Em relatório divulgado na último dia 19 de março, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou aos países-membros a adoção de soluções baseadas na natureza para a gestão dos recursos hídricos, como a captação da água da chuva.
A técnica, comum na agricultura familiar, é adotada, por exemplo, no assentamento Canaã, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), localizado nos arredores de Brasília.
No local, 37 famílias utilizam cisternas para captar água. O agricultor Flávio do Carmo é um dos beneficiados. Ele depende do sistema não só para uso doméstico, mas também para irrigar a plantação, onde cultiva rúcula, mandioca, abóbora e outros vegetais.
“Isso dá autonomia pra nós. É aproveitar esse bem natural e tentar fazer o ciclo da água porque ela cai do céu, mas você não deixa ela ir embora”, afirma.
Além disso, o agricultor construiu em casa uma fossa ecológica para evitar o uso de descargas tradicionais. Utilizando folhas de eucalipto, lona reciclada e pneu, foi possível aderir a um método sintonizado com os cuidados necessários ao meio ambiente.
“Se eu tivesse uma fossa comum, ela poderia poluir o lençol freático. Isso é uma ação minha como cidadão, [no sentido] de ter uma cidadania ambiental. Eu tenho consciência ecológica”, diz.
O bioarquiteto Sérgio Pamploma ressalta a importância de medidas ecológicas para minimizar o impacto que as atividades humanas causam ao meio ambiente.
Ele destaca, por exemplo, a permacultura, que consiste num conjunto de práticas destinadas à edificação de ocupações sustentáveis, entre outras ações de caráter ecológico. A área se utiliza de diferentes campos do conhecimento, como as ciências agrárias, a arquitetura e as engenharias.
“É o único caminho que nós temos neste momento pra humanidade. Não é porque eu acho que é bom. É porque é fundamental, necessário e urgente”, defende.
Trabalhando com permacultura há mais de 20 anos, Pamplona fez da própria casa um exemplo a ser seguido. Ele construiu um sítio todo baseado em técnicas sustentáveis. O local, que também abriga uma escola de permacultura, conta com cinco açudes e sete reservatórios e tem autonomia no consumo de água durante todo o ano.
Pamplona aponta a necessidade de uma mudança cultural para que esse tipo de prática seja amplamente adotado no país.
“Uma mudança da cultura não só dos usuários de água, mas de todos as correntes de gestores públicos porque, como você vê, o investimento de infraestrutura quase sempre é em megaobras. Se os governos quisessem adotar soluções, deveriam estimular e mostrar para as pessoas que isso é possível, viável, barato, acessível”, considera.
O sítio construído pelo bioarquiteto foi agraciado no ano passado com o Prêmio Iniciativas Urbanas Sustentáveis, da Secretaria de Meio Ambiente do Governo do Distrito Federal. (Cristiane Sampaio do Brasil de Fato)