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A Petrobras sob o controle dos especuladores e a greve dos caminhoneiros

.Por Bruno Lima Rocha.

A paralisação e greve dos caminhoneiros deixou a nação estática. Iniciada na segunda dia 21 de maio, atravessou quatro dias até que na noite de 5ª, 24 de maio, o governo Temer teria “negociado” com “representantes” dos caminhoneiros. Vivemos o avesso do avesso.

Quem assinou o “acordo” de 5ª à noite foi considerado pelo governo ilegítimo como sendo os “trabalhadores do transporte rodoviário”. Logo na sexta dia 25 de maio, a paralisação continuava, até porque no meio da reunião de 24 de maio, o presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (ABCAM) se retirou.

Evidentemente que as reivindicações mais óbvias não estavam sendo atendidas. Sem a previsibilidade mínima, não há como seguir rodando “ganhando” bruto R$ 1,20 o quilômetro. Quanto à redução definitiva do valor dos derivados de petróleo, diesel, gasolina e querosene, nada feito porque além dos 10% a menos no preço da refinaria, a diretoria da Petrobras não se compromete com mais nada. Trata-se de outro capítulo da crise, a dependência do modal rodoviário e a subordinação da Petrobras às determinações dos especuladores paralisaram o Brasil.

Vale observar, novamente, o fenômeno. Os dados coletados foram vários, e nos dias durante a greve e paralisação, a trama do transporte foi verificada. A terceira semana de maio de 2018 viu-se diante de um fato. O país roda a diesel e os preços praticados pela Petrobras levaram algumas categorias de transportadores ao desespero.

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), rodam no país 2,7 milhões de caminhoneiros. Deste total, os chamados caminhoneiros autônomos são proprietários de cerca de 70% da frota e os demais, 30%, pertencem a empresas de logística e outros setores. De acordo com o Cadastro Geral de Emprego (CAGED) trabalham nas transportadoras 360 mil motoristas de carga, enquanto os autônomos são 1,8. Tal condição aproxima a maioria dos caminhoneiros de algumas reivindicações das empresas do setor, mas essa é uma aproximação. Os interesses não são os mesmos e menos ainda as representações.

Vale repetir. O governo ilegítimo tratou de “negociação” quem estava fazendo locaute e depois compôs com as emissoras de TV e conglomerados de mídia a “grande narrativa”. Houve locaute e segue havendo! A alegação é do núcleo duro de MT. E quem seriam os operadores máximos do locaute? Justo os autônomos, que trabalham por conta ou como locatários de donos de caminhões.

O discurso de “minoria radical” não colou nada bem e a revolta se somou com a necessidade da luta. O apoio popular para a causa, não baixou, de jeito algum. Os dias seguintes foram intensos: sexta dia 25, sábado 26, domingo 27 de maio; e a pressão continuou. É necessário reafirmar. Em Brasília, as duas entidades presentes na reunião do dia 24 de maio, no Palácio do Planalto, onde teriam chegado a algum tipo de acordo, não representavam a maioria dos caminhoneiros autônomos. É como se o “representante não representasse”.

O mesmo pode-se afirmar quanto à Petrobras. Sua diretoria indicada após o golpe parlamentar que levou Michel Temer ao Poder Executivo não representa nem os interesses do país e, menos ainda, tem o respaldo dos trabalhadores do setor. Não resta sombra de dúvida. A primeira reação de Pedro Parente já merecia a demissão sumária e imediata dele e de toda sua diretoria. Depois, em rede nacional, outra pérola do entreguismo a favor dos especuladores.

“Nosso objetivo é gerar valor para os acionistas no médio e no longo prazo”, afirmou o presidente da Petrobras, Pedro Parente, ao vivo, no Jornal Nacional, de 24 de maio.

Parente opera contra os interesses do país. Correu o país o texto da Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET) e é necessária a sua repetição: A partir de outubro de 2016, passou a praticar preços mais altos para os combustíveis, viabilizando a importação de derivado.

Com isso, a Petrobras perdeu mercado e a capacidade ociosa das refinarias saltou para 25%. Com menos refino, explodiram as exportações de óleo cru e as importações de derivados. O maior beneficiado foram os Estados Unidos: enquanto as importações de diesel se multiplicaram por 1,8 desde 2015, a importação de diesel dos EUA dos EUA aumentou 3,6 vezes. Passou de 41% em 2015 para 80% do total de importados pelo Brasil, ao mesmo tempo em que a Petrobras abria mão da refinaria de Pasadena.

Os grandes ganhadores foram os “traders” internacionais, dentre as quais o maior é a Trafigura, a gigante que montou o maior esquema de corrupção da história de Angola, estava envolvido até o pescoço com os escândalos da Petrobrás e foi surpreendentemente liberada pelos procuradores da Lava Jato e pelo juiz Sérgio Moro.

Cabe perguntar, porque a Federação Única dos Petroleiros (a FUP) e mesmo os setores dissidentes à esquerda desta entidade, não coordenaram esforços para lançar uma campanha em defesa da Petrobras, da composição nacional de preços e não subordinada aos especuladores transnacionais (os chamados traders). Seria o momento perfeito para tentar uma greve de trabalhadores do setor de óleo e gás, visando à retomada do controle nacional sobre o setor mais importante do país.

A falta de alianças políticas no nível social é proporcional ao abandono do trabalho na base da sociedade complexa que se formou no período do boom econômico, fomentado tanto pelo auge das commodities como pela dominação do capitalismo pós-fordista no regime de extração de mais valia coletiva e acumulação flexível.

A identificação imediata dos caminhoneiros autônomos é com motoristas de vans – como os transportadores escolares – motoboys, taxistas e até condutores de aplicativos. A sociedade brasileira tem uma complexidade nas relações econômico-produtivas e o sindicalismo verticalizado sozinho já não dá conta da organização do mundo do trabalho.

Mesmo com todas estas dificuldades somadas à confusão e o oportunismo ideológico da tentativa de captura pela extrema direita da justa luta dos caminhoneiros autônomos, o momento é de mais crise para o governo ilegítimo, aproximando o debate de necessidade de projeto de país e defesa incondicional dos interesses da maioria do povo brasileiro.

A legitimidade dos grupos de mídia também se fragiliza nesta semana de paralisação de caminhoneiros, pois a partir de 6ª dia 25 de maio, começaram a fazer o infame esforço de criminalizar a luta e acusar de locaute justamente quem trabalha por conta.

É o momento ideal para popularizar o tema da defesa da Petrobras pública e a serviço da soberania popular. Razões para esta luta não faltam, embora sejamos bombardeados, 24 horas por dia, com mentiras em relação ao Petróleo e o Pré-Sal.

Bruno Lima Rocha é vice-coordenador do Grupo de Pesquisa Capital e Estado, pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política, professor de relações internacionais e jornalismo

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