Por João Augusto Neves
Noite em lágrimas…
CENA 1”
Entregávamos a divulgação da 7ª Semana do Audiovisual Campinas nos arredores da moradia estudantil. Tudo se passava como sempre. Conversas, músicas, drogas e olhares à procura de sexo. Por volta da 1h da madrugada os corpos pediam agasalho.
– Vou ao carro e volto logo. Marcela, você também quer uma blusa?
Era um automóvel sem muito luxo, o possível necessário para uma professora de capoeira. Talvez seus gestos, ou o simples desejo misógino, fizeram os dois rapazes se aproximarem e silenciarem Fernanda com a arma em suas costas.
– Entre no carro!
As mãos trêmulas procuravam a direção. Qual rumo tomar quando se sente a morte sentada a seu lado? Já haviam passado 15 minutos.
– Acho que ela foi ao banheiro.
– Mas seu carro não está no mesmo lugar.
Marcela nota que o celular da amiga estava em sua bolsa – Bom, ela não foi embora – pensou. Outros 15 minutos se passaram, ou mais talvez. As drogas da noite dissolvem o tempo.
O telefone toca. Era a Fer. Estava nua, em lagrimas e olhava para as estrelas na cidade das experiências químicas do interior paulista.
CENA 2”
– Saí daqui!! Por favor, me ajudem.
A casa ao lado também guardava surpresas. Após brigarem, Marcos se trancou no quarto. Quatro fileiras de pó, o bastante para somas estatísticas. Não conseguimos reagir.
Foram duas, mais duas violências orientadas pela misoginia nossa de cada dia.
João Augusto Neves Pires é historiador e membro do grupo de Pesquisa em Música Popular: História, Produção e Linguagem da Unicamp e do Coletivo de Mídia Livre Vai Jão.
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