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‘Adeus, Palhaços Mortos’, da Academia de Palhaços, se inspira na obra do dramaturgo romeno Matei Visniec

Três grandes artistas circenses do passado acidentalmente se reencontram depois de muitos anos na antessala de uma agência de empregos. Eles sabem que só um será escolhido. Nesse dia, suas amizades, memórias, segredos, pequenezas e vilanias serão expostos, criando, dessa maneira, uma ode ao ofício do ator e uma profunda reflexão sobre os fundamentos filosóficos da carreira artística.

(Foto: Victor Iemini)

Essa é a temática principal do espetáculo Adeus, Palhaços Mortos, da companhia teatral Academia de Palhaços, que será encenado na próxima sexta-feira (12) e sábado (13), às 21h, no Teatro Municipal Castro Mendes, em Campinas. A entrada é gratuita (os ingressos serão distribuídos uma hora antes de cada apresentação).

“Adeus, Palhaços Mortos é uma experiência estética para refletir a urgência da arte, a obsolescência do ofício e a ironia da sobrevivência. Para tirar o espectador de um lugar entediante e de meio-termo. Ame ou odeie. É uma busca radical por maravilhar-se. Uma experiência dialética entre o conteúdo angustiante e uma visualidade e sonoridade impactantes”, resume a atriz Laíza Dantas, que divide a cena com Paula Hemsi e Maurício Schneider.

As apresentações, que contarão com audiodescrição e intérprete de libras, integram o Programa Petrobras Distribuidora de Cultura, uma seleção pública com foco no segmento de circulação de peças teatrais não inéditas que apresenta a diversidade da linguagem teatral brasileira para os públicos de todo o país. Além de Campinas, a Academia de Palhaços passará por Belo Horizonte (MG) e Florianópolis (SC) com a encenação do espetáculo e a realização de atividades formativas.

A peça, inspirada na obra do dramaturgo romeno Matei Visniec, marca a consolidação da parceria artística entre a companhia e o diretor José Roberto Jardim, que já trabalharam juntos em diversas ocasiões e configurações, mas que, pela primeira vez, encaram-se como elenco e diretor. O espetáculo recebeu o prêmio Shell de Melhor Cenário, o Prêmio Aplauso Brasil de Melhor Espetáculo de Grupo e o Prêmio de Melhor Direção pela Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (Prêmio APTR). A montagem representou o Brasil no Festival World Stage Design 2017, em Taipei (Taiwan), e nos Festivais Internacionais de Trabzon e Antália, ambos na Turquia.

A Academia de Palhaços foi fundada por atores oriundos do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Em 2019, comemora 12 anos de uma trajetória de pesquisa e produção teatral continuadas. A companhia deu início a uma investigação cênica sobre o palhaço de picadeiro brasileiro e, nos 10 espetáculos produzidos até o momento, transitou pelo universo do ator popular. Cinco desses espetáculos foram realizados sobre uma kombi-palco em um projeto de teatro itinerante.

Em 2015, essa kombi pegou fogo e teve queimados os cenários, figurinos, palco e equipamentos de som e iluminação. Diante dessa catástrofe, que reduziu anos de trabalho literalmente a cinzas, a companhia viu seu próprio fim. Dois de seus integrantes desistiram do teatro. Dispostas a seguir com o trabalho, restaram as artistas Laíza Dantas e Paula Hemsi, que tiveram de lidar com o inevitável fim, assim como enfrentaram o recomeço e a mudança de ciclo.

“Diante da necessidade de nos reinventar, convidamos o diretor José Roberto Jardim justamente no intuito de reler nossa trajetória artística a partir de outras lentes. Afinal, Jardim trabalha numa perspectiva estética bastante distante da pesquisa da companhia, tendo seu olhar voltado ao teatro contemporâneo, suas performatividades (quando o ato da fala implica na realização simultânea pelo locutor), porosidades, fundamentos e raízes”, conta.

José Roberto Jardim respondeu ao chamado da companhia trazendo o texto Um Trabalhinho Para Velhos Palhaços, de Matei Visniec, que trata justamente de três artistas circenses diante do fim de suas existências, de suas carreiras e da Arte. Uma metáfora perfeita para catalisar artisticamente o momento de fim/recomeço da Academia de Palhaços e seus atores.

Essa empreitada entre a companhia e o diretor reúne também uma premiada equipe de criadores: Tiago de Mello, o diretor musical, é um dos expoentes mais profícuos da música experimental eletroacústica do Brasil; o cenário e as vídeo projeções ficaram a cargo do Coletivo BijaRi, um grupo de arquitetos, artistas plásticos e videomakers especializados em instalações e mapping. Já o figurino foi criado e desenhado pelo estilista Lino Villaventura e o visagismo tem a assinatura do ator Leopoldo Pacheco.

“As imagens e os vídeos que compõem essa videocenografia variam entre imagens da trajetória artística da Academia de Palhaços, embasando um tom de docfic em que a história dos bastidores se mistura com a da ficção, até imagens abstratas que criam esse imaginário de um cubo vivo e reativo, que enquadra os diálogos nostálgicos e competitivos desses palhaços. Essa videoinstalação criada pela Bijari provoca uma visualidade fora do comum, que, aliada à trilha, à interpretação e à luz, causa uma desestabilização no espectador que está absorvendo a unidade desses elementos”, explica Laíza.

O espetáculo

O texto original de Matei Visniec conta a história de três palhaços velhos num tom de comédia do absurdo, ao melhor estilo de seu conterrâneo Eugène Ionesco. Já a adaptação assinada pelo diretor José Roberto Jardim essencializa o texto, universalizando muitas de suas questões, deixando suas contradições mais aparentes e o transformando num ácido mergulho existencial sobre o fazer artístico. A encenação potencializa ainda mais a adaptação ao reduzir elementos, apostando no minimalismo e na essencialidade, traços marcantes da assinatura de Jardim como diretor.

“Cada cena é um recorte num espaço-tempo descontínuo e fragmentado. São fotogramas vagando nas memórias individuais e coletivas daquela trupe circense. São vozes do passado ecoando em busca de algum sentido” destaca o diretor José Roberto Jardim. O espectador, ao ser impactado pela violência dos deslocamentos espaço-temporais, é convidado a um passeio pelas questões que movem esses velhos artistas desde seu passado de glória até seu inevitável futuro. “Propusemos uma experiência sensorial que transita entre o abismo da morte e a devoção de uma vida voltada à Arte e que, portanto, mira a imortalidade”, conclui a atriz Paula Hemsi. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Sinopse

Três grandes artistas circenses do passado acidentalmente se reencontram, depois de muitos anos, em uma agência de empregos. Eles sabem que só um será escolhido. “A sala de espera desse teste de casting – que nunca acontece – revela-se um não-lugar, um limbo onde essas três figuras se veem condenadas a rever suas escolhas éticas e estéticas, num exercício infinito de reflexão sobre a resiliência do artista, a urgência da Arte e a sacralidade do ofício”, conta a atriz Laíza Dantas.

FICHA TÉCNICA

Texto Original: Matei Vişniec

Direção e Adaptação: José Roberto Jardim

Elenco: Laíza Dantas, Paula Hemsi e Maurício Schneider

Direção Musical: Tiago de Mello

Músico ao Vivo: Murilo Gil

Cenografia e Vídeo-Instalação: BijaRi

Figurino: Lino Villaventura

Visagismo: Leopoldo Pacheco

Iluminação: Paula Hemsi e José Roberto Jardim

Design de Sistema de Operação: Laíza Dantas

Produção Executiva: Tetembua Dandara

Produção Local: SIM Cultura

Coodenadora Administrativa: Camila Alves

Coordenação de Produção: ADP e Ultravioleta_s

Fotografia: Victor Iemini

Espetáculo Adeus, Palhaços Mortos, da Academia de Palhaços

Quando: Sexta-feira (12) e sábado (13), às 21h

Onde: Teatro Municipal Castro Mendes (Praça Corrêa de Lemos, s/n, Vila Industrial, em Campinas | SP)

Quanto: Entrada gratuita (os ingressos serão distribuídos uma hora antes de cada apresentação)

Classificação Indicativa: 12 anos

*Todas as apresentações contarão com audiodescrição e intérprete de libras.

Informações: www.academiadepalhacos.com

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