Conectando os Pontos: do Site ao App
.Por Alexandre Oliva.
Já parou pra pensar por que tantas empresas querem que você instale os aplicativos delas no seu celular?
Por que empresas que tinham, ou ainda têm, sites através dos quais oferecem praticamente os mesmos serviços que ora prestam através de app, incorreriam as despesas para desenvolver novos aplicativos para os diversos tipos de celulares, e ainda ofereceriam incentivos ou funcionalidades exclusivas para induzir você a instalá-los?
Não faz muito tempo, todo mundo usava computadores com o mesmo sistema operacional. Mas não faziam aplicativos para o computador, faziam sites. Agora, que é mais difícil, por conta da falta de uniformidade entre os aparelhos, resolvem investir não em adicionar novas funcionalidades ao site, que poderia atender igualmente bem celulares e computadores, mas em induzi-lo a instalar os apps no seu celular, não importa de que tipo seja. Qual a lógica?
Verdade seja dita, de início, muitos dos “apps” eram pouco mais que um ícone para acesso rápido ao site. Esses eram fáceis de fazer, ocupavam nada de espaço e facilitavam a vida dos usuários nos aparelhos em que abrir um navegador e digitar um endereço de Internet numa versão limitadíssima de teclado era certeza de vivenciar as emoções proporcionadas por filmes de aventura, drama e comédia.
Corta pra distopia em que vivemos. Somos induzidos a carregar em bolsos e bolsas dispositivos de rastreamento e coleta de informação que vão muito além dos sonhos mais repugnantes do Grande Irmão.
No capitalismo de vigilância, estágio em que vivemos, dispositivos eletrônicos e programas são criados não mais com foco nas funcionalidades que deverão proporcionar aos compradores, mas na coleta de dados sobre o usuário, especialmente hábitos de consumo, para melhor direcionar ações de marketing, ou para venda dos dados coletados a terceiros.
As supostas funcionalidades passam a ser a isca que atrai usuários a se expor e até a pagar pelo privilégio de ter seus dados coletados. Dados que, dizem, valem mais que petróleo, ainda que para mim a comparação faça muito pouco sentido, já que não se quantifica petróleo em bits, nem dados em barris.
Mas, de verdade, pouco importa como comparar o valor unitário desses bens, mas sim que há imenso valor comercial nos dados que permitimos que coletem sem exigir contrapartida de valor similar, ou mesmo sem saber.
Considere agora que computadores de bolso, de bolsa, de colo ou de mesa, podem ser igualmente dotados de câmera e de microfone, e que tais recursos podem ser acionados através do navegador web. O navegador geralmente pergunta, antes de permitir que o “programa” numa página qualquer os utilize, e o faz somente enquanto a página está aberta, diferente do app, que pede essa permissão somente uma vez, quando é instalado, e depois pode acessá-los mesmo quando nem parece estar aberto.
Além disso, computadores de mesa não acompanham o usuário a todo lugar, ao contrário dos celulares, e mesmo computadores de colo são frequentemente desligados, ao contrário dos celulares, que permanecem ligados mesmo que não pareçam. Muitos nem mesmo podem ter suas baterias removidas! E têm não só câmera e microfone, mas localização, contatos e, dependendo do grau de intrusividade, registros de acesso e de comunicações, senhas, certificados, documentos e o que mais estiver armazenado em sua memória interna, ou for feito através deles, ou mesmo nas proximidades dessas próteses cerebrais que nos mantêm conectados à Matrix.
Sob essa luz, não ficam claras as respostas às três perguntas com que iniciei o artigo? Se o site não oferecer funcionalidade equivalente à do app, sugiro perguntar ao prestador do serviço o porquê, e/ou a si mesmo o que acha de ser sutilmente induzido a morder a isca e expor sua vida à exploração comercial alheia.