Brasil em transe e o desmonte generalizado, duas constatações
.Por Bruno Lima Rocha.
Lado a lado com a violência simbólica dos discursos de ódio, galvanizados pelo atingido em Juiz de Fora (MG), temos a negação do direito ao reconhecimento e, concomitantemente, a perda progressiva dos direitos coletivos que vinham num crescendo desde 1932 e se consolidaram como política pública permanente na Constituição de 1988. Trata-se de restauração burguesa e liquidação da soberania popular e, por tabela, a soberania nacional.
O fim da proteção ao mundo do trabalho é o velório da Nova República?
Vale alguma reflexão. O STF autorizara a terceirização para atividades fim em todas as empresas. Ou seja, entendo que eu na maioria das Pessoas Jurídicas, a classe trabalhadora do Brasil está diante de uma “Pejotização” galopante. Óbvio que a direita afirma que isso é “da nova economia”, ou que “a terceirização já existe, logo é preciso autorizar ou regular”. Me recorda o debate sobre transgênicos, que acabou sendo liberada a circulação de sementes assim no primeiro governo Lula utilizando um pouco da política do fato consumado. “As sementes vêm de contrabando da Argentina e assim fica impossível ilegalizar todo um setor e blablabla e cumpra-se”. Não custa lembrar. Sementes não são animados com mobilidade própria, logo, foram trazidas e o contrabando – a prática centenária de chibeiros – seria bastante controlável nas barrancas do rio Uruguai. Enfim, tal como o fato consumado das sementes, o mesmo se dá com a desagregação social que avança no país.
Uma observação vinda do nosso campo, pode afirmar que sempre houve desagregação social no período republicano, “desde que o povo bestializado assistiu a tal proclamação”. Não há contestação possível desta afirmação. A “tal da república” nunca foi inclusiva e incorporou um governo nacional com reconhecimento para os trabalhadores urbanos somente no varguismo, isso após completarem o trabalho sujo de Arthur Bernardes e Washington Luís, dizimando a liderança sindical de orientação anarquista no Brasil.
Em termos de maioria afro-brasileira, a repressão sempre se fez presente, e se faz, na distribuição espacial da mesma, cortando na ausência de direitos civis e sociais da maior parte de nossa população.
Logo, se nada disso é “novidade” (infelizmente), quais as características prevalentes de nosso momento histórico? Ou, falando em termos mais diretos, como liquidaram com a Nova República e quais suas consequências?!
Que tipo de crise é essa? Quando os setores não se protegem do entreguismo visceral
Sabemos a dificuldade de qualquer tipo de tabelamento de preços ter algum fôlego; o próprio Plano Cruzado e o congelamento de preços básicos levou a um aumento da sonegação e do crime contra a economia popular. Mas, isso é diferente de afirmar em termos de “modelo” que as “regras da economia” – ou seja, da balela neoclássica – vai ajeitar o excesso de oferta pelo crédito do BNDES durante o período lulista diretamente implicado no consequente aumento da frota de caminhões.
Resumindo: ou o setor de transporte de carga tem alguma forma de proteção para os caminhoneiros autônomos, ou cerca de 500 mil caminhoneiros – e pelas contas, dois milhões de pessoas – serão atingidos.
As empresas de agroindústria que têm crédito agrícola vão se defender do jeito que dá, incluindo o protelamento da execução de suas dívidas e quem vive no trecho vai engrossar o desemprego nas cidades.
Como pano de fundo, o que a laia quer fazer crer ao povo brasileiro? Que devemos quebrar o monopólio fático da Petrobrás, pois esta foi quebrada em função da “artificialidade” dos preços praticados anteriormente e também pelo modelo de partilha do Pré-Sal. Sobre a perda de causa e o seguido acordo com a Justiça dos EUA na defesa dos especuladores aglutinados como acionistas minoritários, óbvio que os “consultores” não dizem.
A “solução” apresentada é liberar a importação de diesel, gasolina e demais derivados por todas as transnacionais do setor de óleo e gás. E, também para a obviedade, a cambada nunca diz que existem 16 traders mundiais forçando os contratos futuros e incidindo diretamente na cotação do barril Brent.
Logo, desejam expor ainda mais a sociedade brasileira às oscilações forçosas dos especuladores. Como se chama isso em português? Em castelhano os países Hermanos denominam “vende pátria”. Concordo com o conceito.
Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política, professor de relações internacionais e de jornalismo. (estrategiaeanaliseblog.com )