Em São Paulo – Poderá ser vista até o dia 21 de outubro a exposição coletiva “Histórias afro-atlânticas” que reúne, em iniciativa inédita, duas das principais instituições culturais de São Paulo: o Instituto Tomie Ohtake e o MASP. Trata-se de um desdobramento da exposição “Histórias mestiças”, realizada em 2014, no Instituto, por Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz, que também assinam a curadoria desta nova mostra, junto com Ayrson Heráclito e Hélio Menezes, curadores convidados, e Tomás Toledo, curador assistente.
“Histórias afro-atlânticas” apresenta cerca de 400 obras de mais de 200 artistas, tanto do acervo do MASP, quanto de coleções brasileiras e internacionais, incluindo desenhos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos, instalações e fotografias, além de documentos e publicações, de arte africana, europeia, latino e norte-americana, caribenha, entre outras. Os empréstimos foram cedidos por algumas das principais coleções particulares, museus e instituições culturais do mundo. Entre elas, destacam-se: Metropolitan Museum, Nova York, J. Paul Getty Museum, Los Angeles, National Gallery of Art, Washington, Menil Collection, Houston, Galleria degli Uffizi, Florença, Musée du quai Branly, Paris, National Portrait Gallery, Londres, Victoria and Albert Museum, Londres, National Gallery of Denmark (SMK), Copenhague, Museo Nacional de Bellas Artes de La Habana e National Gallery of Jamaica.
A exposição articula-se em torno de núcleos temáticos, alguns dos quais presentes em “Histórias mestiças”. No Instituto Tomie Ohtake estão Emancipações; Ativismos e resistências; e no MASP estão presentes os núcleos Mapas e margens; Cotidiana; Ritos e Ritmos; Retratos; Modernismos afro-atlânticos; Rotas e transes: Áfricas, Jamaica, Bahia. Em cada núcleo, friccionam-se diferentes movimentos artísticos, geografias, temporalidades e materialidades, sem compromisso cronológico, enciclopédico ou mesmo retrospectivo. Histórias afro-atlânticas busca, assim, oferecer um panorama das múltiplas histórias possíveis acerca das trocas bilaterais – culturais, simbólicas, artísticas, etc. – representadas em imagens vindas da África, da Europa, das Américas e do Caribe.
É importante ressaltar que o Brasil é um território chave nessas histórias, pois recebeu cerca de 40% dos africanos que, ao longo de mais de 300 anos, foram tirados de seus países para serem escravizados desse lado do Atlântico (número correspondente ao dobro dos portugueses que se estabeleceram no país para colonizá-lo). De maneira bastante perversa, o Brasil foi também o último país a abolir oficialmente a escravidão, em 1888, por meio da Lei Áurea, que completa 130 anos em maio deste ano. (Carta Campinas com informações de divulgação)
NÚCLEOS INSTITUTO TOMIE OHTAKE
EMANCIPAÇÕES — este núcleo pretende mostrar como, por parte dos cativos e cativas, a escravização foi sempre entendida como um momento transitório, antecedente à libertação. A representação da escravidão, assim, está diretamente associada a revoltas, insurreições e formação de quilombos, ou seja, ao seu par binário e inseparável: a luta pela liberdade.
ATIVISMOS E RESISTÊNCIAS — ser mestre de si, desobedecer a oficialidade, é o mote que inspira este núcleo, tomando como exemplo as instabilidades e revoltas oriundas do Haiti, primeiro país a abolir a escravidão. Pretende, assim, pôr em diálogo diferentes temporalidades e geografias de ativismos afro-atlânticos, dando especial atenção às práticas de resistência à escravidão, às lutas por direitos civis e de combate ao racismo, aos rituais religiosos e às contra-narrativas de empoderamento e formação de espaços de sociabilidade negra.
NÚCLEOS MASP
1º andar
MAPAS E MARGENS — os fluxos afro-atlânticos são apresentados neste núcleo que abre a exposição no MASP e inclui trabalhos que lidam com as estratégias da cartografia e representações do trânsito entre as margens da África, Américas e Caribe.
VIDA COTIDIANA – este núcleo agrupa representações da vida cotidiana, em diferentes contextos históricos, dos períodos anterior e posterior à escravidão, nos Estados Unidos, Caribe, Brasil e África, com trabalhos de artistas de distintas nacionalidades. Está dividido em seções que abordam temas como mercados, a vida no campo e cenas urbanas.
FESTAS E RELIGIÕES – esta núcleo conta com representações diversas de festividades e manifestações musicais, como o carnaval, o merengue e o samba, bem como trabalhos que revelam a presença e a influência das religiões de matriz africana, sobretudo da cultural Ioruba, no Brasil, Caribe e Estados Unidos.
RETRATOS — em oposição às tradicionais pinacotecas de retratos de museus que exibem, em sua grande maioria, apenas a elite e as populações brancas, este núcleo apresenta um vasto conjunto de representações de negros e negras, elaboradas por artistas de diferentes nacionalidades e períodos históricos.
1º subsolo
MODERNISMOS AFRO-ATLÂNTICOS — este núcleo apresenta artistas modernistas africanos, brasileiros, cubanos e norte-americanos que trabalham, sobretudo, com a abstração, tanto geométrica, quanto informal.
2º subsolo
ROTAS E TRANSES: ÁFRICA, JAMAICA, BAHIA – este núcleo reúne representações de transe, religiões, rastafarismos, hipismo e psicodelismo, que informaram um conjunto de obras produzidas a partir de 1960, em trânsito entre Benim, Cuba, Jamaica e diferentes cidades do Brasil.