.Por Iolanda Toshie Ide.
Parecia a repetição da inundação de Mariana. Soda cáustica e metais tóxicos inundaram Barcarena (Pará). A população não tem água nem para beber.
Não foi acidente. A Hydro, empresa cuja maioria das ações pertence ao governo norueguês, é alvo de quase 2 mil processos judiciais por contaminação do meio ambiente no Brasil. Ela devia R$ 17 milhões ao Ibama em multas por contaminação de rios da região em 2009 após transbordar lama tóxica, informou a BBC/Brasil. Essa informação surgiu exatamente quando o governo da Noruega fez sérias acusações sobre desmatamento da Amazônia.
Moradores alertaram sobre vazamentos da mineradora Hydro, mas os responsáveis os acusaram de espalhar falsos boatos. No entanto, o laudo revela que houve transbordo de efluentes e – o que é pior – foi constado que a empresa instalara uma tubulação camuflada, pela qual rejeitos eram lançados nas nascentes dos rios.
Assim, país dito adiantado, alvo de inveja de brasileiros desavisados, é predador e grande responsável pela contaminação das águas. O Instituto Evandro Chagas constatou presença de alta concentração de elementos como alumínio, chumbo, sódio e nitrato e alumínio nos rios da região, fruto da irresponsabilidade da Hydro na transformação da bauxita em alumínio.
Não se trata de caso isolado: todos os anos tem havido contaminação das águas. Fotos dão conta do horror a que está exposta a população. Em 2017, a receita bruta da mineradora foi de R$ 45 bilhões, mas a Hydro se nega a pagar as multas ambientais.
Como se não bastasse, há ameaça de rompimento de outra bacia da Hydro que, pasmem, nem tem licença de funcionamento. Como em Mariana, a população de Barcarena sabe que a contaminação pode trazer sérias enfermidades. Pior que em Mariana, porque rejeitos foram lançados diretamente na região onde atua a Hydro.
Enquanto isso, o (des)governo do ilegítimo Michel Temer cortou 91% dos recursos do “Programa de Qualidade Ambiental”. Assim também, o “programa de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade”: dos R$77,9 milhões previstos para 2018, disponibilizará apenas R$7,3 milhões. Dos R$ 24 milhões de “Doações Internacionais para o Serviço Florestal Brasileiro” em 2018, R$ 20 milhões já foram bloqueados, ou seja, não serão utilizados para o fim específico.
Com a irresponsabilidade e o entreguismo que assolou o atual (des)governo, a população não tem a quem recorrer. Barcarena está às traças, enquanto o governo da Noruega nada de braçada e pousa de defensor do meio ambiente. Como dizia Eduardo Galeano, o mundo está ao revés. O acusador é um grande poluidor.
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