Por Regis Mesquita
A vida humana é sempre repleta de idas e vindas, altos e baixos, dificuldades e facilidades.
Quando a pessoa aprende a lição ela torna-se mais forte, mais sábia e mais capaz.
A vida de uma sociedade é exatamente igual. Altos e baixos acontecem e é necessário paciência e persistência para atingir o objetivo.
Em 1990 (28 anos atrás) a prefeita de São Paulo era a Luiza Erundina. Seu plano de construir corredores de ônibus era atacado violentamente. Ela era xingada e ridicularizada pelas mesmas pessoas que hoje em dia continuam xingando e atacando os adversários.
O tempo passou e a existência dos corredores de ônibus passou a ser aceita pela ampla maioria das pessoas. Os que odeiam que os benefícios cheguem até aos mais pobres ficaram calados (mas, guardando o rancor).
Politicas públicas progressistas precisam ser implementadas por quem tem ousadia. E precisam ser defendidas com “unhas e dentes”.
Defendida contra o que? Contra o negativismo. A forma mais comum de destruir uma política pública progressista é criar uma sociedade com excesso de negativismo que não permita o pensamento racional.
O pensamento racional é capaz de detectar o positivo e o negativo da realidade. Ele gera soluções que melhoram o positivo e diminuem o negativo. Aos poucos, tudo vai melhorando.
Anos depois, no governo do prefeito Haddad, os jornais conservadores continuavam a denegrir os corredores de ônibus, dizendo que o tempo de viagem não havia melhorado. Na realidade, havia mais carros e mais congestionamentos na cidade e a situação seria pior sem as obras que beneficiaram o transporte público.
A estratégia dos conservadores é denegrir o tempo inteiro, sem descanso. Denegrir, denegrir, realizando uma lavagem cerebral e implantando na mente das pessoas que tudo está muito ruim. Elas ficam com a mente dominada e cansada.
Mente dominada e cansada abre mão de pensar. Uma mulher pobre cujo pai recebe TODOS OS MESES do SUS mais de mil reais em remédios me dizia: “a saúde está um caos”. Perguntei que nota ela daria; ela disse que daria zero. Então eu a lembrei do remédio que o pai dela recebe. Foi como se ela estivesse despertando de um sono… Ela disse: é verdade! Todo mês meu pai pega os remédios dele…
A questão é: quando tudo vira uma confusão na cabeça das pessoas, quem tem o poder faz o que quer. Foi o que aconteceu na cidade de São Paulo. Programas de saúde foram praticamente destruídos pelo novo prefeito João Doria e a população nem notou.
Regra: quem não valoriza o que tem, acaba destruindo o que existe de bom na sua vida.
Ação: é necessário ter coragem de falar o positivo. Deve-se levantar o negativo, mas sempre dentro de uma proposta de melhoria contínua.
No livro “Como o fascismo funciona” (veja neste vídeo) o autor mostra que o fascismo cria um mito do passado “maravilhoso que não existiu”. Traduzindo: o que se tem hoje não vale a pena, é pior, é negativo. Depois de desmoralizadas e desqualificadas, as políticas públicas progressistas podem ser destruídas.
Vamos para as vitórias:
as pessoas que lutam contra o uso de animais em testes e experimentos sempre foram desqualificadas. São os “militontos”, as “pessoas ridículas” por terem dó de animais, etc. Cientistas preguiçosos e orgulhosos diziam que não há como abandonar os testes em animais. Mas, os “militontos” persistiram. Lutaram, lutaram e algumas situações começaram a mudar. Alguns cientistas começaram a buscar métodos de pesquisas alternativos, criou-se códigos de ética mais rígidos no trato dos animais, etc. Ou seja, as ações começaram a render frutos.
Poucas semanas atrás a empresa Unilever anunciou que fará uma campanha pelo fim do teste de cosméticos em animais em todo o mundo. Traduzindo: a empresa que passou décadas boicotando o fim dos testes em animais agora quer ser “boazinha”. Ela desenvolveu outra forma de teste de seus cosméticos e não precisa mais dos animais. A vitória não é a campanha da marca oportunista. A vitória é demonstrar que é possível buscar boas soluções para evitar a crueldade com os animais.
Décadas de lutas, décadas enfrentando os pessimistas que dizem: não dá para não ser cruel contra os animais. Eles ainda continuarão atacando quem defende o fim da crueldade. Por isto, é necessário sempre mostrar as melhoras, os ganhos, as vantagens.
É preciso ter coragem de mostrar o positivo. É preciso ter coragem para descobrir aonde estão as falhas e melhorar cada vez mais o serviço, as leis, as ações sociais. É preciso ter propostas claras que existam independentemente de campanha eleitoral, jogos de poder e interesses comerciais.
A vida de uma sociedade tem altos e baixos. É na persistência que se consegue mudar e é na ousadia que se consegue implementar o que é importante.
Regis Mesquita é o autor do Blog Psicologia Racional e da coluna “Comportamento Humano” aqui no site Carta Campinas