Em São Paulo – Referência na pesquisa de linguagem do teatro de animação – dentro e fora do Brasil –, criador de festivais e pioneiro em diferentes técnicas teatrais no país, o Grupo Sobrevento completou recentemente três décadas de estrada. E esteve, em 2017, em importantes turnês pela França e China, quando apresentou parte de seu repertório no festival Mondial des Théâtres de Marionnettes, em Charleville-Mézières, e também nas cidades de Hangzhou, Kushan e Shanghai.
Agora, em 2018, o grupo volta a se apresentar em São Paulo a partir do dia 21 de abril até o dia 27 de maio, com seu mais recente espetáculo voltado ao público adulto: Escombros. A peça trata da destruição, da ruína de pessoas, de relacionamentos, de valores, de um país e do mundo. Pessoas que perderam tudo vagam sobre escombros e tentam, apesar de toda a desesperança que paira no ar, compreender como tudo se perdeu sem que se dessem conta. E buscam recompor um mundo que desabou e, portanto, não existe mais.
Entre as ruínas de uma casa, objetos como portas, janelas, cadeiras, mesas, uma penteadeira e muitas xícaras e bules de café falam do desabamento de um país e tudo o que foi demolido com ele ou que o fez desmoronar. Cenas muito simples e cotidianas, diálogos desamarrados, coreografias segmentadas revelam o vazio e a desconexão das figuras que transitam sobre uma ausência de memórias e perspectivas. Os objetos são usados em tamanho natural, ao contrário das miniaturas que abundam no Teatro de Objetos, e somente como os objetos que são, sem sobrepor-lhes metáforas. Uma cenografia de terra seca, escombros e ruínas que se estendem aos atores e aos objetos, cobertos de barro seco e figurinos endurecidos, secos e sujos completam o quadro, sob uma luz em raios e envolto em uma música tensa e em uma canção que amarra todas as cenas do espetáculo.
“A destruição do nosso entorno, a ruína de nossas construções, de nossa casa, de nossos sonhos termina por contaminar as nossas relações com os outros e, por fim, entranha-se em cada um de nós, penetrando-nos os ossos e a alma”, diz Sandra Vargas, que dirige o espetáculo ao lado de Luiz André Cherubini.
A pesquisa teve como ponto de partida a exploração da linguagem do Teatro de Objetos e a memória como mote principal. A montagem põe lado a lado cenas de uma dramaturgia intimista e delicada, de diálogos simples e diretos, e cenas sem palavras, coreografadas, revelando a humanidade possível em uma atmosfera de vazio e desolação.
A música do paranaense Arrigo Barnabé e uma canção do carioca Geraldo Roca em parceria com Rodrigo Sater, na voz do cantor sul-mato-grossense Márcio de Camillo, embalam esta montagem paulistana, que conta, ainda, com figurinos do estilista mineiro João Pimenta e iluminação do carioca Renato Machado, fazendo de Escombros um espetáculo que representa muitos cantos do país em que vivemos.
O Sobrevento vem centrando sua atenção no Teatro de Objetos, criando novas abordagens e rumos para esta linguagem teatral, a ponto de ter integrado a programação “O que é o Teatro de Objetos em 2017?”, no maior Festival de Marionetes do mundo, na França, sob curadoria da belga Agnès Limbos, uma das mais renomadas artistas do gênero.
O Teatro de Objetos é a vertente mais moderna do Teatro de Animação. Baseia-se no uso de objetos prontos no lugar de bonecos. Para o Sobrevento, que é uma das companhias especialistas brasileiras nesta linguagem, o Teatro de Objetos é particularmente provocador quando apresenta um repertório pessoal, autobiográfico, íntimo e autoral do ator, que se expõe através dos objetos. O grande potencial do Teatro de Objetos não está nas suas particularidades técnicas, mas, sim, naquilo que é capaz de despertar de mais profundo e revelador daquele artista, por meio de seus objetos. Como disse Christian Carrignon, um dos precursores da linguagem no mundo, “o Teatro de Objetos pertence ao nosso tempo e à nossa sociedade e sua vocação primeira é a de tocar nossa intimidade, de interrogar o enigma que nós somos aos olhos dos outros.”
Formado em 1986, o Grupo Sobrevento é uma companhia profissional de teatro que mantém um repertório de espetáculos e que se dedica à pesquisa, teórica e prática, da animação de bonecos, formas e objetos. Desde sua fundação, mantém um trabalho estável e ininterrupto e tem-se apresentado em mais de uma centena de cidades de 25 estados brasileiros. O Sobrevento esteve, também, no Peru (1988), Chile (1996, 2002, 2009, 2010 e 2017), Espanha (1997, 1999, 2000, 2001, 2004, 2007, 2008, 2009, 2010 e 2011 e 2014), Colômbia (1998 e 2002), Escócia (2000), Irlanda (2000), Argentina (2001), Angola (2004), Irã (2010), México (2010), Suécia (2011), Estônia (2011), Inglaterra (2013), França (2017) e China (2017), representando o Brasil em alguns dos mais importantes Festivais Internacionais de Teatro e de Teatro de Bonecos. (Carta Campinas com informações de divulgação)
Ficha técnica
Criação: Grupo Sobrevento/ Direção: Sandra Vargas e Luiz André Cherubini/ Dramaturgia: Sandra Vargas/ Elenco: Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Maurício Santana, Sueli Andrade, Liana Yuri e Daniel Viana/ Cenografia: Luiz André Cherubini e Dalmir Rogério/ Adereços: Sueli Andrade e Liana Yuri/ Iluminação: Renato Machado/ Figurino: João Pimenta/ Música original: Arrigo Barnabé/ Canção final composta por Geraldo Roca e interpretada por Márcio de Camillo/ Assessoria de imprensa: Márcia Marques – Canal Aberto
ESCOMBROS
De 21 de abril a 27 de maio. Sábados e domingos, às 20h. Entrada gratuita. Não recomendado para menores de 16 anos.
Espaço Sobrevento – Rua Coronel Albino Bairão, 42 – próx. Metrô Bresser-Mooca e Viaduto Bresser. Tel. 11-3399-3589.
70 lugares. Reservas: [email protected]
Realizado pela 31a. edição do PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO AO TEATRO PARA A CIDADE DE SÃO PAULO