.Por Eduardo de Paula Barreto.
Pronunciar-me-ei em versos
Dedicados à doce Marcela
Apoiar-me-ei nos transversos
Ferros desta inóspita cela
Em cujas sujas paredes
Escrevo estes verbetes
Com estas mãos que tremem
Também desenho corações
Enquanto ouço as multidões
Gritando: Dentro Temer!
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Lembro-me dos seus lábios
Beijando minha boca murcha
E dos seus dedos cálidos
Esticando minhas rugas
E das vezes que com ternura
Guardou minha dentadura
No seu copo preferido
E de quando com toda calma
Trocou as minhas fraldas
Fazendo cosquinha no umbigo.
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Também lembro-me com carinho
De quando brincávamos de médico
E você fazendo aviãozinho
Enchia minha boca de remédios
Me fazendo dormir a noite toda
Até acordar sem a touca
E com remelas monumentais
Então você escondia o Viagra
Dizendo que assim evitada
Os efeitos colaterais.
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Aguarde-me minha amada
Logo sairei deste calabouço
E na escuridão da madrugada
Morderei o seu lindo pescoço
E você me conduzindo pela mão
Me acomodará num frio caixão
Enquanto o Sol iluminar o Cosmo
E esperarei até que algum ministro
Ressuscite o nosso amor sinistro
Através de um habeas corpus.
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