Para alguns, a corrupção foi inventada há uns 12 anos quando a fome dos pobres entraram no orçamento do governo federal, mas não é o que indica o livro Ao correr da pena (folhetins inéditos), de José de Alencar (1829 – 1877), que contém oito textos inéditos do autor romântico.
O livro, organizado por Wilton José Marques, docente do Departamento de Letras da UFSCar, traz uma história curiosa sobre um texto em que José de Alencar associa deputados à corrupção.
Na primeira publicação em livro de suas crônicas da sua coluna Ao correr da pena do jornal carioca Correio Mercantil, entre setembro de 1854 e julho de 1855, oito textos ficaram de fora.
A edição daquela época, 1874, José de Alencar ainda era vivo e foi organizada por José Maria Vaz Pinto Coelho, um grande admirador do escritor. Há quase 150 anos, antes da libertação dos escravos.
Segundo Wilton José Marques, José de Alencar teria evitado a publicação de alguns textos. “No livro, além obviamente de apresentar os folhetins, eu faço uma introdução, que intitulei de ‘O enigma dos folhetins’, em que procuro apresentar uma leitura dos textos excluídos e, ao mesmo tempo, mostrar, através do levantamento de vários indícios, que muito provavelmente foi o próprio José de Alencar que pediu a exclusão deste material da edição do livro de José Maria, publicado em 1874″.
O professor da UFSCar exemplifica com um dos textos de Alencar, no qual o escritor cria a figura da máquina-deputado. Esta é movida pelo interesse em vez do vapor. Seu maquinista chama-se ministro, e quando a máquina se enferruja um pouco, aplica-lhe, em vez de azeite, pão de ló (gíria da época para propina).
“Num momento que ele era deputado e tinha sido ministro, ficaria ruim para sua imagem trazer à tona este texto. Daí o motivo de pedir para que fosse omitido”, justifica Marques. O livro custa R$ 42 e pode ser comprado pelo site da EdUFSCar. (Carta Campinas com informações de divulgação)