aquecer e acalentar nossos corações. Precisamos nos manter na resistência. A esperança é que um dia o projeto de justiça social sairá vencedor. Mas para isso precisamos manter nossa sanidade, saúde e solidariedade vivos. Nenhuma maldade dura para sempre. Reúnam-se com seus amigos de fé e riam, gargalhem, se divirtam.
Eles odeiam nossa felicidade que valoriza o encontro. Que valoriza afetos. Eles nunca entenderão isso. Estamos do lado certo da História. Sorria. Ame. Encontre. Leia livros. Abrace. Cante no chuveiro. Dance. Ouça aquela música preferida. Assista suas séries. Precisamos manter essas pequenas felicidades cotidianas, aquelas que definem quem você é para que não deixemos nossa alma adoecer. Mantenha-se vivo e não se deixe abater.
E mais, faça coisas no coletivo e para o coletivo. Participe das manifestações. Sigamos juntos. Juntos e na resistência. Sonhando e nos fortalecendo. Como disse o poeta: “eles passarão. Nós, passarinho”
A morte de Luiz Ferreira da Costa
Na quinta-feira (18), manifestantes da Ocupação Marielle, em Valinhos, protestavam contra a prefeitura, por falta d’ água. Na manifestação pacífica, pediam para os motoristas reduzirem a velocidade do carro, entregavam alimentos produzidos no acampamento, sementes e um folheto pedindo que a prefeitura de Valinhos garantisse água para os acampados. A pessoa da caminhonete deliberadamente jogou o veículo em cima dos manifestantes, feriu Carlos Tavares que está hospitalizado e matou o senhor Luiz Ferreira da Costa, de 72 anos.
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Marcela Moreira – professora de sociologia e presidenta do PSOL/Campinas.
Marcela, mil louvores a seu libelo impregnado de indignação e solidariedade ao próximo. Compactuo com tudo que relata e é sempre reconfortante ouvir outros que não se omitem frente às infâmias e injustiças. Mas sinto-me cada vez menos cidadão, já que a voz da razão, da ciência, da fraternidade ecoa cada vez menos e os mecanismos de reação mais e mais escassos. Sinto-me impotente, embora reaja sempre.
Que pesadelo!
Beleza Marcela! Luiz presente!