.Por Marcelo Sguassábia.
A cada dia mais inúteis, as red phone boxes precisam com urgência reencontrar sua vocação e utilidade, sob pena de sumirem das ruas da maior cidade europeia.
Muitas já estão virando postos de recarga de celular. Ou seja, acabam servindo ironicamente para dar vida a quem as matou. Seria uma típica piada inglesa, se a coisa não fosse mesmo verdade.
Já outra instituição britânica, o double deck, ou ônibus de dois andares, por enquanto não corre risco de extinção. Embora o Routemaster, aquele modelão clássico, desde o começo do século esteja sendo aposentado para dar vez a busões moderninhos, de linhas arrojadas demais. Mais parecem umas naves intergaláticas, nota zero no quesito sobriedade inglesa.
Agora, voltando às nossas cabines. Quem estiver disposto a morrer com 2.500 libras pode levar para casa uma delas, quem sabe para decorar seu living ou jardim de inverno. Lembrando que é bom preparar o bolso para o carreto especial, pois cada uma delas pesa quase 800 quilos e é toda envidraçada.
Se a extinção das red boxes não chega a afetar diretamente o turismo da ilha, que tem outros espetaculares atrativos, algumas lojas de souvenirs já trabalham com uma expectativa de 50% a menos no faturamento – já que quase tudo, de chaveiros a cofrinhos, remete à cabine telefônica.
Algumas alternativas surgem, aqui e ali, com o propósito de salvá-las da submersão no Tâmisa:
. Aproveitar as grades da estrutura para instalar pocket-shows da Monga, a mulher gorila.
. Adaptação para banheiros químicos. Evidentemente, com a necessária aplicação de insulfilm nos vidros.
. Lava-rápido de gente (também com insulfilm nos vidros) ou ponto de retoque de maquiagem. Ambas as ideias a serviço do asseio e da elegância tipicamente londrinos.
. Máquinas expressas de chá das cinco. O sujeito insere uma moeda, serve-se e vai embor assoviando e sorvendo o seu chazinho, ainda que a protocolar xícara tenha que ser substituída por um copinho plástico descartável.
. Destruição e venda de pequenos nacos de destroços aos turistas. Após espatifada por máquina, os milhares de pedaços de cada cabine seriam comercializados nas principais artérias da metrópole, acompanhados por certificado de autenticidade com credibilidade análoga ao famoso “by appointment to Her Majesty the Queen”. Algo nos moldes do que acabou acontecendo com o muro de Berlim, onde uma lasca de reboco tem hoje valor histórico e liquidez de ativo financeiro.
Mas o que parece mesmo ser a solução mais provável para o dilema é deixá-las onde estão e locá-las para fotos. Há, no Parlamento, quem defenda a ideia de colocar um sujeito fantasiado de soldado da Guarda Real, com o chapelão de pele de urso e tudo, para receber o dinheiro e fazer troco para os cliques. Disparados pelo celular, é lógico.