.Por Miguel do Rosário.
Eu queria entender esse sectarismo anti-Ciro da militância petista.
Ciro foi fiel ao PT e a Lula do início ao fim. No mensalão, quando vários petistas pularam fora ou se acovardaram (inclusive muitos que hoje posam de valentões), estava lá, firme.
Hoje é crítico duro da condenação de Lula, sobre a qual afirma, categoricamente, que é injusta, agregando que leu a sentença com atenção e dá sua opinião inclusive como professor de Direito.
O PT fez acordos inúmeros com a direita, com o PMDB, com diversos partidos conservadores, com Geddel, com Temer, com Cunha, e a militância sempre entendeu, em nome da governabilidade. Eu mesmo entendi, embora apontando que, sem estruturar uma comunicação autônoma, forte, o campo popular não conseguiria sustentar politicamente durante muito tempo suas iniciativas, e ficaria cada vez mais dependente da direita para governar.
Mesmo assim, entendi. E segurei as pontas. Ciro também. Foi ministro de Lula e se manteve leal, reitero, todo esse tempo.
Por que essa implicância agora com Ciro Gomes, que tem um programa econômico à esquerda do PT, que está num partido de esquerda, que tem ideias progressistas?
Se Ciro quisesse “trair” o PT, tê-lo-ia feito, como todo mundo, ao longo do processo de impeachment, não?
Todos os ministros do STF, indicados pelo PT, traíram o partido, traíram inclusive a Constituição pela qual juraram. Traidor é que não falta no Brasil, mas só podemos julgá-los como traidores depois que traírem. Chamar alguém de traidor antes da trairagem não é correto.
Além disso, a militância está caindo muito facilmente nas intrigas da mídia. A grande imprensa pinça uma frase de Ciro Gomes, para intrigá-lo contra o PT, e a militância acredita? Ora, antes de acusar Ciro por causa de frases jogadas pela mídia, assistam a entrevista, leiam a íntegra das respostas.
Acho que é o momento da esquerda petista calçar a sandália da humildade e entender que boa parte das desgraças que acometem o PT nasceram de erros do partido, a começar pela indicação de ministros do STF inteiramente descomprometidos com as causas democráticas e sociais do campo progressista-popular, incluindo aí a defesa das garantias e direitos fundamentais. Não só no STF. No STJ, nos tribunais de segunda instância, na PGR, o PT não teve uma visão estratégica no uso de suas prerrogativas presidenciais para nomear juízes.
Não só isso. O PT não produziu sequer um debate contra o estado de exceção. E não foi por falta de aviso. A Lava Jato mostrava as garras, e Dilma e seu ministro da Justiça batiam palmas para maluco dançar, ao invés de iniciar um enfrentamento republicano, democrático, transparente, duro, contra os arbítrios e abusos de poder da Lava Jato.
Na comunicação, nem se fala. O PT errou feio na comunicação, e esse não foi um erro menor: foi um erro de grandes proporções, que resultou num enfraquecimento histórico do campo progressista. Fortaleceram a Globo e enfraqueceram a mídia alternativa e as rádios comunitárias.
Lula é um preso político e foi condenado sem provas. Ele é inocente do caso triplex, mas não é inocente dos erros políticos, como o já mencionado processo de escolhas de ministros do STF, que resultaram em sua prisão. Obviamente ninguém deve ser preso por causa de erro político, mas é preciso entender que erros políticos trazem consequências graves, terríveis até, para aqueles que os cometeram.
Enfim, o PT e sua militância precisam, a meu ver, ajudar a esquerda a construir pontes entre si, e não dinamitá-las com julgamentos afobados, passionais.
Tenho impressão que muita gente que hoje condena Ciro Gomes sem nem ler o seu programa ou assistir com serenidade suas entrevistas vai acabar passando vergonha.
E, por favor, sem me xingar, sem inventar teorias de conspiração, sem insinuações baratas, e demais truculências.
Vamos debater na boa!
Miguel do Rosário me sai com cada uma… Ciro tem todo direito a ser candidato, mas nenhum direito de querer se eleger com os votos de Lula. #LulaLivre #LulaInocente #LulaPresidente Pela base petista, Ciro não passa!
No começo, com as alianças com o que havia de pior na política (PMDB, etc.), me desfiliei. Com o tempo, aceitei que não se faria nada sem essas alianças pois o povo não estava (e ainda não está) preparado para sustentar um governo de esquerda. Na verdade a grande maioria do povo não está nem aí, alienados, ignorantes e muito cheio de si. Mas com o desenrolar trágico dos acontecimentos tendo a voltar às origens: o Diabo costuma cobrar os acordos com juros e correção monetária. Daria para fazer diferente? Nas circunstâncias da época, não. As estruturas oligárquicas descompromissadas com o interesse do povo teriam escorraçado Lula nos primeiros meses de governo, como fizeram com Getúlio, Dilma.
Analise fria e realista dos fatos, sem paixões.
Para construir a ponte que Ciro e o PDT desejam será preciso uma negociação honesta e sem afobação. E sabemos que isso pressupõe que ambas as partes se convençam da honestidade uma da outra. Há sim razões históricas não desprezíveis para divergências e julgamentos passionais. Negociação honesta no caso significa reconhecer a necessidade de envolver sim as militâncias petistas e pedetistas país afora. Lula e a Direção Nacional já reconheceram que não são donos exclusivos do patrimônio do partido. Que Ciro e o PDT também tomem consciência disso será o primeiro e necessário passo.
Errar todos erramos. Indispensável é aprender com os próprios erros e também com os erros dos outros. Os maiores erros da história humana não foram cometidos pelas massas de trabalhadores, mas por minorias pretensamente mais competentes (Rosa Luxemburgo).