Por Allan Yzumizawa
Mineira de Sacramento, a artista plástica Pama Loiola fala de sua vida e carreira em entrevista exclusiva.
Pama formou se em Artes Plásticas e Educação Artística, iniciou uma trajetória pela pintura que, com o tempo, ganho tridimensionalidade.
Nos anos 80, viveu em Salvador (BA), onde conta que ganhou liberdade para sua arte. “Comecei a usar matéria sobre a tela, o que evoluiu para o tridimensional. Em seguida pesquisei sobre arte rupestre brasileira e que foi uma fase de muita aceitação”, diz. Veja abaixo entrevista com Pama Loiola.
Allan Yzumizawa: A primeira pergunta é básica, onde você nasceu, qual a sua formação e quando você começou a fazer arte?
Pama Loiola: Eu nasci numa cidade chamada Sacramento no triângulo mineiro. A minha família sempre teve um envolvimento muito forte com a arte apesar de ninguém ter se tornado profissional. Tínhamos diversos instrumentos musicais em casa e eu sempre gostei do fazer artístico, sempre dei valor a isso.
Nasci em 1963 e fiz faculdade de Artes. Me formei em 1975 na UNAERP em Ribeirão Preto. Criada por três professores italianos, a escola era fundamentalmente modernista: eu nunca copiei um vaso de flor. Nunca me falaram para copiar uma forma, então desenvolvi um olhar abstrato puro. Hoje trabalho com imagem, mas o meu olhar vem sempre da abstração, foi um condicionamento. Foram os quatro anos de faculdade assim, depois de formada, participei por cinco anos do ateliê do Pedro Manuel Gismondi em Ribeirão, estudando análise plástica e estética. Além disso, fiz algumas disciplinas de pós-graduação na Unicamp.
AY: Quando foi a sua primeira exposição? Foi em Ribeirão Preto?
PL: Foi! Foi quando eu fazia faculdade, desde 1973. Eram pinturas.
AY: E quando você veio pra Campinas?
PL: Depois de morar oito anos em Ribeirão Preto, nove anos em Salvador. E nas três cidades em que vivi, produzi e participei ativamente da vida cultural de cada local, e percebi o quanto é importante você sofrer influências. O trabalho que fiz em Salvador mudou completamente a forma de produzir e pensar meu trabalho.
AY: Mas o que é que mudou?
P: Aprendi a trabalhar com liberdade. Eu até costumo falar “o que é que a baiana tem?”, acho que é liberdade. Se você não tiver coragem de fazer o que você pensa, se você não tiver coragem de seguir suas ideias, você não vai evoluir. E quando cheguei em Salvador, eu senti essa aceitação. Eu deixei de ser filha de “fulano”, mulher de seu “ciclano”, e tive que correr atrás, e achei ótimo. Quando entendi isso, o trabalho deu uma “guinada” muito grande.
AY: Mas em Salvador você ainda continuava na pintura?
PL: Sim. Mas o trabalho começou a se deslocar da pintura em Salvador. Comecei a usar matéria sobre a tela, o que evoluiu para o tridimensional. Em seguida pesquisei sobre arte rupestre brasileira e que foi uma fase de muita aceitação. Guardei algumas obras desta série para mim e além disso fiz uma exposição no Banco Central do Brasil onde todas as peças foram vendidas. As pessoas se encantam com este tema.
AY: Porque você se mudou pra Campinas?
PL: Por causa do trabalho de meu marido. Viemos no começo de 1990.
AY: Você conhecia a produção de artistas da cidade na época?
PL: Não. Comecei a procurá-los. Visitei ateliês e recebi as pessoas também. Eu tive alunos, montei cursos e expus bastante em Campinas e participei de salões em diversas cidades.
AY: E como a sua produção mudou em relação a Salvador? Conseguiu descobrir novas coisas aqui? Como ela se encaminhou?
PL: A minha obra se transformou em assemblagem a partir do dia em que li uma entrevista do Tàpies com Aurobindo, que é um pensador oriental. Aurobindo diz que o artista deixará de ser uma classe especial de homens e os homens serão todos artistas, a partir do momento em que todos desenvolverem a percepção. Comecei a me dedicar à coleta de objetos. Foi uma fase totalmente nova iniciada há mais de quinze anos.
AY: Mas o legal é que você falou da assemblage divididas em fases que é o olhar, a seleção e a produção do trabalho.
PL: Sim. Na assemblagem estes momentos são essenciais: a coleta e a escolha. Eu guardo os objetos e não sei quando vou usá-los. Temos que ser artista 24h. Usar todos os estímulos em favor da criação. Uma vez a artista Ivoneth Gomes Miessa visitou meu ateliê em Ribeirão Preto. Ela me ensinou a me manter neste estado de atenção. Ela me disse: “Pama, você pode criar até quando refolga o arroz. Veja as cores que aparecem no óleo quente sobre o grão. A vida é um grande laboratório”. Passei a observar mais e a coletar objetos no meu universo pessoal.
AY: E você acha que essas experiências começaram a refletir na sua produção? Quando você começou a produzir trabalhos com a relação da memória?
PL: Sim, reflete e na verdade isso sempre esteve presente. Eu venho de um núcleo familiar muito sólido, e meus pais contam muitas histórias, realmente mineiro é muito cheio de histórias. Meu trabalho é bastante autoral. Por exemplo na pintura: eu retratava famílias, acontecimentos rotineiros, e depois com as assemblages, isso foi tornando-se mais evidente.
AY: É engraçado porque dando uma olhada básica na sua produção, é muito interessante essa relação da memória, mas também esse olhar feminino e materno.
PL: Já me falaram, e gosto disso. Você está vendo aqui? (apontando para um bordado) acho que é coisa de mãe.
AY: Com certeza, agora para encaminhar as últimas perguntas. Se você pudesse mudar algo no passado, o que mudaria?
PL: Olhando hoje, eu percebo que eu seria uma artista mais completa se eu tivesse optado somente pela arte. Apesar do conteúdo do meu trabalho vir todo desse meu relacionamento familiar, optar por ter uma família inteira, ser mãe inteira, ser artista inteira é uma loucura. Eu acho que travou em algum lugar. No momento em que precisava estar em outras cidades, desenvolvendo o meu trabalho, eu estava amamentando. Mas eu não me arrependo. Não tenho o que reclamar.
AY: E se você pudesse projetar um futuro? Independente se esse futuro possa ser um dia, um mês ou um ano, o que você projetaria?
PL: Eu gostaria que meu trabalho fosse registrado. Que servisse para algo e não ficasse somente pendurado na parede de alguém. Eu queria que as pessoas tivessem acesso ao meu processo criativo. Que um dia ele fosse registrado academicamente.
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