.Por Luís Fernando Praga.
Quando se viu o clarão acender o horizonte,
Já se tornavam carvão o cedro e a aroeirinha…
Cá, de longe, ninguém via o incêndio comendo o monte,
Mas a fonte foi secando e era só fogo o que vinha!
Era tudo combinado, certo, nada perigoso:
Era incêndio autorizado, como um “sim” numa entrelinha;
Nem o fogo do pecado nem incêndio criminoso,
Pra que fosse erradicado cada pé da “erva daninha”!
Para queimar a “quiçaça”, que dava pra todo canto,
As tochas do capim santo é que incitaram o jogo.
E a morte cobriu os campos; negro e rubro era seu manto!
Ninguém supunha o quanto um “santo” espalhava o fogo…
Foi se queimando o ipê, o bálsamo e o pau rei,
O angico e a embaúba; cajarana e a figueira,
Passarinho, bicho e homem; praga e madeira de lei
Carbonizavam iguais, lenhas da mesma fogueira!
A brasa do capim santo já fazia o céu arder!
Nem a madeira de lei foi capaz de dar seu veto.
Tanto pau torto queimado que antes se achava pau reto…
Pediram por um incêndio que não puderam conter.
O fogo, que não tem vida e não tinha nada a ver,
Foi acabando com tudo o que havia pela frente,
Até não haver mais verde, até não haver mais gente,
E a secura acabar com o que é de fogo comer…
Num solo retinto e morto, sem ter mais o que queimar,
O fogo foi reduzindo, até que morreu de fome.
O tempo deitou as cinzas, o cinza deixou o ar,
Mas quem ateou o fogo jamais revelou seu nome!
Naquele solo arrasado, regado de dor e mortes,
Nenhuma vida se via. Havia vidas latentes…
Não se deixaram queimar só as raízes mais fortes,
Quem ficou longe do fogo e as mais profundas sementes…
Está escrito na História da Terra que o tempo ara…
Que alguma fonte perene, que não há fogo que seque,
Virá molhar este chão para uma nova seara,
Onde não haja um senhor nem um “santo” que não peque!
O verde novo recobre as queimadas do passado,
Então, o valor da Vida, empossado de poder,
Fará do olho que é cego o primeiro a ser curado
E da flor da “erva daninha”, a primeira a reflorescer!