A Reforma Trabalhista, que eliminou cerca de 100 conquistas dos trabalhadores, foi aprovada logo após o golpe de 2016 sem discussão mais longa e necessária. Ela foi vendida nos meios de comunicação como algo que poderia beneficiar não só os trabalhadores, mas também os pequenos empresários. Bom para todos.
O interessante é que algo que explicitamente prejudicaria o trabalhador foi noticiado pela grande mídia como algo bom, que geraria empregos e beneficiaria a todos. Pior que isso, o discurso para contrapor e mostrar a realidade dos fatos foi soterrado no movimento golpista.
Apesar de todo o esforço de estudiosos do tema, centrais sindicais e sindicatos por todo o Brasil, a comunicação que prejudicava grande parte da população venceu esmagadoramente. Mais do que isso, a eleição de Jair Bolsonaro, apoiador da reforma e emissor de uma série de ataques aos direitos dos trabalhadores, reflete um pouco a incapacidade de comunicação dos próprios sindicados.
O fortalecimento da comunicação dos trabalhadores é importante não só para os trabalhadores e para a população, mas também para pequenos empresários submetidos à violência de máfias e milícias fascistas que se aproveitam da incapacidade do Estado.
Os sindicatos dos trabalhadores precisam sair da ‘Idade da Pedra’ da comunicação. Esse termo é apenas uma provocação para a necessidade urgente de uma reflexão sobre as práticas de comunicação dos trabalhadores. Mas é uma mudança difícil porque evoca mudanças culturais.
Nos sindicatos, há um gasto enorme de tempo e recursos com a comunicação corporativa, representada pelas ações dos sindicatos, dos eventos, da ligação com a base etc. Essa seria a missão original e única, mas na realidade atual isso atrofia a comunicação. Um bom profissional e um bom planejamento de jornalismo poderia ocupar com essas ações apenas 20% do tempo do setor de comunicação. Essa redução pode acontecer sem o menor prejuízo para a comunicação da categoria e para os dirigentes sindicais.
Na era da informática e do crescimento de grupos fascistas e escravocratas, há uma necessidade urgente de ocupar o espaço público da comunicação. Não basta um sindicato permanecer combativo na esfera local, enquanto os trabalhadores perdem direitos na esfera nacional. Na esfera local, o sindicato tenta conquistar o trabalhador, mas na esfera nacional o trabalhador recebe uma avalanche de informação para destruir sua organização.
Os sindicatos estão tendo dificuldade, apesar de já perceberem a importância, de transformar a comunicação sindical em uma narrativa social para que a própria distorção da realidade não se transforme em prejuízo aos trabalhadores que representam. Uma das grandes dificuldades é que um único sindicato nada pode fazer. Essa transformação só é possível com uma comunicação construída em rede, onde cada pequena teia constrói uma grande difusão.
É inacreditável que no meio de tanta tecnologia de fácil acesso, e com a presença dos sindicatos em todo o Brasil, a narrativa da vida cotidiana é quase que totalmente controlada pelos grandes meios.
Uma terceira questão importante exige um repensar cultural. É a questão da proximidade entre o jornalista e a militância sindical. Em alguns casos, o jornalista é mais militante do que jornalista. As práticas se confundem e a narrativa da realidade é sufocada pelo discurso corporativo e pelo próprio companheirismo. Em muitos casos também, um ótimo jornalista é desperdiçado em trabalhos burocráticos e de baixa necessidade. Seria necessário uma grande mudança cultural na comunicação sindical.
Os sindicatos precisam acordar para uma nova comunicação. Não há modelos prontos e acabados, mas há um rio de oportunidades para novas práticas comunicacionais na atualidade. O crescimento de grupos fascistas e escravocratas exigem lideranças corajosas para transformar a realidade, correr riscos e serem capazes não só de enxergar a utopia, mas praticá-la.
Jornalistas saem da academia para servir de mão de obra barata para os grandes meios de comunicação. Se trabalham em outra empresa, como sindicatos, trabalham sempre pensando que ali é apensas um trampolim. A Comunicação é muito mais ampla do que a informação. Para sindicalistas e para a maioria da esquerda, Comunicação ainda é um repositório de realises e quando muito, espaço de propaganda e marketing. No entanto a comunicação é a arma estratégica na Luta de Classes em tempos de Guerra Hibrida. Se a Comunicação é a arma, o identitarismo é a comunicação pela qual a burguesia divide a classe trabalhadora e os movimentos sociais. No Movimento Sindical o “identitarismo” é muito identificado com o corporativismo das categorias profissionais. A Luta de Classes desapareceu do vocabulário e da cultura de quem deveria ter ela como luzeiro. Enquanto não voltarem a se identificar enquanto classe, superando as nuances e diferenças entre categorias profissionais, não há como resolver o tema da comunicação. Não tem nada a ver com jornalistas. Tem a ver com compreender que o mundo se move pela Luta de Classes. A burguesia sabe. E ela faz acontecer. Tanto isto é verdade, que aquilo que muitos de nós identificam como narrativa de esquerda, que é o identitarismo sem referencial de classe, é na verdade produzido também por outro setor da burguesia internacional, representado publicamente por George Soros e Zuckerberg que apoiaram Hillary enquanto o discurso a direita esta representado por Stewe Bannon e Irmãos Cock, que elegeram Trump. A classe trabalhadora não esta representada como classe nas narrativas que compõe a comunicação hoje. E não esta por que os trabalhadores não são provocados por seus dirigentes a se reconhecerem enquanto classe.