A Associação Nacional dos Participantes dos Fundos de Pensão (Anapar) realizou uma pesquisa inédita com a população para saber como o brasileiro está em relação à aposentadoria, mas descobriu algo assustador. A pesquisa, que deveria revelar aspectos relacionados à previdência, descobriu também uma nova forma de escravização da população, que é realizada pelo endividamento e falta de condições de sobrevivência.
A pesquisa descobriu que a renda de grande parte da população é insuficiente para sobreviver, falta perspectiva e há um elevado grau de endividamento. Esses três fatores combinados impedem que as pessoas guardem dinheiro para a aposentadoria, produzindo um quadro de verdadeiro “desalento previdenciário” no país.
A situação vai ficar pior no futuro do Brasil porque a Reforma da Previdênciária em debate no Congresso quer justamente fazer com que essa população, que não tem recursos para aposentadoria, faça sua própria aposentadoria individualmente. Eliminando dessa forma o pacto social do Estado brasileiro. Sem compromisso com a aposentadoria, o Estado pode ter mais recursos para servir aos mais ricos por meio de benefícios fiscais, altos salários e privilégios.
Os dados revelados são impressionantes: dos 150 milhões de brasileiros a partir de 16 anos, 112 milhões (75%) declaram ter dívidas. Desses, 33% se consideram muito endividados ou endividados. Mais de 94 milhões (63%) dizem ter renda insuficiente para viver.
O endividamento mostra-se determinante na equação do “desalento previdenciário”. Três em cada quatro brasileiros têm dívidas. Entre eles, 36% pagam empréstimos, 22% têm financiamento de automóvel e 9% têm financiamento imobiliário. Dos endividados, 54% são mulheres e 64% têm 45 anos ou mais. A menor concentração está entre jovens de 16 a 24, apenas 8%.
Via de regra, a dívida guarda relação direta com o acesso a recursos financeiros. Não por acaso, entre os endividados, 68% são trabalhadores ativos, 21% são aposentados, 4% estão desempregados e 74% têm conta em banco.
Um dado, porém, reforça o antagonismo do endividamento com a formação de reserva previdenciária. Entre os endividados, 61% não contribuem para a Previdência Social, portanto, não guardam dinheiro para uma futura aposentadoria por meio do INSS e deixam de contar com benefícios como auxílio doença e aposentadoria por invalidez.
Somente 13% da população afirmam que poupam com alguma regularidade, 34% poupam de vez em quando e 51% não guardam dinheiro. Dos que poupam, 69% juntam até R$ 300 por mês; 46% afirmam que juntam apenas quando sobra dinheiro, 25% reservam uma parte assim que recebem e 17% deixam de comprar alguma coisa para poupar.
Perguntados sobre a principal finalidade do dinheiro poupado, 14% respondem que é para eventualidades, viagens (13%), casa própria (11%), educação dos filhos (10%), eletrônicos e eletrodomésticos (8%), carro ou moto (8%) e despesas com saúde (7%).
Entre os 97,5 milhões de trabalhadores remunerados, 52% são informais. A maior parte tem entre 45 e 54 anos (29%). Os demais se distribuem nas outras faixas etárias, variando entre 12% e 17%. Mais da metade dos informais (57%) ganha até 2 salários mínimos (33%), 31% recebem de 2 a 5 salários, 5% ganham de 5 a 10 salários e 1%, acima de 10 salários.
O resultado de toda essa conjuntura é alarmante e projeta um futuro ainda mais difícil para o país. De todos os brasileiros, 35% contribuem para a Previdência Social. Somente 12% dizem juntar dinheiro por conta própria para aposentadoria.
A Pesquisa Anapar Finanças Pessoais e Previdência Brasil 2018, encomendada ao Instituto FSB Pesquisa, realizou entrevistas domiciliares com 2.045 pessoas a partir de 16 anos, em 152 municípios, entre 8 e 13 de novembro. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%. (Carta Campinas com informações de divulgação)
O que é ter dívida? Veja, tenho parcelamentos de coisas compradas por cartão de crédito. Contudo, tenho recursos em caixa, poupança, para pagar integralmente tais bens, hoje. Entro na estatística acima? Sempre tenho esta dúvida.