Em dezembro de 1975, Bibi Ferreira subia ao palco do Teatro Tereza Rachel (Rio de Janeiro) para estrear Gota D’Água, transposição da tragédia grega Medeia, de Eurípedes, para a realidade de um conjunto habitacional do subúrbio carioca. Com um arrojado texto em versos de Chico Buarque e Paulo Pontes e canções como Basta um Dia, o espetáculo marcou época e se tornou um clássico moderno do Teatro Brasileiro.

Mais de quatro décadas depois, a história voltou à cena com uma adaptação do diretor Rafael Gomes. Batizada de Gota D’Água [a seco], a nova versão estreou no Rio de Janeiro em maio de 2016. Contemplado pelo edital da BR, o espetáculo chega em Campinas dias 12, 13 e 14 de outubro, no Teatro Iguatemi. No palco, Laila Garin e Alejandro Claveaux são acompanhados por cinco músicos sob a direção musical de Pedro Luís.

Como ‘a seco’ do título já indica, a montagem busca chegar à essência da história através dos embates entre os protagonistas, Joana e Jasão, ainda que outros personagens do original também apareçam na adaptação. Mesmo com parte da trama sociopolítica reduzida na versão, Rafael Gomes reitera que a sua leitura da peça é focada em sua natureza política, cruelmente atual.

“A Gota D’Água original possui uma trama política bastante latente em seu embate entre opressores e oprimidos. Ao concentrar a história em Joana e Jasão, em suas ideologias, ações e sentimentos, eu gostaria ainda assim de falar sobre essa política mais essencial da vida, do dia a dia, essa que a maioria das pessoas sublima, esquece ou finge que não é com elas, achando que ser político é somente saber apontar o dedo para o adversário e se manifestar eventualmente por aquilo que interessa, de forma um tanto o quanto individualista”, afirma o diretor, que manteve toda a estrutura formal da peça e inseriu novas canções e pequenas citações de letras de Chico Buarque em algumas passagens do texto.

Gota D’Água [a seco] é o primeiro espetáculo que Rafael Gomes dirigiu fora de sua companhia, a Empório de Teatro Sortido, de onde trouxe alguns colaboradores para esta montagem, como o cenógrafo André Cortez (Prêmio Shell por Um Bonde Chamado Desejo, 2015) e o iluminador Wagner Antônio. Rafael foi convidado pela produtora Andréa Alves e por Laila Garin para embarcar no projeto.

Estrela de Elis – A Musical, Laila experimenta agora um novo desafio em cena: além de interpretar a mítica personagem eternizada por Bibi Ferreira, dá voz a músicas que não faziam parte da peça original, como Eu Te Amo, Baioque e Cálice. Revelado no projeto Clandestinos, Alejandro Claveaux interpreta o personagem que já foi de Roberto Bonfim e Francisco Milani (na temporada paulistana, em 1977).

Chico Buarque e Paulo Pontes começaram a trabalhar no texto original a partir de uma transposição que Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974) havia feito para a televisão. A feiticeira Medeia virou Joana, moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia, mãe de dois filhos, frutos de seu casamento com Jasão, alguns anos mais novo do que ela. Compositor popular, Jasão é cooptado pelo empresário Creonte, que o ajuda a fazer sucesso, e termina por largar Joana para se casar com a filha do milionário. A trama passional – que culmina na vingança de Joana – tem como pano de fundo as injustiças sociais pelas quais os moradores do local passam, vítimas da exploração de Creonte, todo-poderoso da região.

Por conta deste acúmulo de tensões, Rafael Gomes elegeu o embate como o conceito central de sua montagem. Não somente o embate amoroso, que está no cerne da trama do casal, mas também o social, em um sentido mais amplo, e, principalmente, o íntimo. “São as batalhas internas a que as circunstâncias externas nos sujeitam. Jasão no conflito entre o que está ganhando e o que está deixando para trás, assim como Joana na decisão entre ir às últimas consequências para se vingar ou simplesmente seguir vivendo – o embate entre o humano e o divino, o terreno e o espiritual’, conclui o diretor.

Com esta nova adaptação, as músicas que não estavam no original entram justamente para servir à dramaturgia, ao contar partes da história, revelar melhor o caráter e as contradições das personagens, além de amplificar alguns contextos e situações que precisaram ser sumarizados. A entrada de Pedro Luís na direção musical vem ao encontro da vontade de não fazer necessariamente um musical tradicional. “É um arejamento, um olhar diferente. Pedro fez com as canções, todas já tão conhecidas e consagradas, o que eu pretendo fazer com a dramaturgia: dar uma nova dimensão, jogar uma luz por um lado que não estamos acostumados a ver. Isso não implica em uma ambição de ‘melhorar’ nada, apenas de tentar pensar e criar por um caminho menos óbvio”, ressalta Rafael. (Carta Campinas com informações de divulgação)

Ficha técnica:

GOTA D’ÁGUA [A SECO] – De Chico Buarque e Paulo Pontes. Adaptação e direção: Rafael Gomes. Com Laila Garin e Alejandro Claveaux. Músicos: Pedro Silveira, Elcio Cáfaro, Marcelo Muller, Diogo Sili e Dudu Oliveira. Direção Musical: Pedro Luís. Cenografia: André Cortez. Iluminação: Wagner Antônio. Figurinos: Kika Lopes. Direção de Produção: Andréa Alves. Diretor assistente e direção de movimento: Fabrício Licursi. Design de som: Gabriel D’angelo. Preparação e arranjos vocais: Marcelo Rodolfo e Adriana Piccolo. Assistente de direção musical: Antônia Adnet. Assistente de cenografia: Rodrigo Abreu. Coordenação de Produção: Leila Maria Moreno e Vivi Borges.

GOTA D`ÁGUA [A SECO]
Datas: 12/10 (sexta) às 17h, 13/10 (sábado) às 21h30 e 14/10 (domingo)*sessão dupla: às 17h30min e 20h.
Local: Teatro Iguatemi
Classificação: 16 anos.
Duração: 100 minutos.
Gênero: Musical.
Ingressos: R$ 25,00 inteira | 12,50 meia

Vendas:
Bilheteria do Teatro: 3294-3166 (segunda a sábado das 10h às 22h | domingo das 12h às 20h)
Pela internet: www.ingressorapido.com.br