Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST
Uma das vítimas relatou que se trata de uma emboscada e que os 300 Sem Terra presentes estavam desarmados. “O administrador da fazenda insistiu por uma reunião e nós acabamos aceitando. Ao chegar à cancela fomos recebidos a bala por cerca de dez jagunços. Eles atiraram sem dó e nem piedade. Tinha crianças, idosos, grávidas. Nós vimos o dono da fazenda no lugar. Pedimos pra não atirar. Abaixamos pra não sermos baleados, foi uma covardia”, conta Géssica Thais Gonçalves Freitas, de 24 anos, que levou um tiro na perna.
Entre os feridos estão Fabrício Alvins Lima, baleado na barriga, de 31 anos, e Vildomar Oliveira Gomes, também de 31 anos, baleado no pescoço. Outras pessoas foram feridas com tiros de raspão, entre elas uma criança de dez anos, ferida no rosto. A polícia militar está no local colhendo depoimentos dos envolvidos.
A ocupação
A fazenda, de 3 mil hectares, era improdutiva, foi ocupada em janeiro deste ano e pertence ao grupo Soebras, da família Andrade. Atualmente há 650 famílias acampadas no local, já produzindo.
Acampamento Alvimar Ribeiro.
Leonardo Andrade, sócio do ex-prefeito de Montes Claros, Rui Muniz, se identificou como proprietário e se dispôs a vender as terras ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Este deveria destiná-las à criação de um assentamento, no entanto, a morosidade do Instituto permitiu o acirramento do conflito instalado. [Ruy Muniz ficou famoso após ser preso após impeachment de Dilma Rousseff]
Para Ênio Bohnenberger, da Direção Nacional do MST, tais conflitos são causados pela falha do Estado. “A violência no campo se alastra na medida em que o Estado se omite em relação à Reforma Agrária. Mas atualmente, a situação é muito pior, pois é promovida pela aliança entre o Governo Golpista de Michel Temer e as bancadas da bala e do boi”, analisa o dirigente.
A sociedade entre Leonardo Andrade e Ruy Muniz
A Soebrás é uma das várias entidades filantrópicas ligadas a Ruy Muniz, que estão sob investigação por desvio de recursos federais e da prefeitura de Montes Claros. O ex-prefeito e alguns de seus sócios foram já foram detidos em 2016. Um deles é Leonardo Andrade, que ocupava o cargo de secretário de Desenvolvimento Sustentável, Meio Ambiente e Agricultura na prefeitura.
Existem indícios de que a fazenda era utilizada pelo ex-prefeito de Montes Claros (MG), Rui Muniz e seus sócios, para lavagem de dinheiro. A área possui uma dívida milionária no banco, foi arrematada pelo grupo Soebrás (Sociedade Educativa do Brasil), porém, nunca foi paga.
Ruy Muniz foi preso em 2016 no dia seguinte à votação do impeachment da Presidente Dilma Roussef. Na ocasião, sua mulher Raquel Muniz, deputada, dedicou o voto à integridade moral do marido afirmando que “o Brasil tem jeito e o prefeito de Montes Claros mostra isso para todos nós, com sua gestão. Por isso eu voto sim, sim, sim”.
Atualmente ele responde a processo, acusado de estelionato, falsidade ideológica, prevaricação e desvio e|ou apropriação de recursos públicos. (Do MST)