.Por Luís Fernando Praga.
Um cisco entrou nos olhos da saudade,
Que chora, disfarçada, os dias que viveu,
Bem do meu lado, ao lado da amizade;
E eu nostalgio cada amigo meu.
A turma de uma infância divertida,
Da rua, da sarjeta e da escola,
De uma ilusão macia, mas vencida.
Não jogo a vida como joguei bola…
Eu, menino do riso e das piadas,
Dos papos, das caronas e jantares,
Das confidências e das madrugadas,
Dos tragos, melodias e luares,
Dos passeios, receios e viagens,
Da mochila nas mãos das aventuras,
Da paz, do amor, da flor e das coragens,
Da sandália de couro e das loucuras…
De tantas tardes, festas, serenatas,
De umas noites viradas em estudo,
Aprendiz das verdades inexatas,
Vi meu mundo mudar; e também mudo:
Se tantas amizades almejadas
De se viver até o fim da vida,
Enfim, foram por mim abreviadas,
Sem festa, sem cartão, sem despedida…
Ficou um gosto amargo de distância;
Um vão que não se vê: o meu abismo…
Lá se vão meus amigos de infância:
Não soube ter amigos no golpismo,
Na ira seletiva e na omissão.
Meu justo pranto, longe de um despeito,
É a verdade que corta o coração,
É dor, é resistência e é respeito
A um povo que não sabe o que é nação.
Sigo sem graça, de olhar rasteiro,
Troncho, sem festa, enxuto da alegria;
E o que me resta é o sangue brasileiro,
Um cheiro de esperança e a poesia;
Um cisco em cada olho da saudade,
Um jardim só de flores que murcharam,
Que, pra não perfumarem liberdade,
Adormeceram e não despertaram…
Mas me faz bem, o tanto que restou:
Guardo, tão grato, como cada flor,
Compôs um pouco do que hoje eu sou;
E a saudade sorri, de tanta cor!
Ainda me resta uma esperança bruta,
Um lado sonhador, um fogo antigo,
Motivos mil pra confiar na luta
E só amigos pra lutar comigo!
(aos novos, aos passados e aos futuros camaradas, aliados, coligados, associados, companheiros, “parças”, amigos!)