Na Roma Antiga, trigo e pão serviam para evitar a revolta do povo
.Por Flávio Luiz Sartori.
A ascensão do Império Romano, consolidada a partir do século I A.C. transformou Roma em uma cidade apinhada de pessoas, que chegou a ter 1 milhão de habitantes no ano 200 D. C. com densidade demográfica de 66 mil pessoas por km² . Isto fez com que Roma logo se transformasse em uma cidade consumidora em alta escala, principalmente de alimentos.
Toneladas de grãos começaram a chegar em Roma sem parar em navios carregados para alimentar milhares de romanos, significativa parte deles migrantes de todas regiões do império. Para alimentar esta gente era necessária uma carga de 150 mil toneladas de grãos por ano, que eram produzidos na Sicília e na Líbia e, posteriormente no Egito.
Estas 150 mil toneladas de grãos, para serem movimentadas demandavam uma grande quantidade de navios para o transporte constante e isto criou uma realidade com Roma sendo uma cidade que demandava centenas de comerciantes e serviços de produção de alimentos espalhados pela cidade e, um dos destaques desta produção de alimentos era o pão, principal alimento de quase toda população romana.
Toneladas de trigo produzidas no império serviam para manter a cidade de Roma viva. Importante observar que mesmo com uma população de um milhão de habitantes, apenas 200 mil romanos recebiam uma cota de trigo de 35 a 40 kg por mês, que era o bastante para produzir a refeição para duas pessoas diariamente.
Este era um privilégio destinado somente para os romanos considerados cidadãos e, neste cenário, considerando que a maioria destes cidadãos viviam em um quarto, sem dependências para produzir o pão, a maioria deles dependia dos padeiros. Esta quantidade de trigo, mesmo que servisse para alimentar a população pobre, não deve ser considerada como algo que possa ser comparado a um benefício social para combater a fome dos pobres porque temos que considerar que o Império Romano jamais iria investir tempo e recursos financeiros para fazer caridade.
Na realidade, o principal aspecto a ser considerado é que esta parcela dos 200 mil cidadãos livres de Roma, no caso os que não eram escravos e nem os migrantes sem cidadania, compunha uma parcela da população romana que não poderiam, em nenhuma hipótese se tornarem insatisfeitos, exatamente porque um povo insatisfeito é um povo propenso a revoltas.
Então, o principal objetivo dos imperadores não era saciar a fome dos pobres porque era necessário ser cidadão romano para receber os grãos. A verdade é que estes cidadãos, que recebiam os grãos eram privilegiados. A ascensão social em Roma se dava quando um escravo ou um individuo sem cidadania conseguia se tornar um cidadão romano. Os circos romanos, com o Coliseu em Roma como símbolo, propiciavam uma forma de distrair o povo, no caso os cidadãos, mas o controle efetivo acontecia pela distribuição de alimentos, principalmente o trigo e o pão. (Do Blog A Essência Além da Aparência)