O Ministério Público Federal do Amazonas confirmou nesta sexta-feira (8) à agência Amazônia Real um dos dois massacres em investigação pela Polícia Federal contra índios isolados na Terra Indígena Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas. As mortes por garimpeiros dos índios conhecidos como “flecheiros” aconteceu no mês de agosto no rio Jandiatuba, afluente do rio Solimões, no município de São Paulo de Olivença, na fronteira com Peru e Colômbia.
Para uma das maiores lideranças da TI Vale do Javari, os massacres de índios isolados é resultado do sucateamento das bases de vigilância da Funai na região [promovido pelo governo de Michel Temer (PMDB) que é mantido no governo com o apoio do PSDB] e que é denunciado desse 2016.
“Essas mortes de parentes isolados são resultado do enfraquecimento da Funai na Terra Indígena Vale do Javari, onde mais tem registro de índios isolados do mundo. Os cortes de recursos e o descaso fragilizaram o território e as ameaças aumentaram”, disse Paulo Marubo, presidente da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), em declaração à Amazônia Real.
A outra investigação é sobre as mortes de índios isolados Warikama Djapar, mas não confirmadas ainda pelo MPF. O caso, que aconteceu também na TI Vale do Javari entre os rios Jutaí e Jutaizinho, no mês de maio, foi denunciado por índios da etnia Kanamari. O suspeito de mandante seria um produtor agrícola, como publicou a Amazônia Real nesta reportagem.
Para não prejudicar as investigações sobre as mortes dos índios “flecheiros”, tanto o MPF quanto a PF não informaram à reportagem dados importantes para o entendimento do caso como: quantos índios foram assassinados no ataque e por quais armas, além de quantos garimpeiros estão envolvidos no crime, que pode ser tipificado como genocídio contra uma etnia indígena. Mas, objetos dos índios foram encontrados com garimpeiros por agentes federais. Em um áudio de celular, apreendido, a polícia encontrou relatos de garimpeiros sobre o massacre.
“Confirmamos que houve as mortes dos índios isolados e o MPF e a PF estão investigando”, disse comunicado da assessoria de imprensa do MPF à reportagem da Amazônia Real.
Em entrevista, o procurador da República Pablo Beltrand, autor do pedido de abertura de inquérito à Polícia Federal, disse que “algumas pessoas (garimpeiros) estão sendo ouvidas e há diligências em curso. Não temos como dar detalhes sobre elas, no atual momento, para não atrapalhar a investigação”, afirmou.
A denúncia da morte dos índios isolados “flecheiros” por garimpeiros aconteceu no mês de agosto e foi realizada pela Coordenação Regional da Funai em Tabatinga. Índios ouvidos pela reportagem disseram que o número de mortos ultrapassa 20 pessoas.
Com a confirmação do massacre dos índios “flecheiros” pelo MPF do Amazonas, o caso passa ser considerado a maior tragédia contra indígenas que vivem sem contato com a sociedade nacional da Amazônia brasileira após os assassinatos de 16 índios Yanomami da aldeia Haximu, em Roraima, por garimpeiros que invadiram a reserva para exploração ilegal de ouro, em 1993. Na ocasião, a Funai demorou para confirmar o número de mortes do massacre, que teve repercussão internacional.
Até o momento a Presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai), em Brasília, não confirma o massacre de índios isolados “flecheiros” na TI Vale do Javari. O Ministério da Justiça, que também foi procurado pela reportagem, não se pronunciou ainda. Também não há informação se o Exército brasileiro irá apoiar as investigações, que acontecem em uma região de difícil acesso. Só helicópteros podem pousar e decolar nesta região de floresta densa da Amazônia. (Da Amazônia Real; edição Carta Campinas)
Tragédia sem par! É preciso denunciar ao mundo civilizado esse desgoverno incentivador de genocídio, mormente por se tratar dos verdadeiros donos dessa terra. Muito triste, muito revoltante, muito desanimador!
Exterminar populações nativas para ocupar seus territórios é uma tradição brasileira. Começou no ano de 1500, quando o explorador português desembarcou da caravela e avistou no litoral da Bahia índios que habitavam há séculos as terras anunciadas como recém-descobertas. Hoje homenageado em monumentos e em nomes de ruas, a especialidade do bandeirante foi o genocídio. Entrava nos sertões à frente de uma comitiva armada e buscava populações indígenas. Ao encontrá-las, destruía aldeias, trucidava indistintamente homens, mulheres e crianças e aprisionava os sobreviventes para vendê-los como escravos aos engenhos de cana-de-açúcar. A indiferença ao extermínio dos povos originários foi amparada na Doutrina da Guerra Justa, utilizada pelo conquistador para banalizar a morte dos pagãos resistentes à chegada do progresso. Pagãos, gentios bárbaros ou infiéis eram designados todos os povos que não compartilhavam com o colonizador europeu idioma, religião e costumes e chegada do progresso significava a ocupação de suas terras pelo estrangeiro invasor. A História do Brasil precisa ser revista para revelar interpretações mais verossímeis do que as apresentadas nos livros didáticos, omissos em relação à política genocida praticada pelo Estado Brasileiro contra os povos originários. Índios avistados nos semáforos das cidades brasileiras, pedindo esmolas para garantir a sobrevivência, provam que a tradição continua, porém com versão atualizada. Chegada do progresso significa, hoje, expulsar populações indígenas de suas terras, derrubar a floresta e implantar nelas atividades altamente lucrativas que destroem o meio ambiente e desestruturam a organização social indígena. Quem lucra com a mineração à base de mercúrio que contamina rios e lagos onde os índios pescam e bebem; com o comércio clandestino de madeira e carvão que reduz florestas inteiras a montes de toras e brasas; com a plantação extensiva de milho e soja que abusa dos agrotóxicos e torna o Brasil o maior consumidor de venenos do planeta, e com os projetos de usinas hidrelétricas que são construídas sem respeitar estudos de impacto ambiental e social ?
#sosamazonia #342amazonia #demarcaçãoja #foratemer
Em um “governo” golpista, corrupto e entreguista como este do temer e seus bandidos, infelizmente esperasse tudo de ruim, inclusive o acobertamento do horrível fato ocorrido aos desprotegidos.