Educador popular, defensor da agroecologia, militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e morador da Comunidade Quilombola de Jiboia, município de Antônio Gonçalves, na Bahia, José Raimundo Mota de Souza Júnior foi assassinado na tarde desta quinta-feira (13).
Júnior do MPA, como era conhecido, foi morto a tiros enquanto trabalhava no campo com um irmão e um sobrinho, que conseguiram escapar com vida. De acordo com vizinhos, os assassinos o procuraram primeiro em sua casa, e depois seguiram para a roça. Veja outro caso absurdo.
O corpo foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) em Juazeiro, para exames de balística, e será velado na tarde de hoje. Para lideranças locais e do MPA, trata-se de repressão à luta e à organização. Há pouco mais de um ano, João Bigode, outra liderança do movimento na região, foi assassinado a balas.
Júnior do MPA é o 47º trabalhador rural assassinado nos primeiros sete meses de 2017. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a tendência é que o ano entre para a história como dos mais violentos para os trabalhadores camponeses.
Conforme estatísticas da Comissão, compiladas desde 1990, o ano mais violento foi 2003, com 73 assassinatos. De 2004 a 2014, o número não havia ultrapassado a marca anual de 39 mortes, mas voltou a aumentar em 2015, quando foram assassinados 50 camponeses. No ano passado, foram 61.
A Comissão Pastoral da Terra (CPT) Centro Norte, Diocese de Bonfim, no estado da Bahia, divulgou nota de repúdio. (Da RBA)
Confira:
“Ouço o sangue do seu irmão, clamando da terra por mim” (Gênesis 4, 10)
No atual contexto de aumento significativo da violência no Campo, é com profundo pesar e indignação que a Comissão Pastoral da Terra Centro Norte, Diocese de Bonfim, na Bahia, vem através desta denunciar o brutal assassinato do jovem militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), José Raimundo Mota de Souza Junior, 38 anos, casado, filho caçula de uma família de dez irmãos, da comunidade quilombola Jibóia, município de Antonio Gonçalves, Bahia.
De acordo com familiares, ontem (13/07/2017), por volta das 16h, enquanto Junior trabalhava na roça junto com um dos seus irmãos e sobrinhos que se encontravam mais distantes, foram surpreendidos por um carro preto com quatro homens armados que já desceram atirando em Junior. Ao mesmo teve a cabeça esmagada, sendo atingido por mais de dez tiros, enquanto seu irmão foi agredido com socos, sendo obrigado a se deitar no chão, pisoteado na cabeça, sob ameaça de também ser morto caso se movesse. Segundo informações, os assassinos saíram atirando para cima e fugiram com tranquilidade.
Junior compunha a coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores na Bahia, participou do Curso de Formação Liderar e de Juristas Leigos, contribuindo há anos com a luta pela regularização do território quilombola da sua comunidade.
Após o assassinato de “João Bigode”, comunidade quilombola de Santana, também no município de Antônio Gonçalves, no dia 15 de abril do ano passado, Junior ficou um pouco afastado das atividades do movimento, se dedicando mais ao trabalho na roça e a luta da comunidade.
Os familiares estão aguardando a liberação do corpo para definir o horário do sepultamento.
Que Deus conforte os familiares, amigos, companheiros e companheiras de luta.
Por este jovem lutador do povo ceifado cruelmente e por tantos outros(as) mártires da terra, clamamos por justiça e até que isso ocorra, não haverá nenhum momento de silêncio.
Exigimos das autoridades responsáveis medidas urgentes para investigação de mais este crime e punição dos culpados!
Comissão Pastoral da Terra Centro Norte, Diocese de Bonfim-BA.
Senhor do Bonfim-BA, 13 de julho de 2017
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