.Por Marcelo Sguassábia.
Ninguém aguenta mais tanta carestia, onde é que esse mundo vai parar? O preço da linguiça está pela hora da morte, e daqui a pouco não teremos mais como amarrar nossos cachorros. A guia da Lilica, que chegou a ter 15 gomos no tempo das vacas gordas, diminuiu para 12, depois para 10 e agora está com 7 míseros nacos de linguiça toscana. Não demora muito e terei que andar curvado quando for levá-la para passear!
Aí, no futuro, sei que vocês usam essa expressão “do tempo em que se amarrava cachorro com linguiça” quando querem se referir a uma época de bonança e fartura sem fim, em que todo mundo confiava em todo mundo, em que não havia maldade entre as pessoas, em que tudo era bom, fresquinho e a preço de banana – inclusive a banana, que no futuro eu estou sabendo que custa os olhos da cara.
Mas, por favor, não diminuam o nosso infortúnio, dizendo que aqui nesse retrógrado passado era tudo maravilhoso. Não era. Quer dizer, não é, porque eu ainda vivo aqui e falo com conhecimento de causa. Fora que o uso veterinário desse embutido seboso pode trazer funestas consequências para a saúde dos animais. Loucos por linguiça, não são poucos os casos de canjiquinha, ou neurocisticercose, acometendo os cães quando da ingestão da carne de porco crua.
Na eventualidade do cão ser bem comportado e indiferente à linguiça, ele pode, quando preso, sofrer ataque de vira-latas famintos, que se regalam com a iguaria ao mesmo tempo em que libertam o totozinho para os perigos da rua.
Não é exagero dizer que o hábito, tido como nostálgico por vocês, é na realidade causa de transtornos sociais para nós. Assim, peço que parem de afirmar asneiras, chamando de bom e saudoso um contexto tão problemático e cheio de perigos, tanto para os cachorros quanto para seus donos. Aproveito para deixar sugestões que substituam a expressão por outras com o mesmo sentido, porém menos mentirosas: “Bons tempos em que só a pedra era lascada”, por exemplo.