Por Verônica Lazzeroni
Diante de desafios, cursinhos populares têm a chance de oferecer oportunidades ao futuro de jovens de baixa renda que frequentam as escolas públicas regulares.
Atuar como voluntariado está além do que apenas ceder o próprio tempo para a prática de uma atividade instrutiva ou de cuidados direcionados. É necessário esforço e conhecimento de que há, infelizmente, pouca ou quase nenhuma preocupação da sociedade e políticas públicas com causas como essas. “Não é interessante para o mercado, do ponto de vista do capital e de uma política neoliberalista, investir em educação e projetos sociais que prestigiem ou beneficiem o povo e sua camada mais pobre”, diz Pablo Silva, estudante de biologia e voluntário, desde 2016, no cursinho popular Cescon – uma organização não-governamental ligada a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac) da Unicamp e que está comprometida em oferecer oportunidade de estudo aos alunos de baixa renda do Ensino Público Regular.
Assim como Pablo, muitos outros voluntários reconhecem a dura realidade que práticas sociais como o cursinho pré-vestibulinho (localizado em Barão Geraldo) enfrentam. O projeto, que conta com alunos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realiza processos seletivos tanto para estudantes como para os professores. “Todo início do ano, é aberto um edital de processo seletivo para alunos que estão cursando a 9ª série do Ensino Fundamental da rede pública de Ensino (…) O processo seletivo leva em consideração as notas e aproveitamento do aluno na 8ª série do Ensino Fundamental”, conta uma das coordenadoras da causa social, Elaine Cristina de Moraes, que atua no projeto desde 2016.
Além do pré-requisito do desempenho do aluno, uma avaliação socioeconômica é também realizada, garantindo a eficiência da causa; atender jovens de baixa renda e que desejam ingressar em escolas técnicas.
Embora o projeto tenha recebido um número muito grande nos últimos dois anos – em 2013 contava com somente 27 alunos e atualmente são 120.
A coordenadora Elaine ressalta que os alunos também enfrentam muitos obstáculos que culminam na desistência da vaga. “Muitos alunos, desistem do cursinho por causa da falta de dinheiro para chegar até o Cescon”, diz ela justificando que há alunos de outras cidades e de bairros distantes.
Com relação a seleção de professores voluntários, a avaliação dos estudantes – realizada ao longo do período letivo – e também entrevistas com universitários da Unicamp que se cadastram a uma bolsa SAE são realizadas e por fim a coordenação pondera e decide quais estão mais aptos a participarem do projeto. Mesmo sendo uma causa muito louvável, a coordenadora destaca a dificuldade que o Cescon – ou outros projetos voluntários – enfrentam, pois muitos desistem diante do desafio.
Apesar dos incontáveis motivos que podem desmotivar o trabalho do cursinho popular, há obviamente o reconhecimento por parte dos alunos e a experiência gratificante para quem participa do projeto. “Poder contribuir com o que tenho aprendido na universidade é bem gratificante. Sei que vai fazer diferença esse conhecimento na vida dos alunos”, comenta a voluntária Bruna Pereira que atua no Cescon desde 2015. “Penso que, por ser professor em tal cursinho, consigo retribuir à comunidade, a educação que recebi através das mesmas escolas técnicas estaduais, nas quais estudei e, agora, na universidade estadual”, acrescenta Pablo Silva.
Além disso, Bruna Pereira destaca outro importante fato. “O Cescon, por exemplo, além de um cursinho pré-vestibulinho, é uma organização comprometida com a formação humana dos seus alunos e demais participantes do projeto”.
Contando com a ajuda da Igreja Presbiteriana de Barão Geraldo, aulas de cidadania são oferecidas aos alunos, melhorando as relações sociais e discussões de temas que contribuam para a formação quanto indivíduo. “Para isso, o cursinho conta com aulas e palestras específicas para abordar temas que visem a melhoria da qualidade de vida dos alunos”, diz Bruna.
E por que não ousar e adentrar em questões comportamentais, afinal, a voluntária comenta sobre os considerados alunos “problemas” pelas escolas, mas que ao participarem do projeto Cescon e, consequentemente mudarem hábitos e rotinas de estudo, apresentam melhoras relevantes no desempenho nas escolas regulares. “Conforme as aulas no cursinho vão passando, os próprios alunos vêm nos mostrar a melhora em seus boletins. Isso nos deixa extremamente felizes e motivados”, diz Bruna Toledo.
Para a coordenadora, diante dos desafios e as aprovações satisfatórias em colégios técnicos, o cursinho popular Cescon, como tantos outros que se empenham e conseguem oferecer o material didático e o ensino capaz de transformar o futuro de adolescentes, não restam dúvidas de que a motivação em oferecer oportunidade de mudanças é tão importante quanto a efetiva transformação no que há por vir na vida de tantos jovens que aproveitarão a chance de continuarem estudando. “A motivação é o que move projetos como esse (…) melhorar a vida de outra pessoa é muito gratificante”, diz Elaine de Moraes.