.Do facebook de Luciana Hidalgo.
Castástrofe à vista
Bombástico, correto e preciso esse texto da historiadora francesa Armelle Enders sobre o Brasil. Num artigo conciso, ela diz absolutamente tudo. E pior: mostra como a imagem internacional do Brasil despencou vertiginosamente desde o golpe. Não há investidor que se interesse por um país tão pouco confiável e corrupto. Na minha humilde opinião, só a união das esquerdas (e a recuperação de uma direita que não flerte com a extrema-direita) pode evitar a “catástrofe à vista” do título. Chega de fogo amigo, gente, porque a situação é gravíssima. Traduzo a seguir alguns dos melhores trechos (sem tempo para traduzir tudo)
“No ano passado, a destituição polêmica de Dilma Rousseff tinha permitido à direita brasileira eliminar o PT do poder e recuperar a presidência da República da qual esteve afastada, pelo voto, nas quatro últimas eleições. Depois da investida de Michel Temer (PMDB), que participou ativamente da conspiração contra a presidenta e bate recordes de impopularidade (97%!), o Brasil continua a degringolar e parece seguir o caminho de um regime autoritário.
(…) Michel Temer foi objeto de duas acusações pelo Ministério Público por corrupção passiva, obstrução à justiça e formação de quadrilha. Esta, que inclui dois ministros importantes, teria desviado 154 milhões de euros para a Câmara dos Deputados. Mas Temer não poderá lavar a sua honra ultrajada nem provar a sua inocência: ele literalmente comprou dos deputados o arquivamento da denúncia em troca de emendas, nomeações para cargos importantes, acréscimos orçamentários etc., e tudo isso por 8 bilhões de euros.
Para agradar os grandes proprietários rurais, Temer procurou aliviar os critérios que definem a escravidão moderna e limitar as prerrogativas dos inspetores do trabalho. Ele também tentou dar uma reserva natural a companhias mineradoras, depois voltou atrás. Sob a presidência de Temer, os grandes ruralistas estendem cada vez mais suas posses já vastas e tentam afastar todo tipo de gente que atrapalha – pequenos camponeses, índios, sindicalistas, pela força e pelo assassinato…
(…) Num país onde a esquerda está completamente desnorteada, onde os partidos totalmente desacreditados organizam condições para se perpetuar no poder, onde as autoridades são completamente nulas para assegurar a segurança dos bens e das pessoas, onde os salários dos funcionários não são mais depositados (como no Estado do Rio de Janeiro), onde a cada dia os escândalos e a enumeração de somas desviadas provocam vertigem, a possibilidade de que os eleitores sejam guiados em 2018 mais pela raiva do que pela razão é muito grande.
A burguesia brasileira se situa atualmente numa lógica “melhor Hitler do que Blum”, ou seja, “melhor Bolsonaro do que Lula”. O apego dos brasileiros à democracia derreteu como neve no solo enquanto só cresce o interesse por soluções autoritárias e expeditivas.
Teme-se que a operação Lava Jato, que revoluciona a vida política brasileira desde 2014, só tenha servido para esvaziar a esquerda reformista e abrir caminho, não a um Berlusconi – o que, nas circunstâncias atuais, seria menos mau – mas a uma ditadura retrógrada, fundada na aliança do neoliberalismo mais extremo com o neoconservadorismo evangélico.” (Brésil : catastrophe en vue)
Gilberto,
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