O enredo de Os 3 Mundos se passa em um universo fictício, em um futuro aparentemente distante, habitado por dois grupos antagônicos. De um lado, o Culto da Serpente, liderado por Lachesis (Paula Picarelli), é formado por praticantes de kung fu que vivem no subsolo do metrô. Do outro, Acônito (vivido por Thiago Amaral) lidera o Mundo das Máscaras por meio da força e do medo. Os dois líderes entram em confronto ao defender círculos e crenças necessárias para a manutenção da ordem entre seus seguidores (Tamirys Ohanna, João Paulo Bienemann, Alice Cervera, Artur Volpi, Rafael Érnica e Luciene Bafa).
O diretor Nelson Baskerville (Prêmio Shell de Direção de 2011) reforça a distinção entre as duas personagens principais da peça: “Lachesis parece muito com uma personagem da DC por viver esse contexto mais sombrio e sôfrego. Ela chora pela pessoa que acabou de matar porque sente que cumpriu com sua obrigação. Já Acônito carrega a hipocrisia do mundo, tem consciência plena da sua maldade”.
Para dar o tom pós-apocalíptico e inserir a estética das histórias em quadrinhos no teatro, o Estúdio BijaRi (Prêmio Shell 2016 pelo cenário de Adeus Palhaços Mortos) ficou responsável pela animação e projeção. Maurício Brandão, que coordenou esta frente da montagem, comenta sobre o desafio de criar um cenário que tem relação direta com cada ação das personagens. “É um híbrido de teatro, cinema e histórias em quadrinhos. Toda operação das animações acontece em tempo real para garantir a sincronia dos movimentos. Por termos uma caixa cênica não tradicional, é possível criar planos, recortes e animações não praticadas até agora no teatro, por exemplo”.
Para o diretor, as distopias aproximam o público da ideia de que a destruição do mundo como o conhecemos não é uma ideia tão distante assim. “Estamos lidando com uma linguagem próxima das histórias em quadrinhos, então há exageros e emoções exacerbadas, mas existe ali uma potencialização do que já estamos fazendo enquanto sociedade. O mundo pode sim ser devastado pelo dinheiro ou por radicalismos religiosos, por exemplo”, afirma Nelson.
As ilustrações, que posteriormente foram animadas, são de autoria do ilustrador e quadrinista Guazzelli. O cenário é 100% digital e divide espaço apenas com os atores e alguns poucos elementos cênicos, como acessórios carregados pelas personagens e uma plataforma, que mantém o personagem Acônito em um plano superior, já que sua participação acontece principalmente em cima de uma torre.
A ideia de criar uma peça com esses elementos foi de Paula Picarelli, que, a princípio, se inspirou no romance 1Q84, do escritor japonês Haruki Murakami. “Eu tenho uma ligação forte com artes marciais, que pratico há mais de vinte anos, e o livro tem a ver com esse universo e também com uma seita religiosa, outro assunto de grande interesse para mim”, conta a artista.
Para colocar as ideias no papel, ela convidou Fábio Moon e Gabriel Bá para escrever a peça. “Eles agregam aos quadrinhos histórias sensíveis e muito pessoais, daí a importância de eles assinarem um texto que se passa na estética desse universo que eles já dominam”, diz Paula. Para ela, também foi fundamental convidar Nelson para assumir a direção, já que o artista tem especialidade na linguagem cênica, e Daniel Gaggini, que além de ser produtor teatral, é produtor audivisual. “São pessoas de diferentes mídias trabalhando e se desafiando juntas o tempo inteiro”, conta a artista.
Na peça, não faltam referências da cultura pop para a composição de cenário e figurino. Maurício Brandão, do BijaRi, destaca o clima expressionista da cidade retratada no Mundo das Máscaras, bastante inspirada na cidade futurista de Metrópolis, filme de 1927, dirigido por Fritz Lang. A história em quadrinhos Maus: A História de um Sobrevivente, ambientada no período da Segunda Guerra Mundial, que retrata os judeus como ratos e nazistas como gatos, também integra o rol de referências do estúdio.
Outra fonte de inspiração são os filmes do ator e lutador chinês Bruce Lee (1940 – 1973) na composição do figurino e também nos movimentos de artes marciais aplicados nas coreografias criadas por Luis Pelegrini.
Sobre uma possível moral ou mais informações sobre o terceiro mundo, Paula prefere deixar a cargo do público a reflexão a respeito do que as civilizações humanas têm feito até agora. “As histórias que contamos sobre o passado também são ficções e nos aliamos àquelas pelas quais temos afeto”, finaliza.
Sinopse:
Em que consiste a fé e onde começam o fanatismo e a loucura? Por que é tão difícil a convivência pacífica entre crenças diversas? Os 3 Mundos, primeira obra teatral dos quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá, é um espetáculo multimídia de ação que mescla teatro, cinema, HQ e Kung-Fu.
Em um mundo pós-apocalíptico devastado por guerras, Lachesis lidera o Grupo da Serpente, uma grande família de praticantes de Kung Fu que habita as ruínas das estações de metrô e vive sob dominação total de sua líder.
Ao deixar este submundo em busca de um novo membro, o grupo se confronta com o Mundo das Máscaras, liderado por Acônito que, do alto de sua torre, comanda os membros de seu grupo com mãos de ferro.
Neste enfrentamento, ambos os líderes devem lutar para manter seus súditos sob domínio e, ao mesmo tempo, derrotar o inimigo, que alimenta o desconhecido. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Os 3 Mundos
Temporada: 2 de setembro a 16 de dezembro de 2018
Datas e horários: quinta a sábado, às 20h e domingo, às 19h
Local: Teatro do Sesi-SP – Centro Cultural Fiesp (Avenida Paulista, 1313 – em frente à estação Trianon-Masp do Metrô)
Classificação Indicativa: 14 anos
Capacidade: 456 lugares
Duração: 80 minutos
Grátis. Reservas antecipadas de ingressos on-line pelo site www.centroculturalfiesp.com.br. Ingressos remanescentes são distribuídos nos dias do espetáculo, conforme horário de funcionamento da bilheteria (quinta a sábado, das 13h às 20h30, e aos domingos, das 11h às 19h30).
Mais informações: www.centroculturalfiesp.com.br.
Ficha técnica:
História original: Fábio Moon e Gabriel Bá
Idealização: Paula Picarelli
Dramaturgia da encenação: Paula Picarelli e Nelson Baskerville
Produção: Daniel Gaggini
Assistente de Direção: Thaís Medeiros
Elenco: Paula Picarelli, Thiago Amaral, Tamirys Ohanna, João Paulo Bienemann, Alice Cervera, Artur Volpi, Rafael Érnica e Luciene Bafa
Ilustrações: Guazzelli
Projeção e Animação: Bijari
Música Original: Marcelo Pellegrini
Cenário e Iluminação: Marisa Bentivegna
Figurino: Marichilene Artisevskis
Coreografia e Preparação de Movimento: Luis Pelegrini
Direção de Produção: Katia Placiano
Design Gráfico: Dgraus
Adereços: Marcela Donato,Tetê Ribeiro e Silas Caria
Artista Residente: Luiza Magalhães
Fotos: Ligia Jardim
Direção Geral: Nelson Baskerville
Equipe Técnica de Arte Cênicas Sesi-SP: Miriam Rinaldi, Flavio Bassetti, Anna Helena Polistchuck e Daniele Carolina L. Ushikawa
Realização: Sesi-SP