Hoje tem Brasil versus Investidor do Neymar
.Por Giba Soares.
O Catar é o país com o maior PIB per capta do mundo. Tendo uma população pouco maior que a de Sergipe numa área que é metade desse menor estado brasileiro, possui grandes reservas de gás natural e em menor proporção de petróleo. É da grana desses gás e petróleo que vêm o salário que Neymar usa inclusive para pagar viagens internacionais e hospedagens a paqueras.
Resgatei trecho de um texto de 2017 do Roberto Moraes, professor da IFF (Instituto Federal Fluminense):
“(…) Na tabela dos dez maiores fundos soberano do mundo, eu destaquei o que estava em 2016, em nono lugar: QIA (Qatar Investment Authority). Um fundo controlado pelo governo do Qatar, (…). Como é comum nestes casos, os fundos soberanos possuem fundos-filhotes, com objetivos setoriais e que são instalados em outros países, onde os impostos são menores, Suíça, Irlanda, etc. Assim, o QIA criou o Qatar Sports Investments (QSI), com sede em Doha, na Suíça, para investimentos na área de eventos, esportes e lazer.
Pois, bem, é exatamente o QIA/QSI quem bancou a transferência do jogador Neymar do Barcelona, para o clube francês PSG. Ao investigar este processo, é interessante observar que o QIA é também proprietário da empresa de aviação Qatar Airways que é o principal patrocinador do Barcelona. Então, no caso pode-se considerar que a título de propriedade e direito de passes, seria uma transferência quase que interna dentro do capital, dos donos dos fundos.
O QSI/QIA dirige diretamente o clube PSG através do Nasser al Khelaifi, oriundo da família catariana Al Thani. Antes da ida de Neymar para o PSG este já arrecadava € 542 milhões. O QSI/QIA também é dono do canal esportivo BeIN que tem os direitos sobre o campeonato francês que agora terá ainda maior valor após ser efetivada a maior transação do futebol mundial com a transferência de Neymar.
(…) Assim, é possível afirmar que trata-se de um movimento do capital entre suas frações. Ela nasce de uma base material extrativa e se transforma em capital financeiro, permitindo neste movimento de enorme fluidez – sobre as fronteiras desreguladas dos Estados-nações e com o uso fácil do sistema financeiro infodigitalizado e mundializado – o acesso a outras frações do capital (eventos, produção imobiliária, etc.) na busca de maiores lucros e novas acumulações. (…)”
Não estou de forma alguma insinuando que o Neymar esteja sujeito a pressões de seus contratantes para um mau desempenho nesse jogo, até porque uma goleada é o resultado esperado entre uma seleção que nunca participou de uma Copa do Mundo contra aquela que participou de todas e é a maior vencedora da competição.
Nacionalismo não é o forte de um país onde a grande maioria da população é de estrangeiros e em muitos casos vivendo em situação semiescrava. E uma grande comemoração nacional por um resultado diferente desse não fará o emir do Catar mais absolutista do que já é (e os EUA ainda não demonstraram interesse em aplicar a “democracia” nesse país que, apesar de não ser um dos mais alinhado na região, tem ajudado especialmente com bases militares).
Como disse o professor Roberto Moraes, o investimento em Neymar foi buscando maximizar lucros, espera-se retorno com esse investimento. Quando o petróleo acabar, espero que os investimentos nos novos neymares não sejam feitos por riqueza oriunda de uma base de submissão e exploração de mão de obra, no caso do Catar respectivamente de mulheres e estrangeiros.
A riqueza gerada na exploração do petróleo mantém um emirado absolutista onde as mulheres devem usar burcas (por maior que seja minha tolerância religiosa não consigo dissociar isso de machismo) e leis preveem punições corporais.
A poupança desses combustíveis é quem detém o campeonato de futebol num país que já foi um império, se desenvolveu, laicizou, gerou Simone de Beauvoir e uma lei anti-burquíni. O jogador onde foi mais investido dinheiro do petróleo se envolve com uma conterrânea num escândalo sexual, onde por vezes o caso aparenta liberdade sexual e liberdade de denúncia, por outras machismo, linchamento midiático, prostituição, chantagem. Neymar, sua acusadora e nós brasileiros precisamos nos decidir se buscaremos seguir a filosofia francesa ou o petróleo catari.
Giba Soares, é ex-petroleiro e radialista.
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