O que leva uma professora de história de 67 anos a sair da pacata cidade de Valinhos, no interior de São Paulo, comprar uma barraca e viajar quase 500 quilômetros de ônibus para acampar em uma calçada?
A fila formada por barracas improvisadas nas calçadas do bairro Santa Cândida não aguardam pelo show de um astro pop. São contracultura pura. E para entender o fenômeno que ocorre nos arredores da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba não é preciso ser antropólogo. A multidão que ocupa o entorno da prisão do ex-presidente Lula é a personificação dele mesmo, caminhando através dos seus, ali do lado de fora. O Lula que conversa com empresários e catadores. Com freiras e pais de santo. Apenas ele capaz de reunir tanta gente, de tantos times e credos, por um mesmo ideal: o de tirá-lo de lá.
Vera Lúcia Vieira dos Santos narra seus sintomas. “Estou sentindo a dor do parto. Eu consegui me separar do meu marido mas do Lula não consigo”. São 22h de quinta-feira (12) e a professora de história permanece sentada na porta de sua barraca, observando serena a movimentação de um grupo que desce a rua para buscar água e abastecer o acampamento.
Baiana da cidade de Itaberaba, Vera também sobreviveu sob a tutela de uma mãe solteira à miséria do sertão. Formou-se professora pela PUC Campinas aos 40 anos. Sua história se confunde com a de Lula e a de milhões de brasileiros. “Uma roça ter luz elétrica pra mim foi o maior feito do Lula. Um lugar que era tão pobre agora tem internet. A gente não valoriza porque sempre teve”, desabafa. “Hoje em dia é falar em justiça social que você é comunista…”.
Filiada ao PT há 35 anos ela narra sua relação “entre tapas e beijos” com o partido. “Tenho muitas críticas, desavenças… Mas não há motivo pra ele estar lá dentro”, diz, apontando para o prédio da Polícia Federal, onde Lula segue confinado desde sábado (7). Do auge de seus 67 anos, Vera ensina: “Política não se faz só de cima de um palanque. Política é o que está fazendo a cozinheira deste acampamento. É o que estou fazendo aqui”.
A professora, assim como centenas de acampados, acompanha o presidente desde os dias que passou concentrado no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, na semana passada. “Fui escondida do meu filho, que antigamente era do PSTU. E quando cheguei lá encontrei com ele”, conta, rindo. A conversa é interrompida pela chegada de uma amiga de Vera. É hora de dormir. Pergunto se o ex-marido não vai ficar chateado com a frase sobre a separação. “Magina, estamos separados mas unidos pelo Lula!”. (Do site Lula.com.br)