Contemporânea de artistas como Lygia Pape (1927-2004), Anna Maria Maiolino (1942) e Mira Schendel (1919-1988), Amélia pertence a um grupo célebre por aproximar a arte do cotidiano das pessoas. Em uma época em que se clamava por liberdade e direitos iguais – e o Brasil enfrentava uma longa ditadura militar – ela se consagrava como “grande dama da contracultura no Brasil”, nas palavras de Marcus Lontra.
Conhecida por investigar as potencialidades de diferentes materiais e técnicas, Amélia Toledo se tornou notável como escultora, pintora, desenhista e designer – e continua produzindo novos trabalhos até hoje, aos 90 anos. Para explorar todas as suas facetas, a exposição “Lembrei que Esqueci” reunirá cerca de 60 obras da artista, ocupando os andares do CCBB, divididos em núcleos temáticos.
A sugestão do curador é que o percurso comece no subsolo, setor mais intimista chamado de A Caverna. Os trabalhos selecionados para esse espaço utilizam fundamentalmente rochas e cristais para explorar os sentidos. A ideia é transpor o mundo das imagens e encontrar verdades inusitadas por meio do contato com o sensível. Os destaques ficarão com a obra sonora Dragões Cantores, composta por fragmentos de pedras moldados pelo movimento das águas do mar apoiados em colunas de concreto, e com a Série Impulsos, blocos de quartzito verde e jaspe polidos sobre colunas de concreto.
No térreo o eixo temático é O Encontro, com obras que provocam uma reflexão sobre o tempo e a necessidade de observação do entorno para garantir a transformação do homem. “Para Amélia Toledo é preciso caminhar, percorrer e atravessar os caminhos que levam ao encantamento”, afirma o curador. Fatias do Horizonte, uma série de chapas de aço inox espelhado de 210 x 130 x 0,6 cm parcialmente oxidadas, e Poços, chapas de aço inox com pedras de diversos tamanhos, são os destaques desse setor.
Em A Passagem, tema do 1º andar, haverá uma profusão de cores, formas, sensações e sentimentos. O princípio desse espaço é que o mundo é um emaranhado de fios e vasos comunicantes translúcidos, espelhados e azuis. O público encontrará caleidoscópios feitos com chapas de aço inox, além da Medusa Azul, estruturas com tubos de PVC recheados com líquidos e óleos coloridos, entre outras obras.
A Memória norteará a escolha das obras do 2º andar, composto por duas salas. O objetivo desse espaço é mostrar que a lembrança da matéria é o caminho para a criação de novas verdades. Alguns dos destaques serão o Glu Glu – Anos 60, uma estrutura de vidro soprado com água e espumantes, a Caixinha do sem-fim / Situação tendendo ao infinito, uma caixa de acrílico contendo oito caixas recheadas com mais oito caixas e assim por diante, o Mundo dos Espelhos, módulos em chapa de aço inox espelhado, recortados e perfurados, e o Poço da Memória, cilindro de fibra de vidro revestido internamente com uma chapa de aço inox polida, com um cilindro menor de acrílico e a inscrição “Lembrei que esqueci”.
Trabalhos com papel, retalhos, fiapos e farrapos estarão presentes no 3º andar, cujo tema é A Luz. Para esse local foram escolhidas obras que resignificam os gestos femininos de lavar, costurar e cortar, subvertendo a condição subserviente da mulher. Entre os destaques estarão as Colagens, sobreposições de papeis de seda de medidas variadas, e Fiapos, feitos com polpa de Iúca, linho, algodão e tela de náilon.
Por fim, os trabalhos do 4º andar promoverão uma reflexão sobre o futuro. Sob o mote O Destino, as obras mostrarão que em um mundo dominado pela indústria da comunicação é preciso construir uma linguagem própria e transformadora, gerando novas percepções sobre a vida. Os destaques dessa seção serão os Discos Tácteis, discos de PVC com líquidos e óleos coloridos, e A Onda, composta por um cilindro de PVC também com líquidos e óleos coloridos.
Nascida em São Paulo em dezembro de 1926, a artista Amélia Toledo frequentou o ateliê de Anita Malfatti (1889 – 1964) e estudou com Yoshiya Takaoka (1909 – 1978) e Waldemar da Costa (1904 – 1982), além de ter trabalhado com desenho de projetos no escritório Vilanova Artigas (1915 – 1985). Sua primeira exposição individual aconteceu em 1957, após um período em Londres, Escandinávia, Holanda, Alemanha, França e Portugal. Ao longo de 60 anos de carreira produziu trabalhos com diversos tipos de materiais, como aço inox, espumas, plástico, vidro e cristais. Entre os destaques estão “Espaço Elástico III”, “IV” e “V” e “Caixas I” e “II”, premiados na 9ª Bienal de São Paulo e a instalação “Caleidoscópio”, montada na estação Brás do Metrô de São Paulo.
Mais informações no site do CCBB-SP. (Carta Campinas com informações de divulgação)