.Por Marcelo Sguassábia.
Eis que, entre tentativas e erros, feridos e mortos, a coisa – que é aquilo que mais se aproxima do sonho humano da eterna juventude, aparece finalmente em 2018 como algo plausível. Com 100% de eficácia em ratos, e ao que tudo indica em homens também.
Trata-se da transfusão de sangue de pessoas novas para mais velhas, algo acalentado há séculos pela ciência.
Mesmo ainda sem o aval definitivo dos pesquisadores envolvidos nos estudos, o pretenso milagre já está à disposição de quem tem bala para pagar. Nos Estados Unidos, há filas de gente, com 35 anos ou mais, sem dó de bancar 8.000 dólares por procedimento.
Com a falta crônica de perspectivas de trabalho para os jovens do terceiro, do segundo e até do primeiro mundo, a nova técnica e sua disseminação trará, mais do que a perspectiva de rendimento, um doce meio de vida para a rapaziada até o momento tão sem norte.
Muitos sairão do desemprego para uma vida milionária, da noite para o dia.
Não demora e aparecerão clínicas especializadas em manter simultaneamente até 400 ou 500 jovens, em regime de alimentação ultrabalanceada, verdadeiros resorts juvenis, para que cada hóspede faça, entre um squeeze de megamass e outro, coletas seguidas de plasma rejuvenescedor. Ao preço que o mercado americano se dispõe a pagar, calcule o rendimento mensal a que cada molecote fará jus…
Só que aí começam os “poréns”. O aumento galopante da expectativa de vida, que é um problema sério a ser equacionado pelos sistemas previdenciários do mundo todo, ganhará um agravante cavalar – já que todos os bípedes falantes tornariam-se potencialmente candidatos à vida sem prazo de validade.
Não é preciso ter bola de cristal para antever que os doadores, que tão facilmente resolveriam seus problemas financeiros, acabariam tendo nos velhos rejuvenescidos os seus rivais. Isso porque os velhos, ao se tornarem jovens outra vez, irão querer para si a boquinha de 8000 verdinhas por transfusão. O colapso virá quando todos se tornarem jovens e não houver mais velho nenhum querendo pagar rios de dinheiro pelas transfusões. Antes da falência total do esquema, o excesso de oferta já terá feito o ouro vermelho despencar a valores aviltantes, pois a oferta será enorme.
Enquanto isso os neojovens, com hormônios saindo pelo ladrão, copularão desenfreadamente, ocasionando um baby-boom sem precedentes. Até que um dos recém-rejuvenescidos, mais esperto que a maioria dos seus pares, terá a genial ideia de tentar uma transfusão sanguínea de um desses bilhões de bebês para um colega-cobaia. Esse sujeito rejuvenescerá e voltará aos seis meses de idade. O raciocínio é lógico: por que sermos jovens se podemos voltar a ser bebês???
Todos então virariam bebês e o mundo se tornaria ingovernável. Mas um esperto preferirá não fazer a transfusão e tornar-se o rei do pedaço, por ser o único adulto remanescente em meio a hordas de lactentes.
Como toda fleuma e sabedoria, deixará que a idade lhe traga naturalmente a experiência que só os mais velhos podem ter. Usufruirá dela até os seus 90, e só então partirá para os rejuvenescimentos, que o permitam continuar sendo o mais velho do planeta, sem os percalços que a velhice traz. E será para sempre o dono do mundo, como se fosse um dono de creche.
*Ficção inspirada em estudo científico real.