Pesquisadores gastam 33% do tempo prestando contas ao governo ao custo de R$ 9 bilhões

Acusados de fazerem ‘balbúrdia’ nas universidades pelo ministro da Educação do governo Bolsonaro, os pesquisadores brasileiros vivem uma realidade bem diferente. Um estudo realizado em 2017 e divulgado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) estima que pesquisadores brasileiros perdem, em média, cerca de 33% do seu tempo preenchendo formulários, pesquisando preços, pedindo notas fiscais, fazendo prestação de contas e outras chatices administrativas, que são exigidas por normas, pela legislação ou por agências governamentais de financiamento.

(imagem marcos santos – jornal da usp)

O engenheiro Fernando Peregrino resolveu fazer as contas de quanto isso custa ao Brasil. Resultado: prejuízo de R$ 9 bilhões por ano, considerando todos os dispêndios públicos e privados em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil em 2016 — ano de referência para o cálculo. Peregrino é presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), e diretor executivo da COPPETEC, fundação de apoio à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Só na esfera federal, o prejuízo foi de R$ 3 bilhões. Para se ter uma ideia da ordem de grandeza, isso equivale à soma dos orçamentos do CNPq e do FNDCT naquele ano (R$ 1,3 bilhão e R$ 1,65 bilhão, respectivamente); e ao orçamento atualmente disponível para investimento em pesquisa pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações em 2019 (R$ 2,95 bilhões).

“É um desperdício inaceitável”, disse Peregrino ao Jornal da USP. “Eu vejo isso todos os dias no meu trabalho; é torturante”, completou.

Ele lembra que a grande maioria dos cientistas brasileiros trabalha em universidades e institutos públicos de pesquisa e que, portanto, o tempo perdido com a burocracia não representa apenas um atraso de vida para eles, mas um desperdício de dinheiro público para toda a sociedade.

A pesquisadora Lygia da Veiga Pereira, do Instituto de Biociências (IB) da USP, em São Paulo, conhece bem essa “tortura”. “A gente é cientista, mas tem de virar contador”, diz.

Além do tempo perdido com papelada, os pesquisadores precisam lidar com a demora para importação de reagentes, amostras, equipamentos e outros materiais indispensáveis que não existem no Brasil e podem levar de dois a três meses para chegar aos laboratórios — comparado a dois ou três dias nos países desenvolvidos. Em resumo, os pesquisadores brasileiros vivem uma verdadeira balbúrdia burocrática. (Carta Campinas com informações do Jornal da USP)


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