A reflexão sobre a violência contra mulheres saiu do anonimato, das delegacias e dos tribunais para ganhar um fôlego de compreensão na cena cultural. O projeto Mujeres Violentas – escrevendo novas histórias, protagonizado pelas artistas Verônica Fabrini e Ló Guimarães, busca justamente descortinar a temática sob os holofotes das artes. A próxima apresentação do espetáculo acontece no sábado (23), às 20h, no Centro Cultural Maria Monteiro, na Vila Padre Anchieta. Ingressos no chapéu (contribuição espontânea da plateia).
Contemplado pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), na categoria Produção e Circulação de Espetáculo Inédito, o espetáculo traz à cena a atriz e diretora Verônica Fabrini e a bailarina Ló Guimarães, sob a dramaturgia e direção assinadas pela chilena Cláudia Echenique. A circulação, que se estende até fevereiro de 2019, também passará pelos bairros Vila Industrial, Vila Padre Anchieta e Vila Esperança, e pelo distrito de Barão Geraldo com o espetáculo teatral Mujeres Violentas, bate-papo com a plateia após a encenação e a oficina Escritas do Feminino.
O espetáculo nasce de um grito forte, crítico e sensível sobre o fato de as mulheres terem sido historicamente vítimas de violência. Principalmente, em período como o da atualidade. “A violência contra a mulher tende a crescer em momentos de crise e estamos num dos mais profundos momentos de uma crise nacional e global (ética, política e econômica – nessa ordem), da qual ainda não conseguimos medir as dimensões e as consequências. O aumento dos casos de violência é assustador. Não só contra as mulheres, mas contra o feminino em um sentido mais amplo”, conta Verônica Fabrini.
A partir desse cenário, a arte teatral, na opinião de Verônica, torna-se um forte aliado na reflexão e na mobilização de uma ação em prol da humanidade de cada espectador. “O teatro é uma arte do encontro e acredito que, por intermédio do encontro, da conversa e do envolvimento com a sensibilidade que a arte proporciona, é possível pensar em novas e amorosas formas de existir. Esse pequeno trabalho cênico busca isso: levantar a questão, fazer com que as pessoas pensem e conversem sobre o tema e busquem, cada comunidade com jeito próprio e maneira de agir, formas de enfrentar esse problema”.
Para ganhar a cena teatral, o espetáculo Mujeres Violentas se nutre de duas formas de narrativa: a documental/real e a teatral/ficcional. “Por meio desses contrastes, duas atrizes jogam com a construção e a desconstrução de teatralidades, dando voz ao performativo enquanto ativismo e denúncia, mas sem perder de vista as metáforas e a poesia. A encenação procura alcançar uma consciência emocionada”, destaca a atriz.
O pontapé inicial da narrativa parte de uma palestra sobre violência contra mulher. Pouco a pouco, o discurso vai se adensando, ganhando estranhamento na descrição ritmada de lugares, motivos e maneiras de se violar uma mulher. Logo mais, por meio de uma teatralidade ágil e surpreendente, cenas rápidas constroem um mosaico de denúncia, testemunho e crítica sobre o fato de as mulheres terem sido historicamente vítimas de violência.
“Casos de violência enfrentados pelas mulheres no mundo inteiro são inúmeros e repetidos sistematicamente em todo o globo. Eles vão da violência doméstica e a violência social até a violência institucionalizada por exércitos, guardas civis e outras forças organizadas que usam as mulheres como despojos de guerra. Apenas para mencionar uma forma evidente de violência, o estupro é uma arma usada diariamente contra as mulheres em todo o mundo, em diferentes círculos de poder”.
As regiões da cidade escolhidas para abrigarem o projeto trazem uma semelhança entre si: dentro do mapeamento da violência contra mulher em Campinas, elas se destacam pelos altos índices de ocorrências. Nesse sentido, “também se transformam em um forte potencial de discussões sobre o tema. As apresentações serão realizadas em parceria com os espaços e instituições que possam se tornar multiplicadores nas suas regiões, gerando continuidade no debate proposto a partir da realização das atividades”, pontua Verônica. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Mujeres Violentas
Quando: Sábado (23), às 20h
Onde: Centro Cultural Maria Monteiro (Rua Dom Gilberto Pereira Lopes, s/n, na Vila Padre Anchieta, em Campinas)
Quanto: Ingressos no chapéu (contribuição espontânea da plateia)