Uma reportagem do Agência Pública, com texto de Ethel Rudnitzki e infográficos de Ana Karoline Silano, mostra que páginas na internet autodeclaradas “humorísticas” ou “satíricas”, servem na realidade para divulgam notícias falsas entre postagens irônicas e críticas à imprensa.
Ao longo de um mês, a Pública analisou 90 dessas contas e descobriu quem são os responsáveis e como se organizam na rede. Eles usam nomes como Gobo News, Mônica Bengamo, Ual notícias, Vilma Russeffi. São trocadilhos com o nome de veículos de comunicação, jornalistas e políticos são usados como títulos para usuários de paródia no Twitter.
Segundo a reportagem, elas foram criadas em sua maioria a partir de janeiro de 2018 – das 90 analisadas, apenas 12 foram criadas antes dessa data –, as contas satíricas ganharam visibilidade no início do ano, quando a Folha de S.Paulo (a verdadeira, não a sátira) denunciou a confusão causada pelas paródias na rede, em matéria publicada no dia 5 de janeiro.
A matéria da Folha mostrou outras contas que se utilizavam de estratégias parecidas, como a @STFoficianal, que ironizava postagens oficiais do STF, entre outras. Muitas delas se diziam filiadas a um perfil chamado “Central da Imprensa Satírica Brasileira”, ou CIS, que retuitava suas publicações.
Após as denúncias, o Twitter excluiu mais de 20 contas de paródia. Como resposta, os perfis satíricos se uniram em torno da hashtag #SátiraNãoÉFake, criticando o que chamaram de censura do Twitter. Muitas das contas deletadas criaram novos perfis e contas reservas, se precavendo para o caso de novas exclusões.
Um relatório mostrou que o tuíte mais compartilhado que usava a #SátiraNãoÉFake foi a do cantor Lobão, artista popular entre eleitores de direita e ultradireita, que tem alavancado muitas hashtags no Twitter. A postagem teve 1.700 retuítes e foi publicada no dia 5 de janeiro, logo após a reportagem da Folha.
Muitos dos perfis de paródia excluídos, continua a reportagem, também criaram perfis no Gab, rede social de ultradireita que permite aos usuários total liberdade de expressão, inclusive para frases racistas, xingamentos a mulheres e feministas, insultos a LGBTs, como mostra reportagem da Pública . Das 90 contas analisadas, 10% possui perfil na plataforma.
Entre os perfis excluídos pelo Twitter estava o da CIS, um perfil que, além de publicar suas próprias sátiras, retuitava e divulgava outras contas de paródia. Depois disso, além de abrir conta no Gab – sua única postagem foi: “Twitter é uma rede social de esquerdistas vagabundos” –, a central criou um novo perfil no Twitter com mais publicações diárias e filiados. À Pública, a CIS negou que a conta do Gab seja deles.
Desde o dia 25 de janeiro também, há um portal com postagens de outras contas de sátira e uma novidade: “notícias” próprias, dessa vez sem usar do humor. A primeira postagem da nova conta da CIS foi uma imagem listando 28 perfis de sátira que foram deletados da rede social e denunciando o Twitter.
No site, eles divulgam 12 perfis de sátira: Soldado Bolsonaro, Portal Comunista, O Protagonista, UAL notícias, Gaulo Puedes (renomeado para Jair M. Bolsoarmado), Passarinho Opressor, Revista VistoÉra, Motel? Privado, Globol, Barril 247, The Comunista e Vilma Russeffi. O levantamento da Pública mostrou outras 12 contas de paródia que afirmam fazer parte da Central, ou são constantemente retuitadas pelo perfil da CIS. São elas: Brasil Independente, Carcada Livre, Cristiane Loba, CBFN, Estadinho, The Ecomunist, Gerson Camarada, Gobo News, Globobo News, Merdal Pereira, Instituto CIS pesquisa, e IBGtalvezÉ.
Mais do que produzir humor, essas contas têm como missão declarada criticar a imprensa e a esquerda. “Nosso objetivo é informar com agilidade de forma divertida trazendo a público a desinformação desnecessária e tendenciosa divulgada em outras mídias”, explicam no site.
A Central é coordenada por Alexandre Fernandes Oliveira, ou Alex Diferoli, como se apresenta no site. O domínio foi registrado em seu nome pela primeira vez no dia 14 de setembro de 2017. O site entrou no ar como um portal no dia 25 de janeiro deste ano.
ELA NÃO MORA LÁ, ENTÃO NÃO SENTE FALTA DA ÁGUA PARA PREPARAR OS ALIMENTOS, PRA TOMAR BANHO, PARA HIGIENE NO LAR, PARA BEBER. É, PIMENTA NOS OLHOS DOS OUTROS NÃO ARDEM NÃO É GLEISI!
É muito preocupante o crescimento da disseminação de notícias falsas em plataformas digitais por meio de páginas autodeclaradas “humorísticas” ou “satíricas”. É uma estratégia cada vez mais usada por aqueles que querem desinformar a população, geralmente com intuito de influenciar a opinião pública e, consequentemente, a direção das decisões políticas.
O trabalho realizado pela Agência Pública para investigar quem são os responsáveis por essas páginas e como se organizam na rede é extremamente importante para que possamos colocar um freio nesse tipo de prática e contribuir para que a democracia seja preservada.
A responsabilidade é de todos para que esse tipo de informação seja desmascarada e possamos ter acesso a notícias verdadeiras. Não podemos deixar que notícias falsas e tendenciosas sejam disseminadas, pois elas podem causar graves prejuízos à nossa democracia. É fundamental que a população se informe de forma responsável, buscando fontes confiáveis e rejeitando qualquer forma de desinformação.