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Por nossa nova amizade: perdão, família de direita!

 

.Por Luís Fernando Praga.

O momento é de união e já não podemos mais abrir mão do enorme contingente de pessoas capazes, inteligentes e de alma generosa que optaram por exigir o impeachment, a intervenção militar e por nos empurrar esse golpe goela abaixo (como “GOLPE” é uma palavra muito forte e isso incomoda os golpistas, substituirei por “SOPAPO”, um sinônimo menos midiático, menos agressivo e mais divertido, a fim de trazer leveza à minha nova relação com os sopapistas).

O momento é de autocrítica, de rever conceitos e de voltar atrás em determinadas considerações que nós, da esquerda mortadela, e que eu, particularmente, tecemos a respeito daqueles que ocupam o “outro lado do front”.

Pretendo desfazer certos mal entendidos e me utilizar de palavras menos duras que as habituais, ao descrever atitudes, situações, pessoas e posicionamentos específicos sobre os quais, devido ao ímpeto do momento, acabei me expressando de forma menos educada do que poderia.

1) A questão da ignorância.

Em primeiro lugar, jamais fui de ofender, de chamar de vagabundos, bandidos, cachaceiros, cocaineiros, defensores de bandidos, etc., mas, não nego, sempre chamo o enorme contingente de pessoas capazes, inteligentes e de alma generosa que optaram por exigir o impeachment, a intervenção militar e por nos empurrar o sopapo goela abaixo, de alienados, manipulados e ignorantes.

Devo esclarecer que, apesar de soar ofensivo, não considero a ignorância uma ofensa, mas a realidade de todos os seres humanos, inclusive eu, claro. O que temos por conhecer e aprender, o que resta de ignorâncias em nosso escasso conhecimento, é muito maior do que aquilo que já conhecemos, então, o que acredito é que, nesse momento político, sobrou ignorância política, sem ofensas, a essa parcela da população, que, dessa forma, adquiriu as condições necessárias para ser mais facilmente manipulada a fim de promover o sopapo no Brasil, mas estou disposto a modificar meu discurso em prol de uma possível união:

Ao invés de dizer que aqueles que caíram no discurso de Aécio Neves (“Somos todos Aécio!”), Eduardo Cunha (“Somos todos Cunha!”), do Dória, da rede globo, do Malafaia, do Caiado, do Bolsonaro, do Frota, do Lobão, da Janaína, etc. sejam ignorantes no que diz respeito ao passado e ao presente dessas personalidades, à sua história política e às suas ligações históricas com a corrupção, o capital estrangeiro e o pensamento fascista, a partir de hoje direi que foram vítimas de seu próprio e assombroso “conhecimento reverso” de nossa história e das relações de causa e efeito; e espero firmemente que um dia esse conhecimento reverso possa demonstrar alguma utilidade prática para nossa nação!

Pronto, corrigida a parte da ignorância.

2) A questão ódio.

Não mais afirmarei que as pessoas foram às ruas bater panelas e chamar a Dilma de vagabunda e exigir o fim da democracia apenas por pedaladas fiscais (delito que já nem é mais delito e pelo qual ela já foi inocentada), por ódio! Não vou mais afirmar que as pessoas ficavam vermelhas, indignadas, cuspindo ódio ao exigirem a prisão de Lula sem provas e a extinção do PT por ódio!

Não foi por ódio, pois essas pessoas ficam todas sorridentes e não saem de seus sofás quando a Petrobras é sucateada, quando a inflação galopa, quando o desemprego decola, quando o salário despenca, quando deputados são comprados pelo PMDB e PSDB por valores cada vez mais exorbitantes e quando o presidente se encontra com criminosos de madrugada no Palácio da Alvorada.

Essas pessoas jamais estiveram cultural ou midiaticamente predispostas a odiar o Lula, a odiar a esquerda, a odiar o PT e a odiar mulher; a partir de hoje direi que elas fazem isso graças a seu amor, amor inabalável pelo conhecimento reverso!

Pronto, ninguém mais sente ódio de ninguém! Amigo, amigo!

3) A questão do ridículo.

Esse é um ponto que exige minha mais ampla retratação! Assumo minha deselegância ao tratar por “ridículas” atitudes belas, naturais, esperadas e óbvias, praticadas pela gente de bem. Hoje é cristalino como a água e só quem é cego ou petralha não enxerga as mais nobres reações diante de situações como:

3-1) A ameaça iminente de que os comunas bolivarianos tingissem, na calada da noite, nossa amada bandeira de vermelho.

Admito: foi graças àquela senhora equilibrada, representante da gente de bem, que nos alertou, em rede nacional, a respeito dos malditos comunistas pintores de bandeiras, que o mal maior foi evitado! Nossa bandeira continua com as cores do PSDB, deixando as cores do comunismo na bandeira comunista do Japão comunista. Obrigado, moça da bandeira!

3-2) Às lideranças do movimento a quem sempre ridicularizei, aqui vai meu arrependimento:

Ridicularizar nomes como os do jovem intelectual, Kim Kataguri (“Feminista para mim é falta de rola, tem que amarrar e desce o salame!”), da jovem, tranquila e equilibrada advogada, Dra. Janaína Pascoal (“Deus fez composição para o impeachment acontecer!”), do jovem cristão, deputado e pastor, Marcos Feliciano (“Africanos descendem de um ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato!”), do filósofo do livre pensamento, Olavo de Carvalho (“Só um imbecil completo deseja ter uma opinião própria!”), do defensor da moral e dos bons costumes, Oscar Maroni (“Moro, enquanto o pau funcionar você tem entrada livre aqui no meu bordel!”), de Alexandre Frota (“Namorei 2 anos com o deputado Marcos Feliciano e ele nunca me falou em cura gay!”), do representante da mudança política no Brasil, Aécio Neves (“Tem que ser um que a gente mata antes dele fazer delação!” e “É tudo culpa do PT!”) e do Ronaldo Fenômeno (“A culpa não é minha, eu votei no Aécio!”) entre tantos.

Deixo minhas sinceras desculpas e assumo: era tudo inveja, por parte de quem só tem ao lado nomes ridículos como os do Papa, do Pepe Mujica, do Noam Chomsky, do Oliver Stone, do Pedro Sanchez (primeiro ministro da Espanha), de Mohamed El-Baradei  e Adolfo Perez Esquivel (prêmios Nobel da Paz), de Gregório Duvivier e Jô Soares, do Chico Buarque de Holanda, de Celso Bandeira de Melo e Celso Amorim, de Chico Pinheiro, Luiz Nassif, Paulo Henrique Amorim e Fernando Morais, de Fernanda Montenegro, Wagner Moura e Sônia Braga.

Desculpem, não fui capaz de perceber que vocês estavam ao lado da ética, da lógica, da inteligência e do conhecimento (reversos) por todo o tempo!

3-3) As manifestações.

Fui um crítico severo das manifestações empreendidas pela gente sopapista e, por Deus, pela família, pela honra, pelas criancinhas do meu Brasil varonil, pela ética na política, pela moral e pelos bons costumes, afirmo que pequei e que preciso me retratar!

À família de bem, tradicional, brasileira, representada pelo jovem casal branquinho que esbanja seu patriotismo fashion, com uniforme completo e oficial da gloriosa e ética “CBF”, que esbanja seu amor e suas melhores intenções ao portar seu pixuleco esfaqueado, que esbanja sua vontade de justiça social batendo em suas panelas “Le Creuset” seguidos de sua “doméstica” negra batendo em sua caçarolinha de alumínio e empurrando o carrinho dos gêmeos e seus “smartphones” de bebês burgueses, peço desculpas por ter julgado como seletiva a sua indignação, por ter julgado injusto o seu senso de justiça e por ter julgado como manipulação o seu íntimo e legítimo empenho em ir às ruas por este país melhor que temos hoje graças a Deus e a você, família inoxidável!

Finalmente quero me redimir de meu pior equívoco, que foi o de considerar ridículas as manifestações sopapistas no quesito coreografia, alegorias e adereços. Acho que me equivoquei redondamente e o mínimo que posso fazer em sinal de reconhecimento aos belos desfiles que fizeram pelas nossas ruas é dar uma nova roupagem aos comentários que teci inadvertidamente.

Valho-me, para tanto, do auxílio de meu novo amigo neoliberal e carnavalesco Jorginho Neves, como comentarista especializado; e reformulo agora minha análise dos fatos:

(Eu)_ E vai começar agora mais um grande ato público por um Brasil sem corrupção! Agora vai! Primeiro a gente tira ela, meu povo! Olha o som gostoso das panelas! Olha a independência dessa gente! Olha o povo brasileiro ali representado com primor, sem preto e sem vermelho! Olha a escola sem partido e a ponte pro futuro alavancando esta nação! Vem com o Brasil, gente de bem! Vem comigo, Jorginho!!

(Jorginho)_ Já vim, amor! Luís, meu jovem, eu nunca vi coisa tão linda! É simplesmente um luxo essa produção! Dá pra ver que agora vai! Somos todos Cunha, Luís!

(Eu)_ É isso aí, Jorginho, todos Cunha! Jorginho, agora vamos falar de coisa séria: e essa coreografia, Jorginho, é “mara” ou não é “mara”?

(Jorginho)_ É mais que “mara”, Luís, é “mara-mara”, essa coreografia é tudo de bom!

(Eu)_ Pois é, Jorginho, também achei de uma felicidade incrível esses passinhos e…

(Jorginho)_ É isso, Luís, meu querido, isso sim é que é passista! Com a direita no comando a coisa sai direita, sai limpa, sai padrão FIFA, FIESP E CBF! Quero ver fazer desfile rico assim em Cuba ou na Venezuela, Luís!

(Eu)_ Aproveitando a sua interrupção,  Jorginho, eu ia dizer exatamente isso e…

(Jorginho)_ É isso, Luís, meu lindo! Vai pra Cuba, petralhada! Fora Dilma e morre PT, se Deus quiser, Luís!

(Eu)_ Mas, Jorginho, me diz o que é aquilo pelo amor de Deus! São patos fantasiados ou são patos de verdade, Jorginho?

(Jorginho)_ Luís, meu fofo, é difícil acreditar, mas são patinhos fantasiados, crê, menina?! Aquela patinha girando o bracinho pra direita é a nossa Luana, alta, loira e branca que mais parece a princesa Isabel! Ao lado dela vem o nosso queridão Bernardinho Holiday, pretinho com alma de branco escravagista, que nem chega a manchar o desfile, Luís!

(Eu)_ É bárbaro, Jorginho! É fantástico, meu povo! Plim Plim, Jorginho, é muita sincronia ou não é? É muita garra dessa gente! É muito patriotismo! Somos todos Aécio! É muito tale…

(Jorginho)_ É muito talento, Luís, isso sim, meu general! Luís, eu tenho certeza e você pode ter certeza comigo: se o Cirque du Soleil descobre esses dançarinos ele contrata pra ontem, mas se Deus quiser quem vai pra fora do nosso Brasil, mas expulsa, será comunidade vemelhocrata, esses filhos da puta da esquerda, meu rei, esses comedores de criancinhas e de mortadela falidos, pretos e miseráveis, meu doce!

(Eu)_ É isso aí, Jorginho! Na dancinha, meu povo! Obrigado, Jorginho, por mais esta jornada simplesmente encantadora! Quando acaba outro grande desfile, da gente de bem! E se os manipulados da esquerda quiserem reclamar vão ter…

(Jorginho)_ Vai ter SOPAPO, Luís! Vai ter sopapo nessa gentalha toda, em nome do Senhor! Não é que eu odeie, Luís, mas essa esquerda eu não aceito! Analfabeto mandando em mim eu não aceito! Preto eu até aceito, mas preto na faculdade, preto no avião, ah, isso eu não aceito! Vai ter SOPAPO, Luís, meu gostoso! Somos todos patos!

(Eu)_ É isso aí, Jorginho! Somos todos patos!!

Depois de rigorosa autocrítica, essa foi a forma que encontrei para me desculpar com toda essa gente maravilhosa de quem ridicularizei hábitos e costumes tão humanos e bem embasados!

Não, gente de bem, você não precisa fazer nenhuma autocrítica, é sério! O equívoco foi todo meu, todo nosso, da esquerda. Vou inclusive tentar convencer meus amigos a seguirem vocês na rede social para absorverem parte de seu conhecimento e de sua generosidade, porque absorver tudo a gente não vai conseguir!

Obrigado! Somos todos patos! Segue o SOPAPO!

#LulaLivre

 

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