É o que mostra pesquisa coordenada pelo Núcleo de Estudos sobre Desigualdades e Relações de Gênero (Nuderg) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Os dados foram apresentados hoje (29), no Rio de Janeiro, durante o Seminário Internacional Gênero, Trabalho e Família no Brasil: Mudanças e Permanências nas Últimas Décadas.
Segundo a coordenadora do Núcleo, Clara Araújo, o resultado medido em 2016 apresenta avanço em relação a 2003, quando a pesquisa foi feita pela primeira vez. Naquele ano, as mulheres casadas dedicavam 36 horas semanais aos trabalhos domésticos, enquanto os homens dedicavam pouco mais de 11 horas.
“Estamos mostrando que a desigualdade era tão grande – o gap [lacuna] – entre a situação dos homens e das mulheres, voltado para a divisão sexual do trabalho e para essa compatibilização, que percebemos que há impacto e avanço, mas continua sendo bastante desequilibrado”.
De acordo com a coordenadora, há ainda outros indicadores que mostram as desvantagens da mulher no casamento. “Além do número de horas, que é uma mensuração mais objetiva, temos outros indícios relacionados à própria percepção de quem faz as coisas, sobre a percepção de justiça e injustiça, e outro dado que não usamos, que é de felicidade, serve como indicador”.
Clara aponta que 90,8% dos homens e 92,2% das mulheres dizem ser felizes, mas que há uma diferença entre o índice dos homens casados que se dizem felizes em comparação com as mulheres. “Não é entre as casadas que as mulheres são mais felizes, é entre aquelas que dizem trabalhar 40 horas. As mulheres percebem a vida conjugal como uma vida com mais conflitos do que os homens percebem, por causa desse conjunto de elementos”.
As tarefas em que os homens mais contribuem são pequenos consertos na casa (72,3%), lavar a louça (20,5%) e comprar comida (17,4%). Já as mulheres são as principais responsáveis por lavar e passar roupa (82,6%), cozinhar (81,2%) e limpar a casa (76,2%).
Também participante da pesquisa, a professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ) Felícia Picâncio explica que o pequeno avanço se deve a diversos fatores, como o aumento da escolaridade média do brasileiro, da renda, a entrada da mulher no mercado de trabalho e os movimentos feministas que levam a uma mudança cultural, como na relação do cuidado com os filhos.
“Temos uma multicausalidade nesses fatos, inclusive nos fenômenos, que estão tentando dar conta de percepções, valores. Então, temos que pensar numa multicausalidade que parte desse encontro entre experiência vivida e valores normativos societários. São valores menos tradicionais, menos conservadores, mais igualitários, mas não significa que estamos avançando”.
Ao todo, responderam ao questionário 1575 pessoas, em todo o Brasil. (Agência Brasil; edição Carta Campinas)