Em São Paulo – Você já imaginou um rótulo de papel ou papel de bala se tornar peça de museu? Já pensou que papeis de nosso cotidiano, que são descartados sem nenhuma cerimônia, também podem contar história?
A exposição “Papéis Efêmeros: memórias gráficas do cotidiano” apresenta uma coleção inusitada – para não dizer curiosa – e traz embalagens, cardápios, rótulos, decalques e outros materiais de descarte rápido, mas que têm funções necessárias e importantes como proteger e informar.
A mostra é fruto da parceria de duas instituições, Sesc e USP; o acervo, trazido do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, ou Museu do Ipiranga, como é mais conhecido, ficará no Sesc Ipiranga até o dia 26 de agosto de 2018.
São cerca de 500 peças gráficas que foram guardadas ao longo do tempo pelo Museu, grande parte do acervo pertence a Coleção Egydio Colombo. Colombo era historiador da arte e arquiteto e em sua coleção, doada ao museu em 2003, se encontra desde filipetas de oráculos até embalagens de bebidas e cigarro.
Essas peças e outras doações de colecionadores fazem parte do acervo criado e intitulado com a categoria “outros” e estão entre as seções do patrimônio histórico resguardado pelo Museu.
Os curadores da exposição, o designer Chico Homem de Mello e a diretora do museu Solange Ferraz de Lima, fizeram um recorte que valorizou a diversidade de uso e funções dos impressos, ao mesmo tempo que nos faz passear e refletir sobre costumes sociais e períodos históricos, processos criativos dos designers da época (que não assinavam suas criações) e técnicas quase extintas como litografia e tipografia.
Dispostos em 5 núcleos: Consumo, Educação e Cultura, com 2 eixos transversais, Técnicas de Impressão e Design, a mostra revela as visões curatoriais acerca do acervo.
Memórias afetivas da infância, como papéis da bala Juquinha e Dulcora, se misturam à revistas de design nacionais, internacionais e catálogos de moda do Mappin. Se o impresso popular garante identificação imediata com o público, um olhar que leve em conta o design traz discussões mais técnicas para aqueles que se propuserem a essa aventura pelo tempo. Outra face da mostra revela mídias que desapareceram, como partituras com capas ilustradas utilizadas nos saraus, entre as décadas de 1910 e 1930.
No eixo Consumo, o público é convidado a lembrar de marcas e tendências de determinadas décadas; no núcleo Educação, cadernos de caligrafia rememoram mais uma vez a infância e despertam ligações entre a imagem e a palavra. Já no conjunto Cultura, a moda, a música e a gastronomia surgem junto aos elementos ligados às crenças populares, revelando a efemeridade das próprias concepções humanas de beleza, estética e fé.
O eixo de Técnicas de Impressão conta como metodologias e mecanismos de impressão foram responsáveis por alterar o curso da história do design e da própria cultura urbana.
O núcleo Design discute a apropriação do cotidiano pelos meios considerados “eruditos” pela sociedade e nos remete a pensar como essa produção serviu de inspiração para o design contemporâneo.
Além da exposição, haverá uma programação integrada que contempla ações formativas com cursos e oficinas, além de bate-papos.
Ephemeros: do grego; significa “o que dura apenas um dia”. Os papéis encontrados na exposição poderiam ter sido descartados, mas alguém em algum momento percebeu que esse papéis carregavam uma história.
As peças colecionadas ao longo do tempo e que hoje fazem parte do acervo do Museu Paulista, servem para contar um pouco não só da história dos costumes de uma época, mas também da história do design.
Ao passear pelos espaços é possível que o visitante leve consigo memórias, sejam elas efêmeras ou não, e um pouco das histórias e dos afetos, do tempo e do espaço onde esses papéis estiveram presentes. (Carta Campinas com informações da Revista E On Line)