.Por João Augusto Neves Pires.
Começo a escrever antes que morram essas ideias. Não contabilizo mais as tentativas de se iniciar este trabalho, apenas recomeço – mais uma vez – e deixo vazar as considerações sobre minhas experiências no mundo. Minha técnica é escrever pequenas peças, que, em algum momento da minha vida, me ponho a encaixá-las.
Foi exatamente nesse dia que o texto começou:
[Mesmo baixo chuva, Gabriella Zanardi pegou suas lentes e foi ao encontro de suas amigas.] = Uma peça que resolvi não usá-la. Talvez mais tarde!]
Estávamos finalizando o ano de 2017 – E que ano, viu! – quando foi anunciado a vinda do grupo. Todxs se prepararam para o retorno delxs que, em sua última visita, LACROU!! TOTAL!!! no observatório da UNICAMP. Imaginem um vento forte! Multiplica…Vocês terão noção o quanto ventava em um dos pontos mais altos da UNICAMP… No OBSERVATÓRIO!! E elxs arrasaram, show histórico. Nesse dia, de forma previsível, As bahias e a cozinha aproveitando o vendaval alçou voos mais altos.
Se nessa primeira visita a natureza nos brindou com ventania, em sua segunda vinda a Campinas – a qual a foto guarda registro – a chuva não nos deu trégua. Mesmo com intempéries climáticas a grande Estação ficou pequena para tamanha presença sonora do dia. No entanto, porém, todavia, não obstante, havia um pequeno detalhe. Faltavam alguns músicos instrumentistas. Bateria, baixo, teclados e instrumentos de sopro não se fizeram presentes no dia. – Por quê? Eu e muitxs outrxs se perguntaram.
A Virada Sustentável Campinas 2017, que programou tudo, não deixaria, por descuido ou um grande acaso, que faltassem importantes personagens para o espetáculo. Afinal, seus realizadores rezam a cartilha das OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) com um “modelo inovador do que é chamado de “Setor 2,5”1. O novo modelo de gestão (2.5) pretende, nada mais do que, mobilizar agentes interessados em promover debates públicos sobre sustentabilidade. Eles têm a grana, convidam os “agitadores culturais”, “Artivistas” e outrxs trabalhadorxs da cultura na cidade e planejam, dentro da ordem, uma Virada.
Os preceitos sobre a preservação do meio ambiente e de uma vida mais sustentável torna mais palatável, com bons aromas e temperos, questões de gênero, raça e classe. [É, realmente. Talvez seria muitoooooo difícil a sociedade campineira, filha de barões do café, última a cumprir a Lei Áurea, assistir duas mulheres trans NordestinasAfrodescendentes cantarem sobre as ruínas do seu progresso]. Isto talvez só seria possível por vias de REGRAS e contratos em que “a empresa atendendo apenas o que é de interesse privado, criando uma regra de governança que impede qualquer contaminação entre as duas pessoas jurídicas”. Essa estratégia explica o porque de nossa história.
Ao final do belo, porém estranho, show:
“– Pessoal, quem quiser fazer um registro com xs integrantes da banda façam uma fila ao lado da nossa LOGO da Virada Sustentável!”
Minha impressão [hipótese] sobre o ocorrido é que além de não disponibilizarem o recurso necessário para o show das Bahias e a Cozinha Mineira ainda colocam no acordo – de interesse privado e sem contaminação jurídica – a obrigação das moças ficarem pousando para fotos diante de uma LOGO horrível. O imaginário do ícone, da diva e deusa ainda preenchem nosso vazio. Me diga: Quem? Quem, não iria querer tirar uma foto, ter o registro da presença, de se aproximar de pessoas que fizeram, pensaram, orientaram, cantaram, musicaram, produziram, roteirizaram e dirigiram isso:
O desagrado causado pela Virada, por outro lado, nos revela os (des)caminhos do novo na velha indústria musical. O mercado impera, isso está claro. Agora, OSCIP’s, ao lado do Youtube®, Spotify® e Vevo®, comandando a locomotiva é a novidade. O Clipe que assistimos logo acima tinha sido lançado um mês antes do show na Cidade de Campinas. As Bahias e a Cozinha Mineira estão, junto com coletivos organizados – alguns de corajosxs militantes, outros de jovens empreendedorxs –, voando pelo país.
Desde do histórico vendaval na UNICAMP, vejo voos cada vez mais ousados e espetaculares! Mas, mesmo trilhando por vias independentes na música, dia a dia abrindo espaços, com sua rede de militantes e empreendedorxs, elxs tem de conviver e jogar com os (des)prazeres desse negócio. E As Bahias e a Cozinha Mineira tem feito isso com destreza. Segundo um famoso jornal, são elxs o lirismo que desafia monopólios.
A marca Absolut® que agrada o gosto da geração teen que precisa pagar as contas no final do mês, também embarcou nesse fluxo. Além de um grafite, feito por renomadxs artistas que pintaram o debate LGBTT’xxx nas vias do minhocão, o clipe de Linns da Quebrada com as Bahias impulsionaram para novos rumos xs envolvidxs no projeto.
Daí em diante elxs se tornaram ABSOLUTAS
Viu como o buraco é mais em baixo? Novos tipos de interação e formas no mercado. No passado próximo [digo década de 1970 e 1980] a via undergraud/“do it your self”/gay/girls/black/soul/funk tensionou os ditames da indústria da música e mostrou as ruínas nas bases do rico mercado fonográfico. Emerge dos escombros, nas primeiras décadas do XXI, com o capital reavivado por dosagens neoliberais e muita tecnologia digital, ultraprocessadores para a incorporação de propostas TRANSformadoras para dentro do próprio espetáculo.
Do primeiro acorde da canção até a cor do vestido, elxs, autonomamente, se organizam para vender o seu melhor. A bolsa, contabilizada por likes, comments, subscribers and views, indica à Absolut e demais empresas, ou mesmo as OSCIP’s, qual melhor custo/benefício. Enquanto xs artistxs se empresariam, ou formam grupos pequenos e autogestionados [veja como isso pode soar anárquico!], os investidores se preparam para a melhor hora do banquete.
1https://www.viradasustentavel.org.br/conteudo/transparencia.html
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