.Por Lilian Oliveira.
E o Dia das Mulheres, não é diferente. Ele veio de inicialmente do movimento de mulheres que reivindicavam as questões trabalhistas, antes do fato do incêndio na fábrica. Segundo as fontes de histórias, temos o movimento que ocorreu em uma grande passeata de mulheres, em Nova York em 1909. Em 1910, a alemã Clara Zetkin, na segunda conferência internacional de mulheres socialistas, propõe a criação de uma jornada de manifestações anual pela igualdade de direitos, sem, no entanto, haver uma data específica.
Em 1917, na Rússia, sai às ruas um grupo de mulheres operárias manifestando-se contra a fome e a Primeira Guerra Mundial. O fato ocorre em 23 de fevereiro, no antigo calendário russo, 08 de março pelo calendário gregoriano. Sendo adotado também por eles, em 1918. A data foi oficializada pelos soviéticos como celebração da “mulher heroica e trabalhadora”. A oficialização internacional da data foi em 1975, ano que a ONU intitulou de “Ano Internacional da Mulher”. Passando a ser convencionada a data em vários países.
Enfim, independente da exatidão da cronologia, e dos meandros que permeiam os acontecimentos que levaram a instituição do dia internacional das mulheres, fica claro o fato de ser permeado por lutas e mortes. Então, as flores que inundam esse dia, deveriam ter sentido de entregá-las em memória daquelas que foram nossas precursoras de nossas lutas. Lutas que perduram até nossos dias contemporâneos. Muitas já foram as conquistas. Contudo, ainda estamos longe de encerrarmos nossas lutas.
Ao escrever, já imagino que haverá os comentários de homens mal instruídos, atacando de forma vil nossa luta. Comentários até mesmo de mulheres que dizem contra o feminismo, sem de fato ter entendimento do que realmente é o feminismo. Que o feminismo não se opõe aos homens, e sim ao machismo. Que mata física, mental e emocionalmente. Comentários de pessoas que só querem tumultuar, dizendo que não somos as únicas que sofremos, que outros grupos também são, que pensamos apenas em nós e reclamos por como se diz usualmente “mi, mi, mi.”.
Sim. Eu concordo totalmente há o sofrimento geral humano, que grupos específicos, fora dos padrões aceitável socialmente, sofrem discriminação e tudo o mais. E, eles também caminham em suas lutas. Uma luta não excluí ou anula outra, assim como os sentimentos. Não somos dissociados uns dos outros. Somos miscigenados. E no fim, lutamos por uma mesma luta, o respeito. Respeito da nossa singularidade dentro da pluralidade.
Imagine, uma mulher negra, pobre, homossexual. Imaginou? Pois bem, que luta ela lutará? Somente a das mulheres? Não. Assim, é inadmissível a arrogância de pensarmos indissociáveis uns dos outros. Que a sua luta não implica em mim. Que a luta do outro não é minha. Que não é problema meu. Que é problema seu.
O problema é nosso. Nosso enquanto seres humanos, que carregamos – ou deveríamos – a característica que nos é intrínseca, a humanidade. Estamos perdendo o sentimento de comuna, comunhão, comunidade.
Hoje, não quero florzinha. Não quero ouvir um homem dizer: “hoje você não precisa cozinhar, vamos almoçar/jantar fora”. Ou, “Hoje eu vou fazer a comida”. E os outros dias? Anos e anos de jornada dupla, tripla quando se tem filhos? Não estou generalizando. Há sim, homens instruídos, que lutam também por nossa causa. Que nos tratam com respeito e igualdade. Mas, infelizmente essa não é uma realidade de maioria.
Hoje no dia 08 de março, não me sinto homenageada. Hoje, meu sentimento é de gratidão e de dor. Gratidão por todas que lutaram antes de mim. E dor por todo sofrimento que passaram. Assim, minhas flores serão em suas memórias. E serão também em oferenda a todas que virão depois de mim.