Por Letícia Della Giacoma
Graviolas suicidas num campo de flores acidulantes e borboletas giratórias, nova obra de Adriana Zapparoli, é construído delicada e provocativamente por superimposições paradoxais de vida e morte, luz e escuridão, prosaico e científico.
O poema em prosa nos chama a olhar de frente as imagens vívidas que contam da materialidade do corpo e da delicadeza do equilíbrio da psiquê. A dicção de Adriana Zapparoli tem precisão cirúrgica: nada sobra, e nada se economiza.
Embalado por uma musicalidade sutil, um ruído branco persistente e impositivo, o texto se desenrola em alucinações, concatenações inesperadas e duras de impressões sobre um recorte de mundo, um instante congelado no tempo — mas sem abrir mão de certa de complacência, espécie de doçura que se flagra nessa sucessão de recortes: “porque todo homem sabe que a felicidade é uma fratura no concreto airado da rotina, entre a sua língua e a minha linha, em máquina de costura, em seus feixes de memórias e descompassos pensantes.”
Em suma, da tensão dos opostos que informam a prosa, germina em Graviola suicidas… uma obra de candura atroz e irrepetível.
Letícia Della Giacoma de França é tradutora, mestre em Literatura (Universidade Federal do Paraná (UFPR) e preparadora de originais, trabalhando principalmente com literatura brasileira contemporânea.